PARTE CINCO

PARTE CINCO

Levou consigo as duas filhas.

Assim, por uma semana, não se ouviu falar em dona Marina.

Totalmente mudada, ela surgiu em casa, e perguntada do porquê de tal mudança, preferiu fazer um convite para que tanto Renato e Marisa, quanto seu Jaime e o filho, fossem participar de uma "palestra", na tal igreja.

Como Renato queria fazer uma média com a sogra, e estava cheio de curiosidade, aproveitando que Marisa havia se prontificado a ir, aceitou o convite.

Ás 8h00 do domingo, lá estavam todos, menos as meninas que já haviam ido, e preferiram ficar com o sobrinho Eduardo em casa.

-Só vim para não criar encrenca, resmungou seu Jaime.

Lá dentro todos eram só sorrisos, parecia que já se conheciam de longa data.

Seu Jaime e Renato, claro sempre com um olho no peixe e outro no gato, estavam na defensiva, prontos para detectar algo errado.

Mas não havia nada de errado, pelo contrário, aquela palestra baseada na Bíblia, falava de coisas que iam de encontro com o que Renato sempre acreditara, mas que não havia encontrado na sua religião.

A primeira parte da palestra se estendeu até mais ou menos 13h00, quando então pararam para almoçar.

Uma comida leve, a base de legumes e verduras, nada de carne ou qualquer tipo de ave.

Depois do almoço, já cansados, Renato e seu Jaime que tinham o costume de tirar uma soneca depois do almoço, só tinham um pensamento:

Ir para casa para assistir um jogão de bola pela TV.

De repente, no meio da palestra veio a bomba.

...e assim, através deste paralelo histórico, podemos afirmar que o Messias já se encontra entre nós...

-Hein? Como? Ele está aqui agora nesse mesmo teto? Perguntou Renato.

-Não, aqui não, mas se quiserem saber mais detalhes, vocês terão que participar de um seminário de sete dias, que começa a partir de domingo que vem, convidou o palestrante.

Passou até a vontade de ir ver o tal jogo na TV.

Marisa se apressou em aceitar o convite e Renato foi no embalo. Queria saber mais sobre aquele novo Jesus Cristo.

Ficou combinado com os sogros que enquanto estivessem no seminário, eles cuidariam de Eduardo.

A cada dia Marisa e Renato se encantavam mais com as revelações que estavam recebendo e isso de alguma forma compensava a saudade que estavam sentindo do filho.

Ao final do seminário veio o convite:

- Vocês aceitam ficar como membros internos na Igreja?

Marisa rapidamente aceitou.

Renato perguntou em que implicaria essa aceitação, e diante da resposta de que iriam ter que deixar Eduardo com os parentes, Renato ponderou que ainda não era a hora de tomar tal decisão, pois, o menino que ainda não tinha um ano de idade precisava dos pais ao seu lado.

-Como não é o momento, retrucou Marisa, estamos na casa de meus pais vivendo de favor, você com um emprego que mal dá para nos manter, e você diz que não é o momento?

Temos a chance de ajudar a consertar este mundo cheio de problemas e de falta de fé, e eu acho que em nome disso tudo, vale a pena ficarmos separados por um tempo de nosso filho.

Sem poder de ação, ou por fraqueza de opinião, Renato acabou acatando seus argumentos, talvez mais por medo de perdê-la e com certeza a seu filho.

Quando expuseram toda a situação aos pais de Marisa, seu Jaime não acreditou.

-Como é que é? Então vocês vão embora para uma igreja que mal conhecem deixando seu filho conosco.

-É só uma experiência que vamos fazer seu Jaime, tenho certeza que logo estaremos com o Eduardo novamente.

-Vocês são dois loucos, respondeu.

-Calma, Jaime, interpelou dona Marina. Eu sei que eles se darão muito bem lá. Depois, qual é o problema de ficarmos com o Eduardo?

-Prá mim problema nenhum, disse ele, apenas acho que o filho tem que ficar com os pais.

Mesmo a contragosto Renato foi com Marisa para a Igreja.

Lá entenderam o porquê da não permissão para que o filho estivesse junto.

Devido às constantes viagens que fariam para outras cidades, seria impossível ficar com Eduardo.

Renato descobriu lá dentro outra situação mais difícil de ser aceita:

Teria também que ficar separado de Marisa, fisicamente falando.

Essas regras e dogmas seriam entendidos apenas mais tarde.

Sabendo que Renato tinha tido experiência como diretor de teatro, convidaram-no para escrever e dirigir peças para serem apresentadas a cada final de seminário.

Peças de cunho religioso, claro.

Marisa também estava feliz em poder contribuir, e ajudava Renato na composição das peças onde também atuava.

Tudo parecia transcorrer conforme Renato havia previsto.

Todos os domingos, dona Marina ia para lá e levava Eduardo, além das filhas.

Seu Jaime raramente aparecia, e quando o fazia era apenas para fazer algum serviço de manutenção na igreja.

Assim tinha dias na semana em que ele aparecia por lá a convite do presidente para fazer uma reforminha daqui e outra dali sempre com a ajuda de Renato.

Mas sempre resmungava:

-Estou vindo porque é para fazer algum serviço, mas sem essa de querer me trazer para ficar aqui, senão nem venho mais fazer nada.

Apesar de resmungão tinha um coração de ouro e nunca se negava a nada que lhe pedissem.

Renato já havia se acostumado com o fato de não ter contato físico com Marisa, e pelo jeito ela também.

Missão em Curitiba

Mas um convite para que fosse para a Igreja de Curitiba, mudaria toda aquela situação.

-Estamos precisando que você vá para lá pois temos uma pequena fábrica onde fazemos quadros negros para os missionários e pastores que estão em outros Estados, e queremos que você vá ajudar nessa fábrica, disse o presidente da Igreja.

-Mas, eu irei sozinho, e a Marisa e meu filho?

-Você não pode ser egoísta e pensar só em você. Temos um propósito muito grande de construção de um novo mundo, onde os sentimentos são o que menos importa.

Renato quis discordar, mas, ele completou.

-Lembre-se o que disse Jesus: "Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim", além do mais, essa separação faz parte de seu crescimento espiritual.

Mas que igreja é essa que coloca os sentimentos das pessoas em segundo plano, e afirma que seguir Jesus Cristo é mais importante do que a família?

Para Renato que ainda não concebeu muito bem a ideia e os dogmas da nova religião é muito difícil aceitar.

Adão e Eva e o Princípio da Criação

Aqui vamos dar uma pausa para conhecer um pouco dessa nova e estranha religião.

Seu ensinamento é baseado na Bíblia Sagrada, o qual parte do princípio de que o homem, a maior criação de Deus, ao comer o fruto proibido, quebrou o elo que o ligava a Ele, sendo expulso do paraíso, e desde então vem tentando voltar através da religião que em latim significa religare. Ligar o que foi desligado.

O homem foi desligado de Deus.

Procura também mostrar o conteúdo real da Bíblia, dissecando simbologias e parábolas nela contidas, mostrando entre outras coisas que o Pecado Original está relacionado com o ato pecaminoso praticado entre a serpente, Adão e Eva e que através de seu real entendimento acontecerá o mundo ideal projetado por Deus, pelo verdadeiro amor na família, na nação e no mundo.

Lúcifer o arcanjo, era para Deus, o mesmo que um capataz é para o fazendeiro, ou seja, o seu braço direito na construção de todo o Universo.

Ladeado por outros arcanjos, comandava todos os anjos do céu.

Sentia-se o mais amado, o predileto, o mais importante para Deus, e achava que essa condição jamais mudaria.

Mas Deus criou o homem à sua imagem e semelhança (Gênesis 1-26), em seguida criou a mulher (Gênesis 1-27), e passou a amá-los dando a eles o domínio sobre toda a criação, incluindo-se aí os arcanjos e anjos.

Em (Gênesis 2-15,16,17), Deus ordena que Adão e Eva cultivem e guardem o Jardim do Éden, e que comam de todos os frutos das árvores mas recomenda que não se aproximam da Árvore da Ciência (conhecimento) do Bem e do Mal pois do contrário morrerão.

Ora, Lúcifer que desde a criação do homem, remoía seu ciúme pelos cantos do Jardim, por achar que Deus o havia abandonado em seu pleno amor, começa a arquitetar um plano para tentar mudar aquela situação. Afinal de contas ele estava com Deus desde o princípio e não era justo a seu ver que dois novatos tomassem seu lugar no coração de Deus.

Assim, protagonizando a primeira cena de ciúme da história da humanidade, e sabedor do mandamento que Deus havia dado, ele começa a rondar Eva afim de seduzi-la, mostrando que o fruto da Árvore da Ciência do Bem e do Mal, nada mais é do que uma forma de impedir que eles tenham conhecimento sobre todos os segredos de Deus para a criação do universo (Gênesis 3-5).

Curiosa. Eva prova do fruto e um turbilhão de imagens surge em sua mente, mostrando como Deus havia concebido o mundo, misturando passado e futuro, deixando-a amedrontada.

Não suportando a série de informações que acabara de adquirir, corre para Adão para que ele a ajude, e faz com que ele também coma do fruto proibido.

Seduzido, Adão descobre que ambos estão nus (Gênesis 3-6).

No livro do Gênesis em duas passagens: (3-14,15 e 3-24), Deus amaldiçoa a serpente e a expulsa do paraíso junto com Adão e Eva e os anjos que não guardaram o mandamento, colocando querubins armados com espadas de fogo à porta do paraíso, impedindo-os de voltarem.

Aqui cabe uma pergunta:

Que fruto era esse que se comido era capaz de causar a morte.

Se morreram serpente, Adão e Eva como se explica que eles foram expulsos vivos para fora do jardim?

Muitas religiões acreditam tratar-se mesmo de um fruto literalmente falando.

Ora, se era um fruto por que então, eles não esconderam suas bocas, como normalmente o fazem as crianças que assaltam um doce na geladeira e sendo pegos pela mãe, a primeira atitude é levar a mão à boca par tentar esconder o que estão comendo?

Adão e Eva ao contrário, ao descobrirem-se nus, cobrem suas partes íntimas com folhas de figueira entrelaçadas, como está escrito em (Gênesis 3-7).

Daí se chega à conclusão de que o fruto a que se refere a Bíblia é na verdade a prática de um ato de amor ilícito.

As Bíblias mais antigas narram essa passagem como sendo um ato de fornicação.

Ato este praticado pela serpente, Eva e Adão.

Bem fornicação ou ato sexual, se pratica a dois, mas como explicar que a serpente que na verdade é Lúcifer e que como anjo é um ser espiritual, possa se relacionar carnalmente com pessoas físicas?

Aqui cabe uma outra explicação:

No início sem o conhecimento do Bem e do Mal, o relacionamento entre seres espirituais e seres físicos era possível, pois assim como temos nossos cinco sentidos físicos: visão, audição, tato, paladar e olfato também o temos em nosso ser espiritual, mas que devido à queda do homem pelo não cumprimento do mandamento, estão adormecidos.

Assim apenas raramente nos é possível que um dos nossos sentidos espirituais se abra numa fração de segundos.

Quantos de nós já não ouvimos alguém nos chamar sem que não haja ninguém no local onde estamos, ou sentimos o cheiro de um perfume, onde também não tem ninguém, ou um toque arrepiante em nosso corpo?

Só homens de pureza de alma têm esse privilégio.

Veja-se sobre isso em (Mateus 17-3), onde Jesus fala com Elias no Monte da Transfiguração.

Então um relacionamento físico com um ser espiritual é possível sim, desde que seja puro. Coisa que o eram Adão e Eva lá no começo da história da criação.

Dadas as explicações vamos voltar ao tema.

Caim e Abel

Fora do Paraíso, Eva concebeu e deu à luz Caim e depois Abel.

Em (Gênesis 4-1,2), está escrito que enquanto Caim cultivava o solo, Abel se tornava pastor de ovelhas e em (Gênesis 4-3,5), a Bíblia conta que Deus aceitou as ofertas de Abel, porém não quis as ofertas de Caim, provocando nele o mesmo sentimento de ciúme que havia levado Lúcifer a cair em tentação.

Caim entendia que por ser o mais velho e por direito de primogenitura tinha que ter as suas ofertas aceitas, e tudo que Deus oferecesse em troca, deveria oferecer a ele e não ao irmão mais novo.

Deus nota Caim irado e de semblante caído (Gênesis 4-6) e logo a seguir mata seu irmão (Gênesis 4-8).

Depois de ter tomado a difícil atitude de expulsar Adão e Eva do Paraíso, colocando à porta querubins para que estes não pudessem retornar, ainda assim Deus abre uma brecha para que o homem se redima e volte a Ele, trabalhando nas figuras de Caim e Abel.

Porém para sua imensa tristeza novamente o homem falha.

A Arca de Noé

Mas Deus não é um Pai de maldade e quer a todo custo que seu filho retorne (como um pai que mesmo tendo um filho rebelde, ainda assim o perdoa e o aceita de volta em seu lar.

Então Ele vai trabalhar com outra família, em outra época.

Noé, filho de Lemec, gerou Sem, Cam e Jafet (Gênesis 5-28,32).

A corrupção no mundo era grande, e Deus chamou Noé e deu-lhe a missão de construir uma Arca, pois iria aniquilar todo o povo corrupto. (Gênesis 6-17).

Disse a Noé: "Mas tu, teus filhos e tua mulher, junto com um casal de cada espécie de animal, entrará na Arca" (Gênesis 6-18,21).

Veio o dilúvio, e nele todo ser vivente que não se encontrava na Arca pereceu.

Por quarenta dias e quarenta noites a chuva caiu torrencialmente (Gênesis 7-17), e as águas cobriram a terra por cento e cinquenta dias (Gênesis 7-24).

No (Gênesis 8-1), a Bíblia conta que Deus fez soprar um vento forte sobre a Terra e as águas baixaram. Então a Arca parou sobre as montanhas do Ararat (Gênesis 8-4).

(Gênesis 8-7,8,9,10,11), Noé solta um corvo que sobrevoa até que as águas sequem. Sete dias depois solta um pombo que voa e volta, indicando que ainda não há terra firme para pousar.

Passam-se mais sete dias e mais um pombo é solta que volta à Arca com um ramo de oliveira no bico. Mais sete dias depois e outro pombo é solto que voa e não retorna mais. Agora sim, a Terra havia secado por completo.

No Livro do Princípio Divino ou Novíssimo Testamento, o corvo está representando o Mal que tomou conta da Terra na figura do Arcanjo Lúcifer, os anjos, Adão e Eva, expulsos. Daí o seu não retorno à Arca, que está representando o Paraíso.

O primeiro pombo solto representa Caim e Abel no projeto de Deus de trazer seus filhos novamente para Si. O fato de ela retornar a Arca significa que houve falha nessa tentativa, pela inveja de Caim que resultou na morte de Abel.

O segundo pombo representa Jesus Cristo, filho perfeito de Deus, que vem com a missão de tirar os pecados do mundo. Porém ele é crucificado. O ramo de oliveira representa o local onde Jesus fez sua última oração.

O terceiro pombo representa a vinda do Senhor do Segundo Advento, ou seja, o Salvador agora vem para conseguir o intento de seu Pai, por isso o pombo não retorna, mostrando que agora os pecados do mundo realmente foram tirados.

Após certificar-se de que as coisas estavam sob controle, Noé desembarca todos os animais e também sua família.

Tudo transcorre em paz, e Noé e a família passam a viver do cultivo de uvas, fabricando os melhores vinhos (Gênesis 9-20).

Numa tarde de muito calor, depois de chegar das vinhas, cansado e com sede, Noé bebe algumas canecas de vinho deita-se nu e adormece (Gênesis 9-21).

Em seguida Cam entra na tenda e ao ver o pai com suas vergonhas à mostra, corre para fora e vai contar aos irmãos que de costas, cobrem o pai sem ver sua nudez (Gênesis 22-23).

Ao acordar, Noé fica ciente do ocorrido e amaldiçoa Cam, junto com seu filho Canaã, bendizendo a Sem e Jafet (Gênesis 9-24,25,26,27).

Ainda segundo o Novíssimo Testamento, Deus colocara ali sua providência para que Noé e Cam restabelecessem o elo de ligação para com Ele, e assim o homem pudesse finalmente voltar ao Jardim, invertendo a situação anterior na qual Caim, o filho mais velho, havia falhado, visto que agora o trabalho estava sendo realizado na figura do próprio Cam (filho mais novo).

Observe-se que ao levar o fato ao conhecimento dos irmãos, Cam cometeu o mesmo erro que Eva cometera ao levar seu conhecimento do Mal a Adão. Isso chama-se multiplicação do Mal (o que hoje chamamos de fofoca maldosa que pode prejudicar alguém).

Se simplesmente ele tivesse coberto o pai sem estardalhaço, a providência estaria ali naquele momento, restaurada.

Preparação para a vinda de Jesus Cristo

Na história Deus tentou restabelecer a ligação com o homem através de outras figuras centrais, Abraão, Moisés mas falar sobre todos eles seriam necessárias horas e horas de escritos. Porém cabe aqui uma explicação a respeito de Jesus, já que ele é a principal figura central desse contexto.

Depois de toda a preparação para que Jesus fosse concebido pelo poder do Espírito Santo, a desconfiança de José para com Maria, a luta de João Batista, seu primo no deserto, comendo gafanhotos e mel silvestre, como forma de se preparar para recebê-lo como o Messias, Jesus chega para por abaixo todos os conceitos e ensinamentos do Velho Testamento onde já não haveria o olho por olho, dente por dente e sim a Lei do Perdão do Novo Testamento, pregações onde ele pede que os mortos enterrem seus mortos, e que ele é o filho de Deus, enfim, palavras que aos ouvidos dos leigos da época, soavam como blasfêmias, fazendo com que os senhores da "verdade" se rebelassem.

Jesus é julgado e condenado. O povo o troca pelo ladrão Barrabás, crucificando-o e ele morre na cruz.

Morre para nos libertar de nossos pecados.

Mas nós não fomos salvos. Não da maneira como Deus havia planejado, pois se realmente sua morte nos tirou os pecados, como explicar que ainda continuamos fora do Jardim e porque quando nascemos já trazemos o bônus do Pecado Original?

Por que continuamos desligados de Deus e nossos cinco sentidos espirituais continuam fechados, e tememos a morte e o sobrenatural?

Se sua morte e ressurreição nos ligou a Deus, porque ainda precisamos de religião?

Essas são questões que o Livro Princípio Divino ou o Novíssimo Testamento vem explicar.

Na verdade, na providência de Deus a morte de Jesus Cristo foi mais uma tentativa falha na intenção de trazer o homem de volta ao seu lar original como acontecera com Caim e Abel, Noé e Cam.

Ainda segundo o Princípio Divino sua morte se deu pelo fato de João Batista ter falhado em sua missão ao mandar dois de seus discípulos perguntarem a Jesus se ele de fato era o Messias (Mateus 11-2,3).

Logo ele, o filho de Malaquias, portanto respeitadíssimo, fazendo com que os seguidores o confundissem até com o próprio Messias.

Ora, se Deus fez toda essa preparação com João para que ele parasse de batizar nas águas no exato instante em que o Espírito Santo indicasse aquele que viria batizar em seu nome, ele simplesmente deveria tê-lo feito sem questionar.

No entanto João Batista continuou batizando com água do outro lado da margem do rio.

Isso fez com que o povo ficasse confuso quanto a quem realmente seguir (Lucas 3-15).

Em (Mateus 11-4 a 15), Jesus diz aos dois discípulos de João "Ide e dizei a João Batista que o menor no Reino dos Céus é ainda maior do que ele".

Muitas religiões apregoam que Jesus está glorificando a humildade de João Batista, mas a verdade é que Jesus já sente que João falhou e que também sua falha em salvar a humanidade é eminente.

O Senhor do Segundo Advento

Por isso é necessária a Segunda Vinda, mas não como o Cristo que conhecemos, mas outro que não venha em nuvens de glória, como todos esperam.

Seria muito fácil aceitar o Messias se ele viesse nessas condições e até o pior pecador se redimiria no ato para garantir seu lugar no céu.

Não, o Senhor do Segundo Advento não virá em nuvens, e muito menos gerado do Espírito Santo, mas nascerá da Terra como um homem comum, sem os milagres que Cristo trouxe em sua época.

Virá para restabelecer todas as coisas perdidas e tiradas de Deus no momento da Queda do Homem (desobediência ao mandamento), dotado de grande inteligência e poder para arrebatar as massas.

Ainda segundo o Novíssimo Testamento que vem colocar por terra todo o ensinamento do Velho e do Novo Testamento, através de um paralelo histórico, esse Messias já está entre nós, e prega através da mídia um novo caminho de volta ao Paraíso não apenas aos pobres, mas também para toda a camada alta da sociedade.

No Novíssimo Testamento ou Princípio Divino, o novo Messias disseca todas as parábolas e simbologias contidas na Bíblia Sagrada revelando coisas surpreendentes, pois acredita que agora o homem está preparado para essas revelações, diferente da época de Jesus que disse "Se falo das coisas terrenas e vós não acreditais como falar das coisas de meu Pai que está no Céu"? Numa clara alusão de que o povo ainda não estava preparado para ouvir toda a verdade.

A vida do Reverendo Moon

Porém, assim como Jesus fora perseguido em seu tempo por suas pregações, agora também a Igreja de Unificação do Reverendo Moon, é perseguida sendo vítima de apedrejamentos e críticas dos meios de comunicação.

Como se não bastasse, o Reverendo Moon é conhecido como fervoroso anticomunista, por ter sofrido as consequências da guerra entre Coréia do Sul e Coréia do Norte, guerra esta que se iniciou em 1950 quando o Japão perdeu, o que fez com que acabasse o regime colonial que existia desde 1910, acarretando em que houvesse uma divisão pois ficara acertado durante a guerra que a União Soviética aceitaria a rendição do Japão ao norte e os Estados Unidos ao sul do paralelo 38.

Os soviéticos apoiaram a criação de um Estado Comunista, e, no sul foi criada uma administração de ocupação norte-americana, mas ambos ambicionavam reuni-los sobre seu domínio.

Foi quando em 1950 os norte-coreanos atacaram o Sul, empurrando as forças sul coreanas e do E.U.A. para Pusan.

Entre os prisioneiros de guerra estava o Reverendo Sun Myung Moon (trecho tirado do livro Mundo Unificado, de março/abril - 1981).

O Reverendo Moon nasceu na Coréia do Sul em 20 de janeiro de 1920 vindo de uma família de fazendeiros convertida ao cristianismo. Viveu sua infância e adolescência em um ambiente de grande religiosidade, tendo muito cedo despertado para o sentido de fé e para as questões referentes a Deus e seus desígnios.

Na manhã da Páscoa de 1936, estando em profunda oração no topo de uma montanha, Jesus lhe apareceu e revelando seu propósito e o curso de sua vida pediu ao jovem que completasse sua missão, tornada incompleta por sua morte na cruz.

Através de extremos esforços, em um curso de 9 anos de sofrimento e perseverança, o Reverendo Moon pode entrar em contato com Deus e com os santos e sábios no mundo espiritual, para encontrar a resposta última às profundas questões que, ao longo dos séculos têm afligido a humanidade:

Qual a origem do homem?

Qual a finalidade de sua vida?

Qual é a verdadeira relação entre Deus e o homem?

O que são o Bem e o Mal?

Qual a origem do sofrimento humano?

O Princípio Divino, revelado pelo Reverendo Moon, apresenta a resposta a essas questões.

Portador da Nova Mensagem de Deus para o nosso tempo e encarregado de libertar a humanidade da opressão, da ignorância e do sofrimento, construindo um mundo onde homens e mulheres de raças, credos, cor e condição social diferentes, possam reconhecer-se como filhos do mesmo Pai, o Reverendo Moon iniciou em 1945, o caminho para realizar a paz em todos os níveis.

Voltemos agora ao texto principal do livro.

Com os argumentos colocados pelo presidente da Igreja, Renato não teve outro remédio senão ir para Curitiba.

Fugindo da Igreja

Chegou pela manhã e foi falar com a Pastora Margarete

Depois da apresentação foram todos tomar café e por volta de 8h00 um dos membros internos acompanhou Renato até a pequena fábrica de lousas, onde ele iniciou seu trabalho.

Sua função junto com mais alguns irmãos era pintar os quadros que já chegavam montados de outra parte da fábrica.

Renato trabalhava até mais ou menos 13h00 e depois do almoço saía junto com os companheiros para fazer o que eles chamavam de restauração material.

Algumas siglas são usadas e faladas na igreja para o entendimento dos membros.

Por exemplo: RM (restauração material): significa trazer para Deus, tudo o que lhe foi tomado com a Queda do Homem, através da venda de materiais, no caso, quadrinhos, lanches, livretos etc.

RE (restauração espiritual): é o ato de trazer para Igreja através de testemunhos dados nas ruas ou nas casas, pessoas para fazerem os seminários de um e sete dias, como aconteceu com a sogra de Renato, quando os convidou para o seminário.

Filhos Espirituais: são aquelas pessoas que após o término do seminário de sete dias se prontificam a seguir a Igreja, como membros internos ou externos.

Assim, Renato passava seus dias entre o trabalho na fábrica e as saídas para RM. Ainda não lhe era permitido sair para dar testemunho.

Aos domingos por volta de 5h00, todos vestidos de branco, participavam junto com a pastora da Cerimônia de Inclinação. Renato já conhecia o ritual, pois já o fizera quando estava em São Paulo.

Esse ritual é feito pelas Igrejas do mundo todo, e tem como fundamento principal, orar pelo mundo, pelo sucesso da Igreja, pelo Reverendo Moon e sua esposa para que consiga sucesso no seu intento na criação de um mundo melhor.

Os membros tinham como hábito também, antes do café da manhã, irem a uma praça em frente à Igreja, para orarem e fazerem alguns exercícios físicos.

Depois voltavam para a Igreja e após o banho tomavam café e seguiam seu rumo.

Para Renato, a saudade que sentia de Marisa e Eduardo, porém não o estavam deixando completamente à vontade. Seu casamento era muito recente assim como o nascimento do filho.

Sentia que ainda não estava preparado para ser de fato um membro interno e muito menos ficar longe dos seus.

Não aprendera ainda tudo sobre os dogmas da Igreja (ou não aceitava) e isso o estava corroendo internamente.

Tomou então uma decisão meio maluca e aproveitando o intervalo entre o horário do almoço e a saída para a RM, foi a um orelhão e de lá ligou para o pai.

Colocou-o a par da situação e ele embasbacado não acreditava no que estava ouvindo.

Para seu Carlos tudo o que sabia era que Renato havia ido para São Paulo e que se dera mal em relação ao emprego, mas que já estava trabalhando em outro lugar.

Mal sabia ele que Renato já havia deixado o emprego por conta da Igreja.

-O que você quer que eu faça? Perguntou.

Renato contou que todos os dias era de costume irem para a praça para praticar exercícios e orar. (deu o endereço a ele).

Era ali que eles deveriam se encontrar.

-Está bem, vou falar com seu tio Fred e amanhã te pegamos bem cedinho.

-Tú és mesmo um louco, resmungou ele antes de desligar o telefone.

Apreensivo como se estivesse fugindo da polícia Renato arquitetou um plano para poder sair da Igreja com sua mala sem ser notado (era a única coisa que havia trazido de São Paulo).

Depois do trabalho na fábrica foi para a Igreja, pois, sabia que àquelas horas estava vazia porque a maioria dos membros ou estavam em RM, ou tinham saído para dar testemunho.

Apenas a pastora, ficava no escritório ou na sala de oração e as irmãs que cuidavam da casa e do almoço.

De fato, Renato entrou e saiu com a mala sem ser notado.

Dirigiu-se para a rodoviária, e pagando uma taxa, deixou a mala guardada.

Poderia ter ido embora dali mesmo, tão fácil havia sido, mas havia combinado com o pai e além do mais estava sem dinheiro para a passagem.

Estava tudo correndo como ele havia planejado.

Depois disso, voltou para a fábrica onde pegou alguns materiais de restauração, e saiu para a rua. Comeu alguma coisa por lá mesmo.

A noite fez a oração com os demais e foi deitar. Não conseguiu dormir pois estava agitado demais.

5h00 e lá estavam todos reunidos (menos a pastora) para a oração na praça.

Um carro aproximou-se. O assobio inconfundível de seu Carlos chamou a atenção de Renato.

-São eles, pensou.

Enquanto os irmãos estavam ajoelhados rezando de olhos fechados, Renato foi se esgueirando pelos arbustos e rapidamente entrou no carro.

-Rápido, vamos embora disse seu Carlos ao irmão mais novo Fred.

-Cadê suas coisas?

-Estão no guarda-malas da rodoviária. Ontem à tarde eu a levei para lá.

Após passarem pela rodoviária, tomaram a estrada rumo a Santos.

No caminho tanto o pai como o tio queriam saber o que o havia levado a entrar para aquela Igreja desconhecida.

Dadas todas as explicações com todos os detalhes possíveis, os dois só fizeram balançar a cabeça em tom de reprovação.

Não se tocou mais no assunto.

Renato, que não havia conseguido dormir na noite anterior, somando ainda o fato de estar em jejum, acabou adormecendo no banco de trás do carro.

Horas depois estavam em frente ao prédio onde o pai morava.

Quando dona Gisa viu Renato com aquela cara de sono e fome, as lágrimas caíram dos seus olhos.

-Meu filho, o que fizeram com você?

-Nada mãe. Só estou cansado e com fome.

Correu para o chuveiro e depois de uma boa ducha, já se sentia mais reconfortado.

Só faltava forrar o estômago.

Durante o almoço, Renato foi contando as peripécias pelas quais passou, desde sua saída do Correio.

Tio Fred, sempre balançando a cabeça negativamente.

-Sabe mãe. Jesus vai me desculpar, mas, não tenho o menor dom para deixar minha família, vocês, a Mariza, e o Eduardo, para segui-lo.

-Eu acho que aí existe um erro de interpretação da Bíblia, quando ele diz que para segui-lo tem que largar pai e mãe. Só não sei ainda o que ele quer dizer com isso.

Indo resgatar a esposa - A primeira separação

Amanhã vou a São Paulo tirar a Marisa da Igreja.

-Você pretende ir para onde? Perguntou seu Carlos.

-Sei lá pai. Não queria ter de voltar para a casa de meus sogros. Eles são legais, mas, não me sinto confortável lá.

Então faz assim. Pega a Marisa e o Eduardo e vem para cá. A gente se aperta um pouco mas dá-se um jeito.

Renato tenta disfarçar, mas, as lágrimas começam a rolar em seu rosto.

Agradece a Deus por ter seus pais ao seu lado e se pergunta.

Como Deus pode querer que as famílias se separem, se a família é o verdadeiro alicerce na construção do mundo?

Realmente, só pode ser um erro de interpretação bíblica.

-O tio Fred, se despediu de todos não sem antes cutucar Renato.

-Juízo hein moleque.

No dia seguinte pela manhã, Renato estava se preparando para viajar, quando dona Gisa resolveu que iria acompanhá-lo.

Na estrada ia confiante em que tiraria Marisa da Igreja e junto com Eduardo, iria ter sua vida novamente restabelecida.

Ao chegarem à Sede Central, já ficavam sabendo que a Igreja de Curitiba tinha colocado Marisa a par da situação, contando que Renato havia saído de lá, e com certeza iria procurá-la para que ela saísse também.

De fato, quando lá chegaram ela já se encontrava na defensiva.

-Você vai e eu fico. Não tem nada que me prenda lá fora.

-Mas Marisa, nosso filho precisa do pai e da mãe juntos. Não podemos abandoná-lo.

-Deus precisa mais de nós do que ele. Eu não vou sair daqui.

Renato novamente sentiu aquele soco no estômago, mas sua decisão bem como a dela já estava tomada.

-Bem, sendo assim só me resta te dizer adeus, disse com uma ponta de tristeza.

Dona Gisa ainda tentou argumentar com ela, mas, irredutível, tirou sua aliança do dedo e atirou em direção à Renato.

-Adeus, disse.

Abatido, porém ciente do que queria saiu de lá com a mãe.

-Vamos, mãe, ainda temos que passar na Lapa e pegar o Eduardo.

Mesmo com todas as imposições dos sogros, Renato foi taxativo:

-Não dona Marina meu filho já vai ficar sem a mãe, não é justo que fique também sem o pai.

Assim, mesmo com toda choradeira de dona Marina, que já havia se apegado demais ao neto, Renato e dona Gisa o traziam de volta a Santos.

O pobrezinho com apenas um ano de vida nem sabia o que estava acontecendo a sua volta.

Entrava o ano de 1979 e em fevereiro Renato vai trabalhar novamente em uma fábrica de fertilizantes em Cubatão no período noturno.

Não está feliz. Pensa dia e noite em Marisa e seu consolo é o filho a quem leva todas as manhãs junto com o pai, à praia.

Depois do almoço aí sim, dá uma cochilada.

Seu Carlos nota sua tristeza e preocupado começa a apresentar algumas garotas a ele na esperança de que esqueça Marisa.

       -Vamos filho! Ânimo. Não existe só a Marisa no mundo. Quantos casamentos não estão sendo desfeitos agora nesse exato instante em que estamos conversando.

A conquista dos "Meninos da Vila" e a mudança para o Norte de Minas

Em julho de 79 o Santos F.C. com a primeira safra dos "Meninos da Vila", se torna campeão paulista, campeonato este que tinha tido início em 78.

Juari é o artilheiro com 29 gols e Clodoaldo se despede dos campos.

Seu Carlos chega do serviço e comunica que foi convidado para trabalhar no norte de Minas, em uma cidadezinha chamada Caratinga.

Ganhará com isso a já famosa diária.

Com ele irão mais dois colegas: Artur e Mariano.

Dessa vez Renato nem se importa. Sabe que terá que ir junto por causa de Eduardo, mas, mesmo assim brinca com a mãe.

-Lá vamos nós de novo, hein dona Gisa?

-É verdade filho, mas vou te dizer uma coisa. Desta vez nem foi por causa da diária, e muito menos por causa de espírito aventureiro de seu pai.

-O que a senhora está querendo dizer com isso?

-Que seu pai está fazendo isso por sua causa. Ele está te vendo tão triste e abatido e acha que uma mudança de ares irá te ajudar a esquecer a Marisa.

Renato nada respondeu. Seu pai tinha razão como sempre. Quem sabe indo embora de Santos e da proximidade com São Paulo, não lhe fosse mais fácil esquecer?

Dias antes da mudança definitiva, ele, o pai e os dois colegas, viajaram para acertar os detalhes na cidade.

Já haviam dado autorização para que o encarregado do armazém de Caratinga procurasse três casas para eles.

Dentro do Corcel branco de Mariano, partiram os quatro.

Uma viagem dura e cansativa, regada a muito cigarro (os quatro fumavam), e Halls de eucalipto extraforte para disfarçar o bafo miserável da nicotina.

Aos trancos e barrancos, parada para trocar pneu furado, abastecer o corcel que bebia uma gasolina lascada, eles finalmente chegam à cidade pela manhã.

Entraram num hotel onde tomaram um banho para tirar o cansaço. Depois do café servido no hotel, foi cada um ver suas respectivas casas, combinando de se encontrar mais tarde no hotel.

Depois de tudo acertado, dirigiram-se ao escritório do IBC, onde se apresentaram já como novos funcionários.

Renato havia gostado da cidadezinha. Só não sabia ainda o que fazer lá, pois tinha certeza que arrumar emprego seria muito difícil.

A noite tomavam o caminho de volta a Santos, novamente a base de muito cigarro e Halls.

Ao chegar em casa, depois de descansar um pouco, Renato foi para a firma onde trabalhava.

Queria chegar mais cedo para pegar o escritório aberto e pedir sua demissão.

Seria a última noite em que trabalharia lá.

Dias depois Renato, dona Gisa e Eduardo partiam para uma nova vida em outra cidade.

Preferiram viajar durante a noite para poder chegar bem cedo na cidade.

A mudança só iria no dia seguinte com seu Carlos.

A estrada Rio-Bahia que passa dentro de Caratinga, estava em alguns trechos em péssimas condições, fazendo com a viagem se tornasse mais demorada e cansativa.

No colo de dona Gisa, Eduardo dormia como um anjo.

Por volta de 10h00 chegavam à rodoviária e dali pegavam um táxi para a nova casa.

Nas mãos de Renato duas malas pesadas.

O início de uma grande amizade

A denominação do município Caratinga, de origem indígena, (cará / tinga = branco) é devido à falta de alimentação diversificada, o que fazia com que os primeiros habitantes da região se alimentassem de um tubérculo muito encontrado na região na época do povoamento, um cará-branco que servia de alimento para os índios.

A história de Caratinga começou quando os primeiros colonizadores surgiram na região, em 1573, comandados por Fernandes Tourinho.

Aqui encontraram a tribo dos índios Bugres, da tribo dos Aimorés, que viviam às margens do rio Bugre que, mais tarde (1878), passou a chamar-se Rio Caratinga.

O primeiro desbravador do atual território do Município de Caratinga é atribuído a Domingos Fernandes Lana, natural de Araponga, município de Viçosa. Teria vindo em companhia de amigos, serviçais, escravos, índios catequizados, a procura de poaia (ipecacianha), abundante na região e de grande valor comercial. Acredita-se que aqui tenha permanecido desde o princípio de 1841 até 1847.

Os méritos da fundação do povoado cabem a João Caetano do Nascimento.

Em junho de 1848, o pequeno povoado foi elevado à categoria de Paróquia e Conselho Distrital, subordinado à Comarca de Mariana, tendo posteriormente pertencido também a Ponte Nova.

O distrito foi criado pela lei provincial nº 2027 em 1º de dezembro de 1873, e passou a município em 6 de fevereiro de 1890, pelo decreto estadual nº 16, assinado pelo Presidente de Minas Gerais, Cesário Alvim.

A lei estadual nº 2, de 14 de setembro de 1891, confirma a criação do distrito-sede e, em 24 de junho de 1892, a vila se eleva o município, com território desmembrado de Manhuaçu.

Ainda com o nome de São João de Caratinga, em 1873, foi construída a primeira igreja Católica de Caratinga, a Igreja de São João Batista; hoje tombada pelo Conselho Municipal do Patrimônio Histórico. Trazendo o progresso para a região, a Estrada de Ferro Leopoldina foi resultado de uma luta heroica, servindo à cidade de 1930 até 1978. A rodovia BR-116, conhecida como Rio-Bahia, iniciou sua construção em 1941 e é hoje um grande canal de escoamento, ligando o Sul ao Norte do País.

Nos anos 60 e 70 o município começa a perder parte da sua população que se direciona em busca de novas oportunidades no Vale do Aço mineiro, em Ipatinga (Usiminas) e Timóteo (Acesita), mantendo sua atividade cafeeira como principal fonte de renda.

Nos anos 80 e 90 Caratinga passa por um grande processo político e administrativo que resulta na emancipação de vários de seus distritos, ( Santa Bárbara, Santa Rita, Piedade, Entre Folhas, Imbé, Ubaporanga, Ipaba e Vargem Alegre ), como resultado a cidade se tornou um centro regional e os distritos ganharam mais força no que se diz respeito a arrecadação e realização de obras para a população sem depender de aprovação da antiga sede.

No ano de 2003 e 2004 a cidade de Caratinga enfrentou seu mais triste e infeliz momento, as duas enchentes que destruíram todo centro comercial, queda de prédios com repercussão nacional.

Dois ícones do cenário brasileiro são de lá: O cantor Aguinaldo Timóteo e o cartunissta Ziraldo.

Já dentro da casa dona Gisa forrou uns cobertores no chão colocando Eduardo, cobrindo com uma pequena manta.

Já estavam imaginando como dormir no chão puro até que a mudança chegasse, quando na porta da sala surgiu uma senhora e uma garota.

Levaram um susto, mas a senhora os acalmou se apresentando como a vizinha.

Seu nome: Luiza e a garota, Karen.

-Desculpe a intromissão, mas, nós vimos quando chegaram, trazendo uma criança e viemos ver se precisam de alguma coisa.

-Ah sim, a criança é meu neto. Estamos chegando agora de Santos, e nossa mudança só vem amanhã, disse dona Gisa.

Dona Luiza pediu a Karen que fosse buscar uma garrafa de café e pouco depois estavam os quatro bebericando um café bem quentinho.

Pediu a Renato que acompanhasse Karen até sua casa e lá pegassem três colchões e roupas de cama.

-Quando suas coisas chegarem você me devolve.

Em menos de meia hora tudo estava arrumado em um dos quartos.

Como não tinham muita coisa para colocar em ordem, dona Gisa pediu que a vizinha esquentasse a mamadeira de Eduardo que já havia acordado com fome.

Renato se prontificou a ir buscar um almoço num restaurante próximo e Karen se ofereceu para acompanhá-lo.

Descobriu assim, que ela a seu exemplo também estava separada recentemente de seu marido e tinha um filho que naquele momento estava na casa de sua ex-sogra.

Sentia na voz dela uma grande tristeza.

-Você ainda gosta dele, não é?

-Gosto, nosso casamento é recente, mas não deu certo.

-Engraçado, eu vim para cá exatamente para tentar esquecer minha ex. E eu preciso esquecer, pois, nosso casamento não tem mais volta.

Renato contou sua história para Karen que por sua vez contou a sua para ele, e nascia ali uma grande amizade.

Na volta depararam com uma mesinha e duas cadeiras colocadas na sala da casa.

Depois disso se despediram e foram para suas casas, deixando dona Gisa e Renato à vontade.

-Como são atenciosas disse dona Gisa.

-Onde que em Santos, seríamos tratados desse jeito, respondeu Renato atracado numa coxa de frango.

No quarto, depois de ter sido trocado, Eduardo dormia tranquilo.

Na tarde do dia seguinte, seu Carlos chegava com a mudança.

A partir dali, Renato começaria a se preocupar em arranjar um emprego.

Começou a sair à noite com Karen, que o levava aos barzinhos.

Ele notou que Karen bebia um pouco além do que considerava normal.

Como já sabia de sua vida e de sua separação, sentiu que ela estava entrando num caminho perigoso, o mesmo caminho que ele havia entrado quando se encontrava em Garça.

Sua mãe gostava quando Renato a convidava para sair, por que normalmente ele tirava de sua cabeça, a ideia de irem para os bares. Preferia um baile ou mesmo um cinema.

Nessas horas conversava com ela dizendo que não valia a pena se esconder atrás de um copo por causa de um casamento.

-Veja, você sabe que me encontro na mesma situação e no entanto, não pretendo estragar a minha vida por causa de um amor não correspondido.

Longe de criticá-lo por querer se intrometer em sua vida, ela agradecia, sentindo nele um porto seguro.

-Nós dois temos a responsabilidade de nossos filhos em nossas costas. Não vale a pena viver por eles?

-Você tem razão, vou tentar mudar.

Aos poucos Karen se tornava uma moça diferente. Tinha ainda vinte anos, e uma vida inteira pela frente, para conhecer novos amores.

Dona Luiza torcia para que os dois se acertassem, mas tanto Karen quanto Renato ainda tinham seus corações fechados e tudo o que existia entre eles era uma grande amizade.

Um bom emprego e a nova namorada

Um mês depois, através de um amigo do pai que trabalhava no IBC, e era muito conhecido na cidade, Renato conseguia um emprego numa loja de produtos agrícolas.

Na entrevista com o dono, soube que teria de organizar o almoxarifado que estava totalmente em desordem, por causa da saída do funcionário do setor.

Ninguém sabia o que tinha, e o que faltava no estoque.

       Renato se propôs com a experiência adquirida na fábrica de bebidas em Santos e na fábrica de fertilizantes em Cubatão, a colocar tudo no seu devido lugar.

Para isso pedia carta branca para agir, um ajudante, o material para executar o projeto.

O dono se prontificou a comprar todo o material, e em seguida chamou Renato para começar o trabalho.

A partir dali já era um empregado registrado da loja.

Continuava saindo com Karen que já se mostrava uma outra pessoa.

Mais consciente e ciente de suas obrigações com seu filho Sergio que estava com dois anos de idade.

Dona Luiza continuava comentando com dona Gisa que Renato havia caído do céu.

No final do mês, entregava o almoxarifado em perfeitas condições, com todo o estoque atualizado, desde uma minúscula arruela de pressão até tratores e ceifadeiras que eram vendidas na loja.

Com isso o dono deu o cargo em definitivo a ele e ao seu ajudante. Um rapaz nordestino, muito simpático e trabalhador.

O salário também havia aumentado. Era pouco, mas, para o padrão de vida da cidade estava ótimo.

Com a confiança adquirida, e sabendo que estavam precisando de um funcionário para o Departamento Pessoal da loja, pediu ao dono que contratasse sua amiga, no que foi prontamente atendido.

Agora sim, dona Luiza s sentia tranquila chegando a dizer para sua mãe que "Era Deus no céu e o Renato na terra".

Renato sentia-se feliz com os elogios, mas não achava que merecia tanto.

Apenas chegou na hora certa na vida de Karen.

Mas ela também havia chegado na hora certa em sua vida.

Para decepção de dona Luiza, Renato arranjou uma namorada.

Lena era seu nome, e se conheceram através do pai dela, seu Alfredo que era funcionário do IBC.

Renato passou a acompanhá-la no colégio onde depois das aulas e aos sábados ela ensaiava uma peça de teatro.

Ela sabia que Renato havia tido uma equipe de teatro em São Vicente e perguntou se ele não queria dirigir a peça.

-Não Lena, vocês já têm uma equipe muito boa. O que eu posso fazer e dar algumas sugestões se houver necessidade.

Lena era uma garota simples. Tinha 22 anos e era a típica garota tímida do interior.

Renato havia contado a ela parte de sua, vida, mas nem precisava, pois, seu Carlos já havia se incumbido de dar sua ficha completa à família toda.

A exemplo de Luciana, sua namorada de São Vicente, ele não estava apaixonado por Lena e fazia questão de que ele soubesse disso.

-Ainda não posso e nem quero ter um envolvimento mais sério com você, primeiro porque ainda não estou preparado para abrir meu coração e segundo que priorizo a criação de meu filho. Podemos ficar juntos sim, mas você terá de ter paciência comigo.

-Não tem problema Renato, quem sabe não seja eu a abrir esse coração.

Sentia que ela estava entrando na mesma via que Luciana havia entrado.

Foi nessas condições que iniciaram seu namoro, e agora lá estava ele dando seus pitacos e palpites na peça de teatro.

Lena tinha um irmão caçula e mais duas irmãs. Uma delas estava passando uns dias no Rio de Janeiro na casa de uma irmã da mãe.

Uma paixão instantânea e o John Travolta brasileiro

Dela, Renato só sabia o nome: Cristina e que tinha dezessete anos.

Caratinga finalmente abraça o fenômeno discoteca. Patrick Hernandez, Glória Gaynor, Diana Ross, Abba, Village People, Kool & The Gang, Sylvester, Bonney M, KC & The Sunshine Band, e outros.

Já totalmente comprometidos com a nova onda, o grupo inglês, Bee Gees, conhecido por suas músicas românticas, traz Barry Gibb cantando em falsete e a música You Should Be Dance, torna-se uma espécie de hino desse novo movimento.

Saturday Night Fever, torna-se famosa por causa do filme homônimo com John Travolta.

Renato mesmo não sendo adepto da nova onda, conhece alguns passos da dança, que aprendera, nas raras vezes em que ia aos clubes de dança em Santos.

Quando vai ao clube da cidade com Lena, se sente o próprio Travolta, dançando no meio da pista rodeado por alguns amigos, músicas como Born To Be Alive de Patrick Hernandes, Boney M e Bee Gees.

Lena sente-se orgulhosa do namorado.

Cristina chega do Rio de Janeiro, e Lena o leva a sua casa para conhecê-la.

Ao vê-la, Renato sente a mesma sensação quando em Garça, fora apresentado por Waldir à Cíntia.

Linda, cabelos e olhos negros, Cristina trazia no rosto o sorriso mais lindo, só comparado ao sorriso de Cíntia.

Quando toca sua mão, sente uma emoção indescritível, e seu coração bate em descompasso.

Rapidamente ele retira sua mão, pois estava ficando evidente em seus olhos aquele sentimento e dona Silvana sua mãe, poderia perceber alguma coisa.

Agora entendia exatamente o que havia acontecido com Reinaldo e Lia, lá em Ribeirão Pires.

Gaguejando, diz apenas um olá.

Sentiu que para ela, também ele não havia passado desapercebido, pois sua mão ao cumprimentá-lo estava trêmula.

Se Lena percebeu alguma coisa, não deixou transparecer. Não é à toa que dizem que o amor é cego.

A partir dali seu relacionamento com Lena seria diferente.

21 de outubro de 79. Eduardo está completando 2 anos e seu Carlos faz questão de preparar uma grande festa, afinal é o primeiro aniversário com o neto.

Convida todos os amigos do IBC, e a casa fica lotada.

Dona Luiza e Karen junto com o filho Sergio, também estão lá.

Karen, já mudou muito sua maneira de ser, e mesmo sem contar com Renato para os passeios, quando sai, vai para o cinema ou a um baile. Aboliu definitivamente os bares de sua vida e está cada vez mais firme no emprego.

Sendo sua amiga e confidente, já sabe dos seus sentimentos em relação à Lena e à Cristina.

Pede que ele tenha cuidado para não magoar a garota dizendo que ele deve contar a verdade por mais dolorosa que seja.

Renato diz que não está acontecendo nada entre ele e Cristina, ainda.

Ainda, porque tudo irá mudar a partir daquela festa de aniversário.

Dona Silvana, havia esquecido o presente de Eduardo, pedindo que Lena fosse buscá-lo.

Renato vai com ela, e Cristina os acompanha.

Em frente à sua casa que fica a quatro quadras dali, Lena entra para apanhar os presentes deixando Renato e Cristina esperando no quintal.

Cristina aproveita o momento para puxá-lo contra si, e beijando-o diz que está apaixonada por ele.

-No começo, queria me vingar de Lena por ter roubado um namorado meu, tempos atrás, mas agora meu sentimento não é de vingança, e sim de amor por você.

-Eu também estou me sentindo assim desde o momento em que fomos apresentados e o remorso de magoar tua irmã impede que eu seja e a faça feliz como ela merece.

Ia falar mais alguma coisa, porém, Lena já voltava com os presentes.

Renato sabia que tinha de colocar um fim naquela situação, mas, não tinha coragem, e deixou o barco andar (um erro imperdoável).

Continuava com Lena, e quando iam aos bailes ou cinema, Cristina fazia questão de ir também.

Quantas vezes dançando com ela dava um jeito de disfarçadamente no meio de outros pares, beijá-la sem que Lena percebesse.

No cinema, sentava-se no meio das duas, e ao mesmo tempo em que abraçava Lena, acariciava Cristina com a outra mão.

O pouco tempo em que permanecera na Igreja do Reverendo Moon, o fazia entender que não estava agindo corretamente, sentindo-se um canalha.

Cristina também já não estava mais suportando aquela situação.

Por diversas vezes, ele tentou falar com Lena, mas como que adivinhando o que ele iria dizer (porque mesmo o amor sendo cego, a mulher não é boba e tem o famoso sexto sentido), ela o interrompia mudando de assunto.

Dessa maneira não teve outra alternativa a não ser escrever uma carta a ela, contando tudo o que estava acontecendo.

Pediu que seu irmão a entregasse apenas em suas mãos.

Pior que falar foi ter escrito.

Jogando com a sorte

Em poucas horas todos em sua casa já sabiam da carta.

Seu Alfredo, violento, aplicou uma surra em Cristina deixando-a marcada e sem direito a se defender.

Jurou que ia fazer o mesmo com Renato.

Seu Carlos que já havia tomado conhecimento da situação, o alertou, dizendo que ele havia agido errado e que tomasse cuidado pois ele o havia ameaçado.

Falar ao pai que as coisas do coração são difíceis de entender, não adiantaria. Com certeza ele já sabia disso.

Renato resolveu então dar um tempo até as coisas acalmarem e não procurou Cristina.

Dois dias depois pela manhã ela o procurava no serviço cheia de saudade e ainda com o rosto machucado.

-Quer se encontrar comigo hoje? Perguntou Renato.

-Mas, onde?

Estou pensando no rio Caratinga. Eu saio para almoçar e não retorno à tarde.

A gente se encontra lá na rodoviária e tomamos um ônibus e de lá vamos embora.

-Está bem, então por volta de 13h00 a gente se encontra lá. Dou uma desculpa qualquer em casa. Ninguém vai imaginar que estou com você, pois todos sabem que você está trabalhando.

Antes de sair para o almoço, mentiu para o patrão que teria que ir com o pai na parte da tarde a um armazém de café na cidade de Carangola, cidade próxima.

Em casa mentiu que iria fazer um serviço fora da cidade para o patrão.

Tramóia feita foi para a rodoviária. Antes passou em um mercado comprando frutas e refrigerante.

Ao encontrar Cristina, seu coração disparou mais uma vez. Estava linda, com uma saia branca curta realçando sua pele, mas sem exagero e os cabelos soltos.

O sorriso continuava o mesmo.

Estava trêmula, pois sabia o que representaria aquela aventura.

-Está nervosa? Perguntou Renato.

-Estou! Nunca tinha feito algo assim, mas isso aumenta minha adrenalina, pois o perigo da aventura é excitante.

Renato a beijou e entraram no ônibus.

       No rio, ajeitaram-se no gramado e ali conversaram e se amaram a tarde toda.

Depois de sua separação, era a primeira vez que tinha uma mulher inteiramente sua.

Passaram a repetir o feito duas vezes por semana e seu receio era que tanto patrão quanto pai descobrissem a armação.

Ficaria sem o emprego e sem a confiança do pai.

Pior ainda seria se os pais delas descobrissem.

Enfrentando uma fera

Numa das idas ao rio tomou uma decisão.

-Vou falar com seu pai, não podemos mais ficar nos escondendo como se fôssemos bandidos.

-Você está louco? Ele vai te matar.

-Não, não vai.

-Ele vai entender que não sou um covarde que nem ao menos luta pelo seu amor.

-Já sei o que vou fazer. Sei que seu pai costuma ir a um barzinho tomar umas cachaças, depois do serviço. É lá que vou esperar por ele.

-Toma cuidado Renato. Isso é muito arriscado.

Arriscado ou não a decisão estava tomada.

Não comentou nada em casa para não alarmar dona Gisa e depois do serviço foi para o tal barzinho onde pediu uma cerveja e aguardou.

Não demorou muito e a "fera" apareceu.

Ao ver Renato, sua cara de alegria ao cumprimentar os amigos do bar, transformou-se em uma carranca horrível.

-Sente-se aqui seu Alfredo, convidou Renato. Preciso falar com o senhor.

-Não tenho nada para conversar com você seu moleque, esbravejou.

-Bem, sentado ou não o senhor vai me escutar. Gosto de sua filha e ela gosta de mim. Prefiro enfrentá-lo a ter que ficar me encontrando às escondidas com ela, pois ela não merece isso.

Lívido, ele pediu uma cachaça e de dedo em riste ameaçou:

-Se eu te pegar com minha filha eu te mato, apesar de minha amizade com seu pai. Entendeu?

-Então o senhor terá de me matar, pois não vou desistir dela tão facilmente.

Estou lhe dando uma oportunidade de resolver isso em paz.

-Você não devia ter feito o que fez com a minha filha Lena. Isso eu não vou perdoar.

-A Lena sabia desde o começo, o meu sentimento por ela e mesmo assim resolveu arriscar. Não tenho culpa se me apaixonei pela Cristina.

-Bom você já está avisado disse ele virando as costas.

"Homenzinho difícil" pensou Renato.

Vendo que aquela conversa não ia dar em nada, pagou sua cerveja e saiu.

Resolveu que não iria mais se arriscar indo para o rio e comunicou isso à Cristina.

-Podemos nos encontrar à noite num bairro mais afastado, o que você acha?

-Para mim está bem, desde que eu esteja com você.

Beijaram-se apaixonadamente.

Lena segundo Cristina, estava vivendo sua tristeza, dentro de casa, e não tinha nem ânimo para as peças de teatro do colégio.

Renato sentia um certo incômodo, por aquela situação, mas não podia fazer nada.

Vendo sua filha assim, seu Alfredo sentia mais ódio dele, afinal era a filha mais velha e, portanto, o xodozinho da casa.

Seu Carlos resolveu que iria mudar, pois a casa onde estavam devido ao córrego que passava ao lado estava deixando-a úmida e mofada, prejudicando a saúde de Eduardo.

Em poucos dias já se encontravam em outro local. Uma casa maior e mais arejada, com um quintal enorme e íngreme por tratar-se de um morro.

Eduardo já se sentia bem melhor.

Uma decisão maluca que não se concretizou

Cristina procurou Renato no serviço e combinaram de se ver no local que haviam escolhido onde já há algum tempo se encontravam.

-Espere por mim lá, pois tenho um assunto sério prá falar contigo.

-Hummm, do que se trata?

-Depois te falo, agora deixa eu trabalhar senão o meu patrão me come o fígado.

Viu-a afastar-se, linda e sorridente nos seus quase dezoito anos (iria completar ainda naqueles dias).

Depois do trabalho, Renato foi para casa, tomou um banho e caprichou no perfume.

Ao chegar ao local do encontro, lá estava ela, linda numa saia branca, realçando seu corpo e sua pele morena.

Abraçou-a de sopetão e beijou-a com uma certa violência, oferecendo uma rosa que havia comprado pelo caminho.

-Nossa, como você está hoje hein? Disse ela.

-É que não resisto aos seus encantos minha princesa, brincou ele.

A vontade de Renato era de levá-la para um hotel, mas tinha medo por causa de sua idade. O remédio era ficarem por ali mesmo, só de namorico.

-Cristina, presta atenção no que vou te dizer. Pode parecer loucura e nem sei se você vai aceitar.

-Só vou saber se você falar. Brincou ela.

-Tá! Eu recebi uma proposta para trabalhar em Governador Valadares. Uns clientes de meu patrão foram lá hoje, e ele me elogiou, falando do meu trabalho no almoxarifado da loja.

Como eles pretendem montar uma loja lá nos mesmos moldes dessa me convidaram para trabalhar com eles, me dando um salário bem melhor do que ganho, além de uma casa para morar.

-Mas você vai embora, e eu como fico?

-Calma, é aí que entra a minha proposta com você. Estou te convidando para ir comigo e o Eduardo.

-Daqui a alguns dias você completa dezoito anos e já será dona de suas próprias decisões.

-A proposta é tentadora, mas tenho que pensar, pois é complicado deixar meus pais assim de uma hora para outra.

-Te dou um mês para pensar. É o tempo que pedi a eles também, afinal ainda nem montaram a tal loja.

Não tocaram mais no assunto preferindo namorar e falar de outras coisas.

Renato já sabia de antemão que sua resposta seria não. Era muito nova para assumir o compromisso de fugir com um namorado que já trazia na bagagem o bônus de um filho.

Nem precisou esperar um mês.

Dias depois, seu Carlos chegou em casa dizendo que ela havia ido para o Rio de Janeiro.

Sem coragem de falar pessoalmente, preferiu deixar uma carta com Karen, para que lhe entregasse.

No bilhete ela dizia que tinha sido obrigada pelo pai, a ir embora, e que apesar de estar apaixonada, não poderia aceitar sua proposta, por se achar nova e inexperiente para cuidar de uma criança.

Exatamente como ele havia deduzido.

Ficou sem ter notícias dela por um bom tempo, pois não tinha coragem de ir à casa de seus pais para se informar.

Só ficou sabendo que ela estava bem, no Rio e namorando, quando teve que se internar no hospital da cidade por problemas renais.

-Deixando toda a mágoa que ele lhe havia causado, Lena e seus irmãos foram visitá-lo, mesmo a contragosto do pai.

Ninguém havia tomado conhecimento de sua intenção de ir embora com ela, para Valadares, e isso morreria junto com ele.

Com o rumo que as coisas haviam tomado Renato também desistiu de viajar, optando por ficar com seus pais. Mesmo porque se fosse, Eduardo teria que ficar com os avós.

Karen ao mesmo tempo em que lamentava aquele desfecho, sentia-se feliz.

Seu amigo e confidente não iria mais embora.

Triste por ter perdido Cristina, jurou para si mesmo que não mais se envolveria seriamente com uma mulher.

Passou a dedicar-se mais a Eduardo. Levava-o junto com sua mãe para passear.

Gostava de levar sua mãe ao cinema, e agora tinha mais tempo para isso.

Seu Carlos não era muito adepto das telonas e preferia ficar em casa com Eduardo.

Aos poucos estava se conformando com a perda da namorada.