A visita surpresa de Reinaldo
Em janeiro de 83, Renato, sua cunhada Marli junto com duas primas dela que conheciam a igreja e vinham de Osasco foram para Uberlândia a convite de Marcio para trabalharem uma semana em prol de sua igreja que havia ficado meio abandonada devido às suas constantes idas à Uberaba e Belo Horizonte, por conta da coordenação dos seminários de sete dias.
Assim naquela semana a concentração era só em função da RM (restauração material).
Sairiam com biscoitos tipo Waffe, batendo de porta em porta em bairros afastados.
Precisavam naquela semana, fazer um bom caixa para ajudar Marcio que por sua vez saía com quadros para o centro da cidade.
Numa manhã em que todos se preparavam para sair, Renato se deparou com seu irmão e a sobrinha Diana batendo no portão.
Surpreso e estranhando aquela visita perguntou:
-Olá Reinaldo, está tudo bem?
-Está tudo certo, estou em férias e vim visitar nossos pais em Uberaba.
Já estou lá há alguns dias, como você não aparecia resolvi ir à sua casa, e Marisa me disse que você estava aqui.
-É verdade, vim com minha cunhada e suas primas.
Marcio interrompeu Renato.
-Por que você não leva seu irmão para conhecer a cidade. Passe o dia com ele, sei que vocês têm muito que conversar.
Enquanto Paulo e as meninas iam para a RM, Renato levava seu irmão e sua sobrinha para conhecer o lindo centro de Uberlândia.
No caminho explicou tudo o que havia acontecido desde que viera morar com os pais em Uberaba, frisando que resolvera voltar para a igreja numa tentativa de salvar o casamento.
-Não consigo te entender. Não foi por causa da igreja que vocês se separaram da primeira vez?
-É um assunto meio complicado para te explicar assim de sopetão.
-Sabe de uma coisa? Vou querer conhecer melhor essa tua igreja. Você pode me ajudar?
-Claro, mas não aqui, primeiro vamos almoçar, quando voltarmos para a igreja eu te explico melhor.
Almoçaram em um restaurante no centro da cidade, e depois Renato os levou para conhecer o Estádio João Havelange. O Parque do Sabiá, palco de amistosos da seleção brasileira.
Reinaldo e Diana ficaram admirados com a suntuosidade daquela construção.
Por volta de 16h00, voltavam para a igreja e Reinaldo cobrou a explicação.
-Bom, é meio extensa a palestra. Está disposto a ficar até mais tarde conosco?
-Sem problema, esqueceu que estou em férias e não tenho compromisso com nada?
Renato chamou Márcio a um canto.
-Você pode fazer isso?
-Não, você vai fazer. Conhece seu irmão melhor que eu e saberá o que dizer e como dizer. Se ele quiser posso dar a parte final em outro dia.
Márcio convidou Reinaldo e Diana para adentrarem à sala de conferência, enquanto Renato em seu quarto, orava para que pudesse se fazer entender.
Depois, Renato iniciou a palestra, munido de giz e um quadro negro que se encontrava na parede.
Na medida em que ia falando, percebia o interesse nos olhos do irmão e da sobrinha.
Quando terminou aquela primeira parte já passava de 21h00.
-É só isso? Perguntou Reinaldo.
-Não, ainda tem a segunda parte que é muito mais complexa e demorada, se você quiser pode voltar outro dia aqui para ouvir.
-Nada disso, fiquei curioso para saber o resto. Eu vou para um hotel com a Diana e amanhã cedo estou de volta.
-Hotel? Para que hotel interrompeu Márcio. Você pode ficar aqui conosco, temos bastante espaço.
Depois de tudo acertado e de o irmão ter se recolhido junto com a filha para um dos quartos, Renato conversou com Márcio.
-Não acha melhor você dar a segunda parte para eles, ainda não sinto firmeza para isso.
-Está bem, amanhã você sai com o pessoal e eu fico aqui com a Marli para me ajudar.
-Certo, mas vá com calma com ele hein?
-Deixa comigo, disse Márcio rindo.
Na manhã seguinte durante o café, Renato comentou que iria com o pessoal trabalhar e Márcio ficaria para dar a palestra.
-Mais tarde a gente se vê, disse ele reunindo a turma.
À tarde voltavam com suas sacolas vazias. Tinham obtido um bom resultado na RM.
Reinaldo e Diana estavam sentados no sofá da sala ainda boquiabertos com o que haviam ouvido.
Teve reação idêntica à de Renato quando ouvira pela primeira vez, que o Senhor do Segundo Advento já se encontrava entre nós.
-E aí, qual foi a reação deles?
-A melhor possível, seu irmão é muito inteligente e não medi palavras com ele.
Fui direto ao ponto. Quer fazer o seminário de sete dias o mais breve possível.
-E quando vai haver outro seminário?
-Tanto em Belo Horizonte quanto São Paulo, somente no início do próximo mês.
Prometi a ele que você o avisaria. Sua sobrinha também está toda empolgada.
-Só espero que ele não desista. Uma coisa é estar de férias e fazer o seminário, outra é ter de pedir licença de sete dias para isso.
-É verdade, vamos rezar para que tudo dê certo e não esqueça o que ouviu aqui.
Renato levou-os à rodoviária.
Torcia para que ele não comentasse nada do que ouvira com o pai pois com certeza ele iria tentar tirar aquilo de sua cabeça.
No final de semana todos retornavam à Uberaba.
Tinham realizado um ótimo trabalho, e a situação da igreja ficara equilibrada.
O trabalho em Uberaba também prosseguia dentro do planejado. Marisa e dona Marina conseguiram manter a Igreja no Lar e a arrecadação de sacos de leite a todo vapor.
Renato resolveu levar Marisa e os filhos para almoçarem com os pais.
Queria ainda rever o irmão antes que ele retornasse ao trabalho, e ao mesmo tempo saber se ele havia comentado alguma coisa com seu Carlos.
De fato, ele havia sim, comentado por alto e seu Carlos longe de criticá-lo começava a ver a igreja com outros olhos.
Renato, porém, não tocou no assunto com o pai, pois sabia que com ele a coisa teria de ser muito mais trabalhada.
Dona Gisa nunca divergia de nada que o marido dissesse desde que isso o deixasse feliz.
Após o almoço, os irmãos saíram. Renato precisava comprar caixas de biscoito e ovos para dar continuidade ao trabalho.
-Uma coisa que me intriga é o fato de vocês terem de trabalhar nas ruas vendendo coisas ao invés de terem um emprego fixo.
-Isso é uma opção. Se você resolve trabalhar integralmente para a igreja, não pode ficar preso a nada, pois a qualquer momento pode ser chamado para uma reunião em qualquer parte do País, ou de uma mudança radical em sua vida. No caso do membro externo ele pode ter seu emprego e sua vida normal, desde que siga o que aprendeu durante o seminário. Eu optei por trabalhar por conta própria porque para os nossos planos de Igreja no Lar, era mais conveniente, apesar de eu e Marisa sermos membros externos da igreja.
-Esse material que eu compro e revendo, ajuda a manter minha casa, minha família e as palestras de um dia que são dadas tanto em minha casa quanto na casa de meus sogros.
-Vocês parecem bem estruturados e cientes do que estão fazendo.
-Vou te confessar uma coisa. Precisamos ser assim eu e Marisa estávamos a ponto de nos separar mais uma vez, e agora veja a alegria no rosto dela. Está se sentindo útil com o que está fazendo e isso me deixa também feliz. O melhor psicólogo na nossa vida é a fé naquilo em que acreditamos.
Voltaram cheios de sacolas e Renato o convidou para ir a sua casa.
-Fica para uma próxima vez. Vou para casa hoje mesmo. As férias estão terminando e ainda quero estar uns dias com Lia.
Na despedida, Reinaldo pediu para que ele não esquecesse de avisá-lo do seminário.
Renato retornara às suas atividades. RM. Igreja no Lar e treinamento de conferência com os filhos e dona Cida.
Uma separação necessária
Um telegrama vindo de Uberlândia, porém, iria mudar radicalmente sua vida e a vida de sua família.
Márcio pedia que todos fossem para Uberlândia, pois, a pastora de Belo Horizonte (Nilza) lá estava e tinha uma proposta a fazer para Renato.
No dia seguinte viajaram e durante o café a pastora sugeriu que eles se tornassem membros internos.
Renato em Uberlândia com Márcio e Marisa e os filhos em Belo Horizonte.
-Essa é uma decisão que não pode ser tomada assim de repente. Temos um trabalho muito grande em Uberaba que não pode ser descartado, disse Renato.
-Quanto a isso já conversei com o Márcio que se comprometeu a ajudá-lo a acompanhar junto com sua sogra, as famílias de Uberaba. Sei que existem pessoas lá que fizeram o seminário de sete dias aptas a caminharem sozinhas no desenvolvimento da Igreja no Lar e na ajuda ao Hospital.
-Bem, mesmo assim, prefiro não tomar essa decisão agora, mas, podemos fazer um teste.
-E o que você sugere? Perguntou a pastora.
-Que Marisa vá para Belo Horizonte por uns tempos e eu venha para cá com meus filhos. Se der certo podemos efetivar isso.
Interiormente, Renato estava protelando uma situação.
Ainda lembrava com tristeza de sua primeira separação e não queria correr riscos.
Marisa que com certeza estava sentindo o mesmo, apenas acatou sua decisão.
-De acordo. Vamos dar um prazo de um mês para que vocês no final se decidam.
De volta a Uberaba, Marisa separou suas roupas e objetos pessoais.
Aproveitou para se despedir de seus pais que não gostaram muito da ideia.
-É só por um mês mãe, depois eu volto para cá.
Renato aproveitou para pedir autorização para levar Marli com ele para Uberlândia.
Ela tomaria conta das crianças.
No dia seguinte, a pastora parava com seu carro em frente à sua casa. Com ela vinha também Paulo. Em seu lugar a pastora mandaria um outro membro interno.
Marisa se despediu dos filhos com lágrimas nos olhos.
O coração de Renato parecia querer explodir de tristeza, pois apesar de todos os problemas que enfrentavam, ele preferia enfrentá-los ao seu lado.
Dias depois era sua vez de partir para Uberlândia.
Lá se entregou de corpo e alma ao trabalho de RM, junto com Roger (o rapaz que havia vindo de Belo Horizonte para substituir Paulo), e mais tarde quando voltavam ele ia para a sala de conferência treinar.
Só quando não aguentava mais é que ia para o quarto dormir. Ficava ainda observando seus filhos dormirem tranquilos e depois desabava na cama.
Não queria ficar com a mente parada para evitar de pensar em Marisa.
A noite saia com Marcio e Roger para dar testemunho nas praças
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Tinha informações de Belo Horizonte, quase que semanalmente. Marisa estava feliz com sua nova providência, pois agora trabalhava em nível estadual.
Um mês depois ela voltava à Uberlândia e depois de abraçar os filhos todos, inclusive Marli retornavam à Uberaba.
Em casa Renato sentia vontade de tê-la em seus braços, mas não podia e nem devia.
Apesar de serem casados, eles como todos os outros irmãos da igreja casados ou não, deviam fazer o caminho inverso ao de Adão e Eva.
Se foi pelo ato sexual ilícito que eles haviam caído, agora eles também deveriam restaurar para Deus essa condição.
Ou seja, Renato e Marisa não eram mais marido e mulher. Aos olhos de Deus eram agora irmãos até que seu casamento fosse abençoado pelo líder da Igreja (um tanto esquisito aos olhos dos leigos).
Era por isso que a pastora havia se empenhado em que houvesse uma separação física, para que eles não caíssem em tentação e colocassem todo o trabalho realizado até ali, por água abaixo.
Já tinham muitos filhos espirituais e precisavam servir de exemplo para eles.
De comum acordo já tinham uma resposta para dar à pastora.
A ida de Marisa e os filhos para Belo Horizonte
-Entramos nessa luta para salvar nosso casamento e construir um alicerce para nossos filhos, disse Marisa.
-É verdade, passe o tempo que passar estaremos unidos em busca da benção do nosso casamento.
Passaram na casa dos pais de Marisa e lá contaram a decisão que tomaram.
Para dona Marina que entendia o sentimento de ambos era a melhor coisa a ser feita, mas para seu Jaime aquilo não passava de loucura.
-Mas o que vocês têm na cabeça? Vão se separar de novo?
-Não, não vamos pai, pelo contrário estamos fazendo isso para que nosso casamento volte fortalecido. A mãe vai tentar explicar para o senhor.
Na casa de seus pais a reação também não foi diferente.
-Mas filho, você vai mandar a Marisa e os meninos para Belo Horizonte e vai sozinho para Uberlândia, não estamos entendendo nada. Reclamou seu Carlos.
-Eu sei que é muito complicado para o senhor e a mãe entenderem, mas não se preocupem. Um dia todos, eu, Marisa, nossos filhos e quantos filhos mais vierem estaremos reunidos com vocês, mas para isso eu e ela temos que consertar algo que se quebrou no caminho de nossas vidas.
Na manhã seguinte partiam para Uberlândia. Marli manifestou o desejo de acompanhá-los para ficar junto com Renato, mas por ser menor tinha de ser autorizada legalmente pelos pais.
Naquela mesma noite, Marisa viajava com a pastora e as crianças.
Mais uma vez o coração de Renato estava triste. Agora estava se separando da família, porém sabia que era melhor essa separação provisória do que uma separação definitiva. Coisa que fatalmente iria acontecer se não tivessem optado pelo retorno a igreja.
Ao voltar para a igreja, Marcio sabendo o que lhe ia na mente, colocou a mão em seu ombro dizendo:
-Lembre-se que essa cota de sacrifício reserva algo bem maior e mais bonito em sua vida no futuro.
Renato sabia que ele estava se referindo a benção dos casais.
A benção é o ponto mais alto na vida de um membro da igreja, pois, trata-se da união de duas pessoas centralizada no amor de Deus.
O casal é escolhido pelo próprio reverendo Moon e normalmente ficam se conhecendo ali durante a cerimônia, pois ele os une apenas com seu olho espiritual, e assim o casal vai gerar filhos, família, sociedade, nação e o mundo sob a vontade de Deus.
Com esse pensamento, e sabendo que sua cara-metade seria a própria esposa porque no caso de casais já formados anteriormente, a benção é só uma reafirmação de compromisso com Deus, Renato partiu para o trabalho com mais vontade e resignação.
Seus sogros haviam consentido em que Marli fosse para Uberlândia, e nos dias em que ele se encontrava triste e cabisbaixo ela na sua pouca idade sempre tinha uma palavra de conforto para ele.
Márcio mais voltado para a Bíblia, também o ajudava lembrando-o que na época de Jesus, seus seguidores largaram seus entes queridos e sentiram saudade e isso não era um privilégio só seu.
Com o passar do tempo ia se acostumando. Já estava craque na palestra de um dia e se tornara o braço direito de Marcio. Recebia notícias de BH e seus filhos mesmo sem entender nada, lhe desejavam boa sorte.
Algum tempo depois, voltava a Uberaba para devolver as chaves para seu Humberto e levar sua mudança para Uberlândia.
Abraçou seus pais com força. Sentia que algo iria distanciá-los ainda mais.
Foi para a casa dos sogros, pois, havia sido comunicado que três pessoas queriam ouvir uma palestra.
Imediatamente ligou para Marcio, comunicando que iria ficar mais um dia.
No dia seguinte enquanto dona Marina arrumava a sala de conferências, Renato fazia a sua oração pedindo a Deus para que pudesse fazer-se entender, já que era a primeira vez que daria uma palestra completa onde a parte mais crítica era hora da revelação através de um paralelo histórico de que o Messias já havia chegado.
As reações eram as mais diversas e aí é que entrava o jogo de cintura do palestrante, para convencer o ouvinte da necessidade de um seminário um pouco mais longo, para obter mais informações.
Uma coisa era dar palestra como forma de treinamento para os filhos e parentes, outra era enfrentar pessoas desconhecidas.
Estava nervoso, mas não poderia deixar transparecer, por isso, quando entrou na sala a primeira coisa que fez foi uma dinâmica de grupo, onde todos deveriam se apresentar e contar por que estavam ali.
Renato para quebrar o gelo, foi o primeiro a se apresentar, dizendo que estava ali para tentar passar um pouco do que aprendera na Igreja de Unificação.
Com isso os convidados foram se soltando, e o nervosismo de Renato ia embora.
No final, atônitos como não poderia deixar de ser os três se comprometeram a fazer o seminário de sete dias, assim que tivesse uma data.
Dormiu na casa dos sogros e na manhã seguinte foi com o caminhão buscar sua mudança.
Enquanto os carregadores colocavam móveis e caixas no caminhão uma ponta de tristeza apertava seu coração.
Os cômodos que antes eram cheios da alegria das crianças agora estavam frios e silenciosos. A sala de conferências que ajudara o casal a trazer para a igreja muitos filhos espirituais agora estava vazia.
Tudo que ali se encontrava: quadro negro, cadeiras, púlpito e caixas de giz, tinha ido para a casa dos sogros.
Uma última olhada para traz e partiu junto com o caminhão, chegando algumas horas depois a Uberlândia.
O Rock dos anos 80
Os anos 80 começavam com uma nova perspectiva para o rock.
Embora o fenômeno discoteca ainda teimasse em continuar, já estava com seus dias contados.
Joy Division, Pretenders, Police, Cure, U2, Echo and The Bunnimen, os pop-stars Madonna e Michael Jackson, Sig Sig Sputinik, The Smits e tantos outros mostravam o rock, hardcore, e new wave.
No Brasil surgiam bandas com nomes esquisitos como Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, Gang 90 & As Absurdetes, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Legião Urbana, Titãs do Ie, Ie (isso mesmo Ie, Ie), Biquíni Cavadão, Magazine, a Blitz de Evandro Mesquita que trazia duas garotas com voz esganiçada, que mais falavam que cantavam, pedindo chopp e porções de batatas fritas.
Eram bandas que viam naqueles novos tempos, um filão enorme no cenário musical.
Em Uberlândia, mas, precisamente dentro da igreja, as coisas transcorriam normais, porém, um telegrama mais uma vez faria com que sua vida, desse uma guinada.
O Projeto I.O.W.C.
A Sede Central da Igreja em São Paulo, estava adotando um projeto que já existia nos Estados Unidos, chamado I.O.W.C. (International One World Cruzade), Cruzada Internacional para a Unificação do Mundo, e selecionava membros internos, de todos os lugares do País para iniciar um trabalho de evangelização.
O critério para a escolha era que o membro da igreja, fosse maior de idade, tivesse tempo de igreja e experiência para lidar com as pessoas.
Idade e experiência Renato tinha. Só não tinha tempo de Igreja, mas como em Uberlândia, Marli (menor de idade) e Roger (sem experiência), não preenchiam os requisitos, e Marcio, por ser o missionário da cidade, não contava, o indicado acabou sendo mesmo Renato.
Na igreja tudo acontece muito rapidamente e quanto mais ele se adiantasse melhor seria, pois, o local de encontro de vários membros seria no Rio de Janeiro.
Naquela semana foi à Uberaba visitar os pais e os sogros, para contar sobre sua nova providência.
O Bispo voltara a criticar a igreja, e o pior: mencionava Silvia, filha de Mauricio, um dos filhos espirituais de Renato e Marisa, que fora frequentadora da igreja católica e fizera parte de algumas pastorais e agora se dedicava de corpo e alma à Igreja de Unificação. Renato pediu que dona Marina convocasse todos, pois além de contar as novidades, queria dar uma palavra de carinho a eles que estavam se sentindo perseguidos.
No dia seguinte, com sua casa totalmente tomada, dona Marina, preparava novamente a sala para a reunião.
Renato voltava a frisar sobre os donos da verdade falando sobre "As críticas através da história", dizendo que todos os grandes líderes: Noé ( ao construir um barco no alto de uma montanha, longe do mar), Moisés (após ter tirado o povo do Egito), Jesus (por pedir que largassem pai e mãe para segui-lo), foram criticados.
-Se a Igreja de Unificação está sendo perseguida e criticada significa que a verdade está incomodando, disse. Se há persistência de nossa parte em querer mostrar a realidade da história, há também a resistência por parte daqueles que estão acostumados com a sua única versão e não abrem mão do que acreditam por acharem que têm a verdade absoluta. Isto é perfeitamente normal e não há motivo para pânico.
Depois do sermão despediu-se de todos e pediu que dona Marina sempre estivesse em contato com Marcio para que o trabalho em Uberaba não esmorecesse.
Um chuveiro pelo amor de Deus
Era o dia 15 de fevereiro de 1983. Renato partia da rodoviária de Uberlândia de terno e gravata, numa temperatura gostosa de 22°C. No ônibus ia imaginando qual seria sua missão naquele novo processo de sua vida. Para que Estado do Brasil o mandariam, e outros pensamentos, até que o sono o dominasse.
Acordou com uma sensação esquisita. Percebeu que estava com o rosto molhado e sentindo-se sufocado.
Só então se deu conta que já estava próximo da rodoviária do Rio de Janeiro.
A sensação era o calor insuportável que estava sentindo. O relógio marcava 11h00, e a temperatura à sombra da rodoviária era de 40°C.
Já não pensava mais em sua missão ou para onde iriam mandá-lo.
Livrou-se do paletó, a gravata, e sua vontade era a de tirar camisa, calça e se atirar no primeiro chuveiro que encontrasse pela frente.
Como não podia fazer isso ligou para a igreja e pediu que alguém pelo amor de Deus viesse buscá-lo com urgência.
Ao chegar suando em bicas, depois de cumprimentar a todos, pediu licença e correu para um chuveiro.
Depois do almoço, já mais refrescado (se é que dá para o sujeito ficar refrescado numa temperatura daquelas que já devia estar beirando os 42 graus), Renato saiu com alguns dos irmãos que vieram também de outros lugares.
Junto com um irmão da igreja como guia, foram para o centro da cidade fazer algumas compras (roupas e sapatos).
Às 23h00 aí sim com a temperatura mais amena, chegava o ônibus que os levaria à São Paulo. Era um dos três comprados para serem usados pelo I.O.W.C.
Pouco mais tarde, partiam com os outros irmãos rumo a uma aventura ainda desconhecida.
Chegaram em frente à Sede Central onde os outros dois ônibus já lá estavam, com membros de outras partes do Brasil.
Logo alguém batizou aqueles ônibus enormes de "Jumbão".
O presidente da Igreja no Brasil deu as boas-vindas a todos e explicou que os ônibus seriam dentro em breve seu novo lar durante todo o trabalho de evangelização.
O Sítio de Riacho Grande - C.T.I. Centro de Treinamento Intensivo
Após a oração todos embarcavam para São Bernardo do Campo, mais precisamente Riacho Grande onde a igreja tinha um sítio.
Logo na entrada, um lago com peixes, cisnes e patos. Mais adiante vários prédios onde eram realizados seminários, alojamentos e um galpão enorme que servia de refeitório. Ao lado uma piscina semiolímpica e ao redor de tudo isso muito verde, cheio de pássaros.
Era um lugar digno de uma pintura à óleo.
O complexo fora batizado de C.T.I. (Centro de Treinamento Intensivo).
Ainda estava na planta a construção de um outro prédio mais amplo que serviria para reuniões com Chefes de Estado e seminários para professores universitários. A intenção era a de mostrar aos líderes maiores, o trabalho desenvolvido pela igreja, mesclando política e religião.
Em uma nova reunião o presidente falou da necessidade da participação dos escolhidos em um seminário de 40 dias, condição básica para a participação no projeto.
Na manhã seguinte o primeiro contato não foi com livros ou cadernos, e sim com o trabalho pesado. Teriam que demolir um resto de construção velha para ali construírem um prédio onde funcionariam os escritórios, e uma recepção.
Renato pediu para que um dos membros residentes do sítio que estava de saída para a RM enviasse um telegrama para seu filho Vinícius que estava completando naquele dia 17 de fevereiro, dois anos de idade.
Os trabalhos até que se completassem os quarenta dias eram intercalados com palestras, debates, trabalho pesado e saídas para RM e RE.
As saídas para a restauração material se davam ali por cidades próximas: São Bernardo, Ribeirão Pires, Mauá, Santo André e São Caetano.
Quando se afastavam mais iam para Poá, Brás Cubas, Suzano, Álvaro Alvim e Ouro Fino.
O motivo de não fazerem viagens mais longas, estava no fato de que precisavam voltar todas as tardes para o sítio afim de fazerem resumos das palestras ouvidas.
O líder espiritual da igreja reverendo Kim dizia que para um projeto daquele porte todos os envolvidos deviam ter uma grande força para as adversidades que certamente iriam encontrar.
Nem tudo seria um mar de rosas como iriam descobrir.
As saídas para a RM tinham como principal razão juntar dinheiro para que cada grupo pudesse manter-se na sua caminhada além de aprenderem melhor como lidar com o público, pois era dessa maneira que viveriam a partir dali.
Evangelização pelos quatro cantos do País
No final do seminário todos se reuniram novamente com o presidente na Sede Central, onde depois de um sermão e palavras de fé e perseverança, os três ônibus partiam rumo ao Norte, Sul e Nordeste.
O grupo de Renato com 33 pessoas entre homens e mulheres liderados por Jair, e Mercedes, tomava a direção do Norte e Centro Oeste.
Jair estava denominado como diretor de seu projeto e era responsável pelos homens do grupo, já a diretora Mercedes se encarregaria das mulheres.
Era o dia 7 de abril de 1983 e o primeiro destino: Brasília.
No caminho passaram por Uberlândia e foram a igreja de Marcio onde tomaram café.
Renato aproveitou para conversar com Marli que segundo Marcio desde sua ida para São Paulo estava se sentindo triste, pois apesar de saber que estava ajudando Marcio em sua igreja, a sua primeira intenção na verdade foi a de vir ajudar Renato.
Agora além de seus sobrinhos e irmã terem ido para Belo Horizonte, era ele que estava indo para outra missão.
Renato procurou mostrar a ela que seu crescimento espiritual estava justamente em enfrentar aquela situação, e voltar para Uberaba como ela já havia cogitado não a levaria a nada, a não ser o fato de estar com os familiares.
-Procure ser forte e ajudar o Marcio, logo você terá uma missão maior em sua vida, pediu Renato, ore bastante por nosso grupo, pois, não sabemos o que vamos enfrentar nessa nossa caminhada.
Após o café o grupo partiu e apesar de alguns problemas na estrada entre pneu furado, e blitz policial, finalmente chegavam à igreja de Brasília.
Brasília - A terra dos Candangos
O pastor Armando já os aguardava.
A casa, na verdade uma mansão, ficava no Lago Sul (aliás, ali só tem casas desse tipo), era composta de muitos cômodos amplos, e diversas salas. Numa delas com cadeiras, e quadro negro, eram dados os seminários de um e sete dias.
Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschec de Oliveira, Brasília é a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. A transferência dos principais órgãos da administração federal para a nova capital foi progressiva, com a mudança das sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário federais.
O plano urbanístico da capital conhecido como "Plano Piloto", foi elaborado pelo urbanista Lúcio Costa que aproveitando o relevo da região, o adequou ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls. O lago armazena 600 milhões de metros cúbicos de água.
A maioria das construções foram projetadas pelo renomado arquiteto Oscar Niemeyer.
Brasiliense é o nome que se dá a quem nasce em Brasília enquanto que Candango, que geralmente é utilizado para designar os brasilienses, foi originalmente usado para se referir aos trabalhadores que imigravam à futura capital para a sua construção.
O traçado de ruas de Brasília obedece ao Plano Piloto implantado a partir de um anteprojeto do arquiteto Lúcio Costa, escolhido através de concurso público nacional.
Planejada para ter uma população de 600 mil habitantes no ano 2000, a população já atingia os 2,6 milhões em 2009.
Está localizada a 15° 50' 16'' sul, 47° 42' 48'' oeste a uma altura de 1.000 a 1.200 metros acima do nível do mar no chamado Planalto Central.
Sua fauna é predominante típica dos domínios do cerrado com gimnospermas como pinheiros e, também, diversos tipos de árvores provenientes de outros biomas brasileiros.
É uma região que possui uma grande variedade de vegetação, reunido 150 espécies: pindaíba, paineira, ipê-roxo, ipê-amarelo, pau brasil e buriti.
O rio Paranoá foi represado para que se construísse um lago artificial. O Lago Paranoá que tem 40 quilómetros quadrados de extensão, 48 metros de profundidade máxima e cerca de 80 quilómetros de perímetro.
No censo de 1960 havia quase 140.000 habitantes, em 1970 era de 537.000, em 2000 esse número superou a marca dos 2 milhões de pessoas.
Seus pontos turísticos são:
Torre da TV, Congresso Nacional, Palácio da Alvorada, Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Catedral, o Catetinho, Memorial JK, Panteão da Pátria, Teatro Nacional Cláudio Santoro, Santuário Dom Bosco, o Museu Vivo da Memória Candanga, e a recém-construída ponte Juscelino Kubitschek, premiada internacionalmente pela beleza de sua arquitetura, já no ano de sua inauguração.
Esses pontos turísticos recebem anualmente um milhão de visitantes.
A cidade conta ainda com várias áreas verdes como o Parque da Cidade Sarah Kubitschek, o Parque Nacional de Brasília e o Jardim Botânico.
Existem também as cidades satélites: Planaltina a mais antiga (1859), Braslândia (1933), Taguatinga (1958), Cruzeiro (1959), Sobradinho e Gama (1960), Guará 1968, Ceilândia (1971) e outras, além de cidades criadas mais recentemente como: Samambaia (1989), Paranoá (1989), Recanto das Emas, Santa Maria, e São Sebastião (1993). Lago Sul e Lago Norte (1994).
Cidade-satélite é uma designação usada para se referir a centros urbanos surgidos no subúrbio de grandes cidades.
É um termo proibido no Brasil, pelo decreto n° 19.040/98.
A região administrativa (RA) de Brasília nunca recebe essa designação assim como o Lago Sul e Lago Norte raramente são chamados assim embora sejam.
Após as boas vindas, o pastor entrou no ônibus e foi mostrar alguns dos pontos turísticos que Renato só havia visto em noticiários de TV.
As cidades satélites, tiveram prioridade pela equipe, para o trabalho de evangelização e, também, de restauração material porque eram lugares onde existia maior facilidade para se comunicar de porta em porta. Diferente do centro onde só haviam prédios, quadras e o terrível interfone.
Nessas cidades era jogada a semente, convidando as pessoas para conhecerem a igreja e sua proposta.
Como não poderia deixar de ser em pouco tempo, aqueles que não abriam mão de seus conceitos religiosos, já começavam a sentir-se importunados.
A primeira filha espiritual dentro do I.O.W.C.
Renato e mais alguns irmãos escolheram Taguatinga, para realizar seu trabalho, enquanto outros iam para diferentes lugares.
Numa dessas visitas as casas, conheceu Lílian, que se interessou pelo assunto e convidou-o a entrar em sua casa.
Morava sozinha, pois seus pais estavam em outra cidade e ela havia mudado para Taguatinga por causa de uma oferta de trabalho.
Curiosa, quis saber por que Deus não impediu que o homem pecasse.
Renato tentou explicar sobre o livre arbítrio dado por Deus, para que o homem não se tornasse um ser sem vontade própria, uma marionete controlada por cordas frisando também, que vários seguimentos religiosos têm sua própria interpretação do livre-arbítrio e que isso também faz parte do livre-arbítrio, ou seja, liberdade de escolher o que pensar.
Lílian mostrou-se uma garota muito inteligente. Convidando-o para almoçar, decidiu que queria conhecer mais a fundo o trabalho da igreja.
Renato sentia ali, o nascimento de uma filha espiritual, a primeira no Projeto I.O.W.C.
Pedia a Deus que olhasse por ela para que tivesse oportunidade de adquirir um melhor conhecimento.
De fato, no sábado Lílian ligou para a igreja, deixando um recado para ele, para que fosse buscá-la no domingo pela manhã.
No domingo, após buscá-la Renato pediu para não sair. Queria dar toda a atenção a ela, e os outros convidados.
O pastor pediu então que ele ficasse na coordenação do seminário.
Ao final, Lílian assim como os outros, estavam decididos a participar do seminário de sete dias.
Renato continuou saindo para outras locais de Taguatinga, porém procurava sempre dar maior atenção à Lílian.
Não podia permitir que nada mudasse o pensamento dela, pois sabia que sempre haveria alguma coisa, um obstáculo que pudesse impedi-la de ir.
Era preferível ter uma convidada certa do que várias outras ainda em dúvida.
Duas semanas depois era iniciado o seminário de sete dias.
Invasão na Igreja
Lílian havia pedido licença de uma semana em seu trabalho, aproveitando que tinha férias para tirar.
No terceiro dia do seminário, policiais armados acompanhados de repórteres da TV invadiram a igreja provocando grande confusão entre os participantes.
Os policiais acusavam a igreja de uso de drogas, prática de lavagem cerebral e aliciamento de menores.
Naquele dia Renato estava ajudando na coordenação do seminário, responsável pelos cantos iniciais e foi o primeiro a ser abordado por um dos repórteres que o indagou sobre onde estava o líder da igreja.
-Olhe meu amigo, você vai ter que pegar um avião para os Estados Unidos ou Coréia do Sul, com certeza em um desses países irá encontrá-lo, respondeu Renato.
-Você é muito engraçadinho, retrucou o repórter furioso. Tenho certeza que seu líder está aqui.
Junto com os policiais e outros repórteres, invadiu um quarto que era reservado para o reverendo Kim, quando ele vinha à Brasília para uma conferência ou reunião.
Perguntado do por que de tanto luxo, naquele quarto enorme especificamente, o pastor Armando respondeu que aquilo ainda era pouco diante da importância que representava o líder da igreja no Brasil.
Foi o bastante para o repórter dizer diante das câmeras, que enquanto os membros se sacrificavam debaixo de chuva e sol, vendendo produtos de porta em porta, um homem considerado o líder, vivia na maior mordomia.
Explicar para aquele infeliz, que o quarto era usado raramente pelo reverendo Kim era perda de tempo.
Renato tomou a palavra:
-Vocês sabem onde está o nosso aparelho de lavagem cerebral? Ali, olhem, disse apontando para a televisão da sala.
Ela sim faz lavagem cerebral nas pessoas ditando modas, ritmos, bordões e jargões.
Era obvio que suas palavras não iriam ao ar.
Os policiais acabaram levando alguns menores, filhos das pessoas que estavam fazendo o seminário de sete dias, e não tinham com quem deixá-los, além dos filhos de membros externos que estavam fazendo uma visita à igreja.
O pastor dirigiu-se a sala onde estava sendo realizado o seminário, e procurou explicar o que havia ocorrido para que as pessoas se acalmassem.
-Esse acontecimento se deve ao fato de que eu havia dado uma entrevista à emissora concorrente uns dias antes. Essa emissora embora não nos apoie em nossos métodos de evangelização, também não nos crítica e dá espaço para que nos expliquemos junto à sociedade.
Para nós é uma forma de mostrar quem somos, e o que pregamos, e para eles, liderança na audiência, pois o assunto reverendo Moon é um prato cheio para se dar Ibope.
A concorrente vendo que está perdendo espaço, em desespero usa métodos nada convencionais para tentar manter-se acima.
Só que eu não vou deixar isso passar sem uma resposta, pois eles incorreram em vários erros. Primeiro que ninguém pode invadir um local, armado. Segundo: eles levaram os menores causando pânico entre todos. Terceiro: expuseram nossa imagem como se fôssemos bandidos.
O quarto e mais importante erro, foi que longe de abalar a fé de vocês, isso contribuiu para que vocês permaneçam fortes e firmes, disse ele dirigindo-se aos participantes do seminário.
Finalizando, o pastor afirmou que iria entrar com um processo contra a emissora, exigindo retratação.
-Somos bons, mas não somos bobos.
No dia seguinte o jumbão ia para o centro da cidade levando boa parte do pessoal do projeto para a RM.
Na banca o jornal publicava a matéria da invasão com uma foto de Renato, do pastor Armando e do diretor Jair, seguida de uma manchete e um artigo calunioso.
O pastor resolveu prestar queixa do ocorrido levando um advogado da igreja.
Lavagem cerebral na ponta da língua
Renato junto com mais quatro irmãos, estavam num prédio vendendo os biscoitos, quando foram atendidos por um simpático senhor de idade que os convidou a entrar.
Era um senhor muito falante e o assunto não podia ser outro a não ser a invasão da mansão do reverendo Moon.
Na sala, a televisão mostrava a reportagem completa.
-Não sei como as pessoas se deixam levar por esses fanáticos religiosos. São pessoas de mente fraca que se deixam induzir, só pode ser essa a explicação, disse ele em tom crítico.
Renato nada comentou, sabia que a qualquer momento, sua imagem iria aparecer na tela, claro que sem sua declaração.
O senhor continuava falando.
Em dado momento perguntou:
-Vocês não fazem parte dessa seita, fazem?
-Continue olhando a reportagem e o senhor saberá, respondeu Renato.
Quando seu rosto apareceu todos os irmãos o olharam como que perguntando:
"E agora?".
-Aí está, fazemos parte sim da Igreja de Unificação, que a mídia maldosa insiste em chamar de seita, com tom pejorativo, porém não usamos drogas e nem praticamos lavagem cerebral, muito menos aliciamos menores.
Ontem, prosseguiu ele, eu havia dito que a lavagem cerebral estava nos aparelhos de TV, com programas que ditam o comportamento a ser seguido pelo povo, mas evidente que isso eles não iriam colocar no ar.
O problema é que o ser humano acusa, julga e condena sem dar ao réu o direito de defesa. É como alguém que vê um inseto na parede, e taca-lhe o chinelo se dando conta depois que o bichinho era inofensivo. "Ah! aquela igreja? Ouvi dizer que eles são do mal e destroem famílias, vamos lá acabar com eles".
Renato não soube dizer se foi contundente em suas palavras, fato é que o bondoso senhor além de comprar todas as caixas de biscoito que haviam levado, ainda prometeu visitá-los em sua igreja.
Já na rua, todos respiraram aliviados.
-Acho que a lavagem cerebral estava na ponta de sua língua, disse um dos irmãos rindo.
Mostrando a cara na UnB
Tempos depois, o grupo resolveu fazer uma experiência inédita e de risco.
Queriam divulgar os trabalhos da igreja na UnB, Universidade de Brasília.
Para isso pediram o consentimento do pastor e do diretor Jair, sugerindo que um deles entrasse em contato com o reitor da universidade, para que este autorizasse que eles expusessem material de divulgação.
Com a anuência do reitor Renato e mais alguns irmãos junto com Lílian que resolvera participar da experiência foram para a universidade, munidos de folders, panfletos o jornal da igreja "Tribuna Universitária" e a revista "Mundo Unificado".
Lá espalharam todo o material pelos diversos estandes localizados no pátio.
Aquilo foi válido na medida em que ninguém, alunos e visitantes, partiram para o vandalismo.
Os que não concordavam com os métodos da igreja simplesmente olhavam o material com desdém, mas, os mantinham intactos no lugar.
Uma semana depois, prazo determinado pelo reitor, o grupo foi retirar o material.
Se aquilo iria surtir efeito entre os universitários, só Deus poderia dizer. Pelo menos eles já sabiam que a igreja existia e tinha argumentos fortes no que se referia ao comunismo através do jornal Tribuna Universitária que abordava esses assuntos e também o teor religioso publicado na revista Mundo Unificado.
As coisas pareciam estar calmas e controladas, embora ainda repercutisse a matéria no jornal e na TV.
Alguns munícipes ainda acreditavam que a polícia havia destruído toda a mansão do Lago Sul, pertencente ao reverendo Moon.
Era o dia 7 de maio de 83 e Renato comprou cartões alusivos ao dia das Mães, escrevendo no verso, frases bíblicas em nome da Igreja de Unificação e em seguida distribuindo-os pelos prédios da W3.
Mais tarde, junto com três irmãos, voltaram para o estacionamento onde se encontrava o jumbão.
O pastor Armando e o diretor Jair lá estavam e comunicaram que vários irmãos haviam sido presos assim que entravam no ônibus.
Pediu que um dos irmãos ficasse para tomar conta do ônibus enquanto que ele, o diretor e Renato se dirigiam à delegacia.
Lá chegando o delegado já havia liberado o restante do grupo ficando apenas Tiago (motorista) e Maurício que revezava com ele na direção para prestarem esclarecimentos.
A acusação agora era que através de um telefonema anônimo, os "moonies", como eram conhecidos os seguidores da seita do reverendo Moon, estavam colocando menores para trabalharem para a igreja e que os mesmos sempre se encontravam no ônibus.
Na esperança de encontrar algum menor de idade, a polícia ia prendendo todos que por ali aparecessem.
Como o boato era falso, na delegacia a única alternativa do delegado foi a de liberar o pessoal, mantendo apenas os dois motoristas para as formalidades que o ato requeria.
Com a chegada do pastor, assumindo a responsabilidade, eles acabaram também sendo liberados.
No dia 8 de maio não houve atividades na igreja. A ordem era que todos se divertissem.
O pastor levou o grupo e todos os internos ao Parque Pithon (Rogério Pithon Farias, sendo renomeado Parque Dona Sarah Kubitschek em 1997) com direito até à piscina de ondas e futebol.
À noite todos participaram do encerramento do seminário, com teatro, músicas e bolo.
Lílian havia decidido ficar interna, e só se ausentaria por uns dias para pegar suas coisas, e encerrar o contrato de aluguel da casa em Taguatinga, além de pedir demissão do emprego.
Era a primeira "Filha Espiritual" de Renato, naquele projeto.
Goiânia - A Cidade planejada
Naquela mesma noite todos viajavam para Goiânia chegando por volta das 23h00.
Logo na chegada o primeiro problema. Ao tentar estacionar, o Jumbão afundou a roda traseira, dando um trabalho enorme para tirá-lo de lá.
Aqui uma pausa para voltar uns dias antes, logo após a invasão da igreja em Brasília.
O pastor Armando havia recebido uma carta enviada pela pastora Carla de Goiânia, onde ela se dizia temerosa com a passagem do Projeto por sua cidade, devido ao ocorrido em Brasília.
Irritado, o diretor Jair telefonou imediatamente para ela dizendo que aquela não era a atitude de alguém que havia chegado à condição de pastora, pelo mérito de sua fé e força de vontade.
Logo ela que em 81 também havia sofrido junto com outros irmãos todas aquelas ameaças e perseguições.
Goiânia fazia parte do projeto, desde que ele fora idealizado pelo reverendo Kim, e eles iam sim passar um mês lá como haviam feito em Brasília.
Mais tarde o diretor diria que havia sido um tanto rude com ela, mas que era assim que as coisas tinham que ser se quisessem vencer (será que Jesus sentiu medo quando resolveu expulsar os vendilhões do templo de seu Pai?).
Goiânia, capital de Goiás é a segunda cidade mais populosa do Centro-Oeste do Brasil. Assim como algumas outras cidades brasileiras, desenvolveu-se a partir de um plano urbanístico, tendo sido construída com o propósito de desempenhar a função de centro político e administrativo do Estado de Goiás.
Foi fundada em 24 de outubro de 1933, absorvendo em 1937, da cidade de Goiás, a função de capital do Estado.
Desde a época colonial, entre viajantes estrangeiros e parte da elite política da região, era comum tanto a crítica às condições geográficas da cidade de Goiás quanto a ideia da transferência da capital da província para uma área mais conveniente à expansão e desenvolvimento urbanos.
Tal ideia permaneceu em latência até que após a revolução de 1930, Pedro Ludovico Teixeira foi indicado interventor federal no estado de Goiás. Por sua decisão criou-se em 1932 uma comissão encarregada de escolher o local em que seria construída a nova capital.
Em 24 de outubro de 1933, lançou-se a pedra fundamental da construção, num gesto simbólico que marcou a fundação da nova cidade. Porém a transferência da capital do estado para Goiânia somente foi oficializada em 1937 e a inauguração oficial da cidade somente aconteceu em 1942.
O plano piloto de Goiânia foi concebido pelo urbanista Attílio Corrêa Lima e executado pelos engenheiros Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno.
Em conformidade com o mesmo, abriram-se três avenidas principais (Goiás, Araguaia e Tocantins), as quais confluem para a parte mais elevada do terreno do atual centro onde por sua vez foi erigida a sede do governo estadual. Uma quarta avenida principal (Paranaíba) foi aberta perpendicularmente às três avenidas mencionadas, conectando o Parque Botafogo ao antigo aeroporto (o qual estaria localizado no atual Setor Aeroporto). Em 1936, Armando de Godoy assumiu a direção do projeto, interpondo lhe modificações significativas. Godoy reelaborou, sobretudo, a parte sul do projeto de Corrêa Lima, introduzindo nesta área um bairro residencial (o atual Setor Sul), o qual concebeu sob a inspiração do movimento das cidades-jardim, fundado pelo urbanista Ebenezer Howard.
A Febem e a F.E.B. (Fundação Essênia do Brasil)
Como em Brasília, o Projeto I.O.W.C. iniciou seus trabalhos intercalando RM com RE.
Haviam conhecido a Fundação para o Bem-Estar do Menor, Febem, onde puderam constatar todo o sofrimento das crianças ali dentro.
Renato pediu permissão à pastora e ao diretor Jair para que durante as saídas para RM pudesse arrecadar alimentos a serem doados para a Febem no que foi prontamente atendido.
-Mas tudo tem de ser feito em nome da igreja, e tudo que vocês arrecadarem será entregue somente no final do mês, disse ela.
Logo os outros irmãos estavam fazendo o mesmo.
Agora não vinham apenas alimentos, mas também produtos de higiene, além de roupas usadas, mas em bom estado.
A pastora havia feito um comunicado no jornal local sobre o trabalho realizado pelo grupo, frisando que apenas no final do mês seria entregue tudo o que fosse arrecadado.
Era uma maneira de mostrar que o reverendo Moon não era o bicho-papão que todos apregoavam.
Na parte de testemunhos, Renato passou a usar o mesmo método de Brasília, ou seja, se concentrar apenas em uma pessoa, e batalhar por ela até o fim.
Resolveu adotar uma estratégia diferente. Quando batia nas casas se apresentava propondo uma conversa franca sobre a igreja do reverendo Moon, falando abertamente para que ninguém se sentisse enganado. Aqueles que o recebiam já sabiam quem ele era.
Foi assim que começou a trabalhar com Ariane uma moça evangélica.
Quando entrou em sua casa, foi logo bombardeado com um monte de perguntas.
Inteligente e curiosa queria saber tudo, de uma só vez.
-Calma, disse Renato. Aqui em sua casa eu não tenho como responder a tudo, posso apenas pincelar algumas perguntas mais importantes. Na verdade, nem na palestra de um dia realizada na nossa igreja conseguimos responder a tudo.
-O que você quer dizer com isso? Perguntou Ariane.
-Nada! Só posso te adiantar umas pequenas coisas. (Renato não podia falar de um seminário de sete dias a ela assim abertamente), mas decidiu que a exemplo de Lílian, ela seria a bola da vez e concentraria todo seu tempo nela.
Na igreja havia um mimeógrafo velho, mas, que ainda funcionava e Renato teve a ideia de fazer convites utilizando histórias em quadrinhos, já que tinha certa facilidade para desenhar.
Em dez tirinhas ele falava um pouco da história da igreja, do que pregava e da busca do homem pela sua origem. Na última tira ele falava da palestra de um dia convidando a todos para assisti-la, dando endereço e telefone.
Com a permissão da pastora e do diretor (por hierarquia tudo o que se relacione com a igreja tem de ter o aval dos líderes), Renato iniciou o processo e em pouco tempo o mimeógrafo rodava centenas de convites que iam para as ruas através dos irmãos.
A diretora Mercedes teve a ideia de batizar os grupos com o nome que eles sugerissem, e aquele que conseguisse o melhor resultado na RM, ganharia um prêmio no final de cada semana.
Trocando gato por lebre
O grupo de Renato, composto de três pessoas todos torcedores do Santos, foi batizado de "Santástico o Show da Vila", aproveitando a ótima fase que o time estava passando no campeonato brasileiro daquele ano.
Na RM o Santástico saia a caráter, ou seja, com a camisa do time. Por coincidência os três: Renato, Silvio e Maurício, tinham as camisas listradas do Peixe.
Numa dessas saídas, bateram numa casa no bairro Campinas sendo atendidos por uma simpática senhora.
Na sala, seu marido assistia a uma partida de futebol.
A senhora comunicou-o que eles estavam ali para vender lanchinhos, e o marido achando que todos estavam usando a camisa do Atlético Mineiro, mandou que ela comprasse tudo o que tinham nas sacolas.
Na TV o jogo era entre Atlético Mineiro e Santos F.C. e a partida estava 0 x 0.
Contentes os três entraram na casa para deixar os lanchinhos na mesa da sala.
Quando o senhor percebeu que as camisas eram na verdade do Santos, bravo gritou para que a mulher devolvesse tudo.
Na verdade, o Santos estava disputando a semifinal do campeonato, e já havia vencido a primeira partida por 2 x 1, o empate daria a vaga à final para disputar com o Flamengo.
Resmungando mandou que os três saíssem de sua casa.
Com um gesto de pesar a senhora abriu a porta da sala, e eles saíram.
Na rua Renato comentou:
-E ainda nos chamam de fanáticos religiosos.
Já na igreja contaram o fato a todos que riram.
O Santos tinha se classificado para a final.
Na dúvida resolveram não mais sair uniformizados.
Ariane estava cada vez mais interessada na proposta da igreja, mas não se decidia a participar da palestra.
-Vamos fazer assim, disse ela, eu vou à sua igreja se você primeiro vir conhecer a minha.
-Combinado, quando quiser é só me chamar que eu irei com o maior prazer.
Renato sabia que como uma boa evangélica ela também queria arrastá-lo para sua igreja, mas se essa era a maneira que ele tinha de convencê-la, assim seria feito.
Desde a chegada à Goiânia o grupo tinha como hábito ir todos os dias às 5h00, correr em volta do Parque do Zoológico, com dois quilômetros de extensão. Faziam de duas a três voltas e isso ajudava a manter a forma física.
Claro que havia os mais robustos que não conseguiam correr cem metros, mas, mesmo assim, a contra - gosto iam correr.
Naquele dia iriam conhecer um orfanato em Guapó, mantido pela F.E.B. (Fundação Fraternidade Essênia do Brasil) com sede em Goiânia.
Com a ajuda de um rapaz do orfanato a ensinar o caminho em menos de uma hora chegavam ao local.
Apesar da pobreza as crianças eram melhor tratadas do que as crianças da Febem.
Lá se divertiram a valer e Danilo parceiro de Renato em apresentações teatrais em quase todos os finais de seminário, junto com ele, vestido de palhaço, faziam as crianças darem boas gargalhadas.
Logo depois do almoço, todos entraram no ônibus e voltaram para a Igreja.
Renato telefonou para Ariane marcando de irem à sua igreja.
No horário marcado passou em sua casa e juntos foram para o templo.
Acomodaram-se e em poucos minutos o pastor entrava cumprimentando a todos através do microfone.
Quando Renato se preparava para ouvir um sermão bíblico, uma palavra aos fiéis, eis que o pastor começou a criticar outro irmão que nem lá se encontrava, dizendo que o mesmo havia saído daquela igreja para abrir outra do mesmo segmento em outro bairro.
A crítica era feita, pelo fato de que abrindo outra igreja esse tal irmão iria fazer com que os fiéis dali se debandassem para lá, fazendo com o que o dízimo diminuísse.
Resumindo: Estavam tratando as coisas de Jesus como se fosse um comércio, e não queriam concorrência.
Na saída, depois da arrecadação do dízimo e alguns "milagres", fazendo pessoas paralíticas andarem e cegos enxergarem, Ariane perguntou a ele o que tinha achado.
"Prefiro não responder", pensou com seus botões.
Como não queria e nem devia criticar ninguém, pois, esse não era o intuito da igreja do reverendo Moon, Renato, lhe fez um sinal de positivo.
Seu interesse era que ela agora retribuísse a visita.
Os testemunhos em Goiânia estavam muito difíceis, não pelo que acontecera em Brasília e sim, por que as pessoas estavam interessadas em outros assuntos avessos à religião.
Muitos prometiam participar das palestras de um dia, mas ninguém aparecia.
A RM também não ficava atrás e a única coisa que ainda compensava eram as arrecadações de alimentos e produtos diversos, que seriam entregues na Febem no final do mês.
Santos F.C. Vice-campeão brasileiro
29 de maio de 1983. O Santos F.C. finalmente chegava a uma final do Campeonato Brasileiro. Curiosamente no banco dos treinadores duas estrelas do Santos se encontravam.
Carlos Alberto Torres pelo Flamengo e Formiga pelo Santos.
Serginho Chulapa era a grande sensação da equipe alvinegra e artilheiro da competição com 22 gols.
A primeira partida da final deu vitória do Santos 2 x 1 e talvez o excesso de confiança e o famoso "já ganhou", tenham atrapalhado o time. Verdade é que ao final da partida o placar apontava Flamengo 3 x 0 Santos.
Pela primeira vez desde 1965 o Santos estava novamente na Copa Libertadores.
Boas notícias vindas de Uberaba
No dia seguinte, Renato recebia um telefonema de seu Carlos contando que estava tudo bem com ele e dona Gisa. Renato por sua vez, lhe contava as novidades do projeto. Vitórias e dificuldades.
Seu Carlos soubera do ocorrido em Brasília e estava preocupado, mas Renato o acalmou dizendo que a situação estava sob controle.
Porém a realidade de Goiânia era outra, pois realmente estava muito difícil levar as pessoas para as palestras de um dia.
Outro telefonema agora de dona Marina, o deixou feliz. Uberaba continuava com força total e Silvia e Clovis haviam decidido ficar internos. Ela em BH e ele em Uberlândia.
Dona Laurinda e seu Maurício estavam ajudando na Igreja no Lar e continuavam a arrecadar os sacos de leite para o hospital.
A notícia mais importante era que o bispo havia deixado de criticar a igreja.
Dona Marina disse também que Marisa estava em Teófilo Otoni, em condição de RM e Eduardo e Vinícius haviam ficado em Belo Horizonte com ela.
Mesmo com a distribuição dos convites feitos por Renato através das histórias em quadrinhos, as pessoas não se animavam. Parecia que algo os impedia.
O clima estava muito pesado e vários irmãos inclusive Renato estavam se sentindo desanimados e com problemas de saúde.
Viam o diretor Jair cabisbaixo, pensativo e calado. Logo ele que era o primeiro a levantar o astral da turma.
Mercedes também estava na mesma situação, embora demonstrasse menos.
Renato foi à casa de Ariane. Quem sabe ela aceitando seu convite, se dissipasse um pouco daquele desânimo.
Porém sua resposta caiu como uma ducha de água fria.
-Não, Renato! Sei que te devo uma visita, mas as minhas convicções religiosas já estão definidas, e nada vai me fazer mudar de opinião.
-Mas quem te disse que nós queremos mudar suas convicções? Só queremos que você ouça nossa proposta.
-Prefiro não me envolver com outra igreja para não confundir minha mente. Além do mais hoje nosso pastor vai realizar a cura de um menino cego e eu quero estar lá.
Diante daquela resposta, Renato só fez lamentar. Ariane parecia ter um cabresto em seu rosto que a impedia de olhar para os lados.
Triste despediu-se dizendo que as portas da igreja estavam abertas para ela.
Ela nunca apareceria por lá, assim como os convidados de outros irmãos que também só prometiam, mas, não cumpriam.
O ambiente pesado, a falta de ânimo para convencer as pessoas, Renato descobriria depois ser por causa da não sintonia entre a pastora Carla, o diretor Jair e Mercedes.
Essa desunião estava afetando a todos.
Renato sentia-se tão sufocado que resolveu até mudar de cidade para a prática da RM e acompanhado de Tiago, foi parar em Trindade uma cidadezinha do interior de Goiás com mais ou menos 30.000 habitantes.
Pequena demais para dois vendedores, por isso Tiago nem esquentou cadeira, e uma hora depois voltava para Goiânia.
Renato resolveu insistir e ficar até o anoitecer.
Uma tragédia em Goiás
No dia 11 de junho o projeto foi convidado para conhecer a família de um professor, sócio da Faculdade de Goiânia e simpatizante da igreja que tinha participado do seminário para professores universitários realizado em Canela - RS.
Esse professor iria defender a igreja contra as críticas feitas pelo Sr. Flávio Cavalcante em seu programa na extinta TV Tupi.
A fazenda enorme ficava próxima da cidade de Alexania.
Cavalos e gado pastavam mansamente naquela imensidão de terra e plantação.
Seria um dia maravilhoso, para que o grupo pudesse talvez voltar fortalecido para Goiânia.
Porém, uma tragédia aconteceu.
Enquanto uns andavam a cavalo e outros iam para o campo de futebol ali próximo da casa grande, Renato e mais alguns irmãos resolveram nadar no rio que cortava a fazenda.
Os que não sabiam nadar ficavam apenas à margem do rio.
Danilo tentou arriscar e sem que alguém conseguisse impedi-lo, mergulhou...
...para não mais voltar.
Desesperada uma das irmãs gritou para que o acudissem e Renato e outros irmãos tentaram resgatá-lo, mas não conseguiram.
Ainda mergulharam no local onde ele havia desaparecido sem sucesso.
Chamaram o professor e o diretor Jair que se encontravam na casa, mas quando chegaram também não conseguiram achá-lo.
O professor sabia da correnteza que havia na parte funda do rio e calculando o tempo e o local onde Danilo afundara, conseguiu localizá-lo a uns 30 metros adiante preso a alguns troncos no fundo do rio.
Na margem tentou reanimá-lo com uma respiração boca a boca, mas não conseguiu.
Levou-o de carro ao hospital de Alexânia e o diretor Jair como que tentando dar uma esperança aos outros irmãos disse que lá ele seria salvo.
Para Renato e alguns irmãos mais experientes, o desfecho já havia terminado ali na margem do rio.
De volta à Goiânia, mais abatidos ainda ficavam sabendo o obvio.
Renato perdia seu companheiro que sempre o ajudara a compor algumas músicas e peças de teatro para serem exibidas nos finais de seminário de sete dias.
Durante o sermão da noite, o diretor Jair disse que já era prevista a passagem de alguém para o outro lado, só não sabia quem, quando e onde isso iria acontecer, mas, que isso era da vontade de Deus.
Eram palavras bonitas de conforto que Renato custava a aceitar. Danilo praticamente morreu ali diante dele, que mesmo sabendo nadar, não conseguira resgatá-lo.
-Conversando a sós com o diretor este respondeu que nem ele e nenhum membro do grupo podia se responsabilizar pelo ocorrido e que esse tipo de pensamento, só faria entristecer Danilo.
No dia seguinte do hospital mesmo, saía o corpo de Danilo para São Paulo.
O diretor pediu que todos fizessem um jejum de um dia para que se estabelecesse um bom ambiente espiritual para Danilo.
O jejum é uma forma de pagamento para algo que se queira como as promessas que os cristãos fazem e a pessoa fica nesse período apenas com água.
Existe o jejum de um dia que é feito para causas pessoais, data de aniversário etc.
Tem também o jejum de 3 dias para causas que envolvam o coletivo (família, filhos espirituais etc.)
E também o jejum de sete dias que abrange coisas maiores.
No caso específico, o certo seria fazer o jejum de três dias por Danilo, mas o diretor sabia que do jeito que as coisas estavam caminhando, o jejum de 1 dia seria suficiente (com risco de alguém quebrá-lo como aconteceu com uma das irmãs, que não suportou ficar um dia só com água).
De fato, todos ao final do jejum, estavam se sentindo indispostos e com terríveis dores de cabeça, coisa anormal para quem já havia passado pelos três tipos de jejum.
Apesar de todos os problemas, o "Santástico", ganhava o prêmio pelo melhor resultado na RM, embora o melhor resultado ali, nem se comparasse ao pior resultado de Brasília.
E Goiânia, uma linda cidade, com bons atrativos turísticos, tornava-se a primeira pedra no sapato do I.O.W.C., não por causa de seu povo e sim pela incompetência de seus membros e da desunião de seus líderes.
A única boa coisa que aconteceu além do fato de terem conhecido as crianças da Fundação Essênia, foi a entrega do material arrecadado durante a estadia na cidade, na Febem, onde além da entrega, houve teatro e música para os internos, amenizando por algumas horas seu sofrimento e aliviando o ânimo dos membros da igreja pelo mal resultado adquirido.
Belém A cidade morena das mangueiras
Em 14 de junho o grupo partia para Belém tentando passar de uma vez por todas uma borracha naquela estada em Goiânia, desde o primeiro dia quando o Jumbão afundou no piso.
A primeira parada na rodovia Belém-Brasília, foi em um posto na cidade de Alvorada, onde tomaram banho e jantaram entrando em seguida no ônibus para dormir.
Às 6h15 do dia seguinte prosseguiram viagem chegando a cidade de Imperatriz (MA).
Dirigiram-se à casa dos pais de Flavio um dos membros do projeto para tomar café.
Como não dispunham de muito tempo para a RM, também não puderam conhecer a cidade e isso ficaria para a volta, pois com certeza iriam passar por lá novamente.
Pararam em outro posto agora em Santa Maria, onde almoçaram e por volta de 19h00 estavam em frente à igreja de Belém onde o pastor Cardoso já os esperava.
A casa bem como o bairro estava às escuras e sob a luz de velas ouviram um sermão do pastor.
No dia seguinte todos foram conhecer a cidade e seus pontos turísticos.
Belém ou Belém do Pará é considerada a maior cidade na linha do Equador, a segunda cidade mais populosa da região norte e principal cidade da maior região metropolitana da Amazônia.
É conhecida como "Metrópole da Amazônia" e, também, "Cidade das Mangueiras" pela abundância dessas árvores que amenizam o calor.
Por ter característica herdada da miscigenação do povo português com os índios Tupinambás, nativos habitantes da região à época da fundação, é denominada "Cidade Morena".
Historicamente se constituiu na principal via de entrada na região norte do Brasil, tendo uma posição geográfica privilegiada às margens do rio Guamá, próximo da foz do rio Amazonas.
O estabelecimento do primitivo núcleo do município remonta ao contexto da conquista da foz do rio Amazonas à época da Dinastia Filipina, por forças luso-espanholas sob o comando do capitão Francisco Caldeira Castelo Branco, quando a 12 de janeiro de 1616 fundou o Forte do Presépio.
A povoação que se formou ao seu redor foi inicialmente denominada de Feliz Luzitânia. Posteriormente foi sucessivamente denominada como Santa Maria do Grão Pará, Santa Maria de Belém do Grão Pará, até a atual denominação de Belém, sendo a primeira capital da Amazônia.
Nesse período, ao lado da atividade da coleta das chamadas "drogas do sertão", a economia era baseada na agricultura de subsistência complementada por uma pequena atividade pecuária e pela pesca praticada por pequenos produtores que habitavam principalmente na Ilha de Marajó e na Ilha de Vigia.
Distante dos núcleos decisórios da região nordeste e sudeste do Brasil e fortemente ligada a Portugal, Belém reconheceu a Independência do Brasil apenas a 15 de agosto de 1823, quase um ano depois da sua proclamação.
A cidade é conhecida por realizar uma das maiores festas religiosas do País:
O Círio de Nazaré que ocorre no segundo domingo do mês de outubro.
Seu clima é quente e úmido, influência direta da floresta amazônica.
A culinária paraense é uma das mais típicas e diversificadas do Brasil com clara influência indígena.
O Pato no Tucupi é o prato símbolo dessa culinária. Tucupi é o sumo amarelo extraído da raiz da mandioca brava quando descascada, ralada e espremida.
Depois de extraído, o caldo "descansa" para que o amido se separe do líquido.
Inicialmente venenoso devido à presença do ácido cianídrico, o líquido é cozido e fermentado de 3 a 5 dias para, então, ser usado como molho na culinária e espremida tradicionalmente usando-se um tipiti, uma espécie de prensa ou espremedor de palha trançada usada para escorrer e secar a mandioca ralada.
O objeto é utilizado por índios brasileiros e ribeirinhos no preparo da farinha de mandioca (manibat).
Há também o Tacacá feito com o tucupi, alho, pimenta de cheiro camarão salgado e seco, goma de mandioca e Jambu, (também conhecido como agrião-do-pará, uma erva típica daquela região). É vendido em carrinhos nas esquinas das ruas (como o pastel), e Renato não passava um dia sequer sem visitar esses carrinhos.
O bairro Cidade Velha é o mais antigo e foi a partir dali que surgiu Belém, pois é ali que se localiza o Forte do Castelo (originalmente conhecido como Forte do Presépio).
Seus pontos turísticos além do Forte são: Mercado do Ver-O-Peso, a Igreja da Sé, o Conjunto Arquitetônico Feliz Luzitânia, os palácios Antonio Lemos e Lauro Sodré, Zoológico Emilio Goeldi com animais e plantas regionais.
É em Belém que fica a fábrica da Phebo, por isso quando são abertas suas chaminés, o ambiente fica com um cheiro muito agradável, sem contar com as inúmeras lojas que vendem variados tipos de águas de cheiro e sais de banho, no centro da cidade.
Contudo esse cheiro agradável limita-se apenas àquela região, pois o mesmo não se pode falar quando nos aproximamos do mercado do Ver-O-Peso.
Ao contrário de Goiânia a preparação para receber o I.O.W.C. por parte do pastor Cardoso e os irmãos lá internos foi cercada de muita espiritualidade a começar pelo primeiro sermão falando entre outras coisas que o grupo não deveria se sentir desanimado por causa dos acontecimentos negativos em Goiânia, pois Jesus também teve muito trabalho para evangelizar o povo e seus ensinamentos não se perderam no tempo.
A semente que o I.O.W.C. estava jogando com certeza traria boas árvores e bons frutos.
Assim com uma aura totalmente favorável iniciaram a evangelização em Belém.
Com o passar dos dias foram descobrindo que o melhor horário para praticarem a RM era na parte da manhã até o meio dia e depois só a partir de 14h00.
Nesse entremeio não havia qualquer possibilidade de alguém ser atendido na porta.
Explica-se: Esse horário é reservado para que eles pratiquem a "siesta", daí o barulho característicos das redes balançando, que o grupo ouvia quando ainda sem saber desse pequeno detalhe, batia nas casas.
Foi o pastor Cardoso quem os alertou sobre o fato.
-Nesse período pode até cair a casa que eles não saem de suas redes.
Renato resolveu mudar de tática para a RE e passou a dar testemunhos ao maior número de pessoas possível.
Já que a aura era favorável era bom não deixar passar.