PARTE OITO

Criar um Site Grátis Fantástico
PARTE OITO

Bons fluidos na Capital do Pará

Assim tanto ele quanto o grupo, enchiam a igreja de gente interessada em participar das palestras de um dia que eram realizadas diariamente, dando oportunidade para aqueles que não tivessem tempo de concluí-lo naquele dia, voltassem no dia seguinte.

Renato conseguiu se fixar em três convidados seus: Marlene, Silas e Marizete, que apesar dos contratempos por causa de seus afazeres, finalmente conseguiam terminar a palestra e em seguida o seminário de sete dias.

Ao final Marizete e Silas ficavam internos, e Marlene por ser menor de idade, ficava externa.

Eram agora quatro filhos espirituais desde o início do projeto.

Na festa de encerramento do último seminário de sete dias (haviam sido realizados, 3 durante o tempo em quem lá estiveram), muitos dos convidados optaram por ficar internos e ajudaram na composição da peça teatral que seria apresentada naquele final.

Como o pastor Cardoso havia dito a semente fora plantada e muito bem plantada, e agora estavam colhendo os frutos.

Com a sensação do dever cumprido, o grupo partia agora para Manaus.

A primeira viagem de avião de Renato

Era o dia 21 de julho de 1983.

Todo aquele sentimento de derrota em Goiânia havia finalmente ficado para traz.

Alguns dos irmãos haviam partido de balsa acompanhando o jumbão, enquanto que os outros iam de avião.

Para agradecer o bom desempenho em Belém, o grupo havia iniciado à meia noite do dia anterior um jejum de um dia, e agora no avião estavam fazendo o desjejum.

A decolagem se deu às 23,30 do dia 21 e por causa do fuso horário, chegavam ao aeroporto de Manaus, no mesmo horário do mesmo dia.

O pastor Bernardo já os esperava.

A história de Manaus é muito bonita, porém muito longa para ser contada aqui.

Basta dizer apenas que a 4 de setembro de 1856 pela Lei n° 68 já no decurso do 2° governo de Herculano Ferreira Pena, a Assembléia Provincial Amazonense dá nome a cidade de Manaus em homenagem a valente nação indígena Manaós, a cidade que também se chamou Nossa Senhora da Conceição da Barra do Rio Negro, Cidade do Rio Negro e Lugar da Barra.

Como nas outras cidades, o pastor levou o grupo para conhecer os pontos turísticos, não faltando é claro o Teatro de Manaus.

O sistema adotado tanto na RM quanto na RE, foi o mesmo de Belém e, também ali, o povo era de uma receptividade cativante.

Cada grupo era composto de 4 pessoas e tanto na RM quanto na RE, Renato saía com os irmãos Lídia, Dario e Tony, e estavam conseguindo bons resultados.

Logo na primeira semana muitas pessoas adentravam a igreja para assistirem às palestras.

Renato havia trazido Elaine e sua prima Lindalva que ainda era menor de idade.

As dependências da igreja ficavam totalmente tomadas por isso era comum ver os palestrantes improvisando quadros negros no quintal da casa.

Foi dessa maneira que Renato iniciou a palestra para as suas convidadas e mais uma convidada de Aloísio.

Renato deu boa parte da palestra pedindo que Aloísio a completasse.

A beleza de Manaus com seu teatro famoso, a Igreja Matriz, o cais e todo o mistério que envolve a capital amazonense, contribuíam para que o grupo sentisse a força espiritual positiva que os abrangia.

Renato não escondia a alegria de estar ali naquele solo, por isso não se importava de andar de 4 a 5 horas seguidas por bairros distantes. Queria conhecer cada centímetro daquele lugar maravilhoso.

Sempre dissera para si mesmo que antes de morrer iria conhecer Manaus e o famoso encontro das águas e isso estava se realizando.

Elaine e Lindalva estavam entusiasmadas com o que acabavam de ouvir e não viam a hora de participar do seminário de sete dias.

Finalmente o seminário começava e junto com muitos outros convidados lá estavam elas.

Enquanto o seminário era realizado o trabalho do I.O.W.C. continuava e Renato trazia mais dois convidados. Otavio e Rose (sua namorada).

Otavio trabalhava em uma fábrica de montagem de produtos eletrônicos na Zona Franca e tinha um salário muito bom, por ser inspetor de qualidade, porém como dissera a Renato durante uma visita à sua casa, ainda lhe faltava algo.

Tinha uma namorada a quem amava muito e por isso dizia rindo que não era "falta de mulher" que o deixava triste e incompleto.

-Quem sabe não esteja lhe faltando uma visão mais ampla da Bíblia, arriscou Renato.

-Pode ser, sou católico, mas, raramente frequento as missas.

-Então estou te convidando a participar de uma palestra na nossa igreja, onde você ficará sabendo da verdadeira origem dessa sua tristeza. Que tal, aceita?

-Posso levar minha namorada?

-Pode não, deve.

Na noite seguinte após sair do serviço, Otavio chegava com Rose e mais uma vez Renato e Aloisio se encarregavam da palestra.

Junto com eles, mais dez convidados.

Como era de se esperar, ao final, todos ficavam sem reação alguma e cheios de pontos de interrogação na cabeça e isso por si só já era uma reação natural.

Um banho de água quente e o bom resultado na Restauração Espiritual

Elaine decidira ficar interna, porém, Lindalva por ser menor de idade precisava da permissão dos pais, por isso Renato foi à casa dela para pedir uma autorização por escrito e registrada em cartório, para que não houvesse problema futuro.

A reação de dona Benedita sua mãe foi inesperada.

-Filha minha nenhuma vai sair de casa para se aventurar em uma igreja que mal conhecem. Ela pode até frequentá-la, mas, a noite eu a quero aqui comigo.

Ao retrucar erroneamente dizendo que mesmo sendo menor de idade já era dona de suas próprias decisões Renato quase leva um banho de água fervendo que ela tinha no fogão e isso só não aconteceu porque Elaine pediu a tia que se acalmasse.

Furiosa dona Benedita o expulsou da casa.

Elaine apesar do incidente continuava junto com a prima a ir todos os dias à igreja, ajudando inclusive na RM, porém voltando à noite.

Com o passar do tempo dona Benedita resolveu também junto com o marido, participar de uma palestra.

Foi o suficiente para que sua visão do comportamento dos irmãos da igreja, fosse outra.

- Se a mae da Elaine deixar pode ficar com vocês, mas, por enquanto Lindalva fica comigo.

Quando completar maioridade se ela quiser pode ir também, disse seu Lauro (pai de Lindalva).

-É preferível que elas estejam participando de uma religião, do que estar no meio da rua, fazendo só Deus sabe o que, completou dona Benedita.

Otavio e Rose, iniciavam o seminário de sete dias e ao final deste, resolviam ficar internos, porém, sem deixar o emprego.

Ou seja, saiam para trabalhar e voltavam para a igreja. No final de semana durante a folga aí sim se dedicavam totalmente à igreja.

Renato estava contribuindo com suas sementinhas e com isso já somava oito filhos espirituais em apenas 4 capitais. Era pouco, mas, um bom início.

Viagem para Boa Vista

No dia 23 de agosto, Renato e mais 14 irmãos viajavam para Boa Vista, capital de Roraima, passando em um posto para tomarem vacina.

Por ser muito grande, o jumbão teve de ser substituído por um ônibus menor, pois no caminho até Boa Vista, teriam de passar por muitos rios, e a frente do ônibus era muito baixa para entrar nas balsas e um dos irmãos de Manaus, levou o jumbão de volta.

Já na divisa entre Amazonas e Roraima a primeira travessia confirmava isso.

Após a travessia, pararam em um posto do Exército, passando em seguida pelo aeroporto improvisado do MEC, entrando na reserva indígena.

Logo no início pararam em um posto da Funai onde foram avisados para que não parassem em hipótese alguma na estrada.

Existe a tribo Waimiri Atroari uma etnia do tronco linguístico Karib, cujo território imemorial de ocupação se localiza naquele trecho.

Eram conhecidos como Crichanás, quando segmentos expansionistas da sociedade envolvente brasileira travavam seus primeiros contatos com eles, sobretudo a partir do Século XIX. (leia mais abaixo).

A travessia da estrada por chão de terra batida leva duas horas e meia e durante o trajeto é possível ver alguns animais de hábitos noturnos, por isso os motoristas são aconselhados a não correr muito para não ter o risco de atropelamento.

Em um trecho da estrada o grupo observou uma placa alusiva ao Padre antropólogo Giovane Calleri e sua comitiva, exterminados pelos índios quando exploravam a região em 1968 na tentativa de manter contato com eles no período de três meses.

Outro grupo dizimado foi a Fundação Nacional do Indio (FUNAI), chefiado pelo indigenista Gilberto Pinto Figueiredo, que tentara restabelecer a frente de atração com o intuito de promover um contato baseado no respeito à cultura indígena.

Esses dois episódios emblemáticos se deram exatamente pelo contato atabalhoado decorrente da pressão para se construir a BR 174 (Manaus-Boa Vista).

Às 5h50 do dia 24, saiam da reserva e às 7h10 estavam na linha do Equador trecho Manaus-Caracaraí, no quilometro 360 da BR 174, onde registrava 00° 00° 00° latitude e 60° 38° 45° longitude.

Ali desceram para tirar fotos.

Em seguida, o ônibus parou na divisa de Boa Vista com a perimetral Norte que vai ao Amapá, onde os motoristas tomaram lanche.

A próxima parada depois da última travessia de balsa, foi em Caracaraí, para que os motoristas pudessem almoçar.

Ás 14h25 chegavam à Boa Vista e se dirigiam à igreja do pastor Alcides.

Boa Vista é a capital e o município mais populoso de estado de Roraima, concentrando aproximadamente dois terços dos roraimenses.

Situa-se na margem direita do rio Branco e é a única capital brasileira localizada totalmente ao norte da linha do Equador.

Seu traçado urbano foi organizado de forma radial planejado entre 1944 e 1946 pelo engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson, lembrando um leque, em alusão às ruas de Paris.

Foi construído no governo do capitão Ene Garcez, o primeiro governador do então Território Federal do Rio Branco. As principais avenidas do Centro da cidade convergem para a Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se concentram as sedes dos três poderes.

O município de Boa Vista formou o primeiro povoamento caracteristicamente urbano da região do atual estado de Roraima.

Foi fundada em 1830 pelo capitão Inácio Lopes de Magalhães, originando-se de uma das inúmeras fazendas de gado situadas ao longo dos rios que compões a bacia do rio Branco pertencente à então província "São José do Rio Negro", atual Amazonas.

O Forte São Joaquim, localizado a 32 quilômetros da capital fundado em 1775 deu considerável importância para a região.

Em 1858 a povoação foi elevada à categoria paroquial com a denominação de freguesia de Nossa Senhora do Carmo do Rio Branco, e em 9 de julho de 1890 a freguesia foi elevada à categoria de vila, sede de um novo município denominado Boa Vista do Rio Branco (criado pelo então governador amazonense, Augusto Villeroy), que passou a presenciar um maior e mais veloz crescimento graças à construção da tão desejada BR 174 ligando-o a Manaus, a capital provincial (embora o seu crescimento exponencial só tenha se iniciado em meados de 1970). A área municipal da vila de Boa Vista foi desmembrada do antigo município amazonense de Moura.

O município de Cantá, a 38 quilômetros de Boa Vista, abriga um local propício para quem busca desafios e aventuras e meio a uma floresta tropical: a Serra Grande. O visitante encontrará uma trilha íngreme, terá que caminhar e saltar sobre troncos, pedras, cruzar riachos e ter muita disposição para aguentar as cerca de quatro horas até os 923 metros do topo. A Serra Grande é um lugar cheio de mistérios e belezas naturais. Na subida da trilha contempla-se a floresta exuberante, variedade de fauna e flora (avistam-se macacos, quatis, tamanduás-bandeira, entre outros animais, e variedade imensa de pássaros, além de muitas espécies de bromélias, orquídeas e árvores de grande porte, como a Sumaúma).

Ao longe é possível avistar a cidade de Boa Vista. Um passeio bonito, cheio de aventura num lugar selvagem bem próximo da cidade.

O diretor Jair pediu que Renato datilografasse as fichas de inscrição para as palestras de um dia, e levasse a uma gráfica para que fossem impressos.

     A opção foi por trabalhar na restauração espiritual (RE), pelo fato de que tendo o pastor Alcides apenas dois membros internos, fazia-se necessária a investida nessa área, para que após o seminário de sete dias, outras pessoas pudessem se juntar a ele.

Novamente Renato saía com o Dario e também com Lídia para esse trabalho.

Dando testemunho a um casal adventista

Logo na primeira semana Renato convidou uma moça e seu esposo (Rosario e Renê), que eram Evangélicos da Igreja Adventista da Reforma, para a palestra de um dia.

Rosário explicou que a Igreja Adventista do Sétimo Dia Movimento de Reforma (IASD-MR) teve esse nome adotado por causa de uma disputa na Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) da Europa sobre a participação militar na Primeira Guerra Mundial. Em 1914 a Divisão Européia da IASD da Alemanha decidiu que se convocado, o adventista deveria participar do serviço militar e da guerra e mesmo trabalhar no sábado durante o período de beligerância. Alguns membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, principalmente na Europa, acharam a decisão da igreja errônea, pois, ao membro que fosse a guerra, seria incapaz de guardar o sábado e ainda pior, teria que tirar a vida de um semelhante seu, podendo inclusive este semelhante ser um outro membro da igreja adventista em outro país.

Por causa dessa decisão houve a separação.

Ao terminarem a palestra e por serem adventistas evidente ficou que criariam uma certa polêmica e o diretor Jair que havia dado a palestra, procurou tirar as dúvidas do casal.

Dias depois ao serem convidados para o seminário de sete dias, Renê não aceitou, por não acreditar no que havia ouvido.

Rosário ficou balançada e demonstrou seu desejo de participar do seminário, mas Renê seria seu obstáculo.

Renato pediu que ela tivesse paciência e não se confrontasse com o esposo dizendo que o que a igreja menos quer é que casais se separem.

-As pessoas que já tem uma certa tradição em alguma igreja, têm mais dificuldade em aceitar qualquer outro ensinamento religioso e isso é normal. Se forçarmos a barra corremos o risco de perdê-lo de vez, e, mesmo que não nos aceite nós o queremos como amigo, e você não vai querer perder o marido não é verdade?

-No seu dia a dia vá conversando com ele tentando mostrar que um conhecimento a mais não vai causar nenhuma mudança em suas convicções.

Você será nossa evangelizadora em sua casa. Pesquise junto com ele sobre o que ouviu, completou.

O primeiro problema surgiu quando Renato foi à Biblioteca onde Rosário trabalhava apenas para agradecer pela ajuda que tinha dado, para que as fichas de inscrição fossem confeccionadas. (ela tinha um amigo em uma das gráficas da cidade, que não cobrou nada pelo serviço).

Uma das bibliotecárias, que conhecia apenas a versão de que a igreja praticava lavagem cerebral, e acompanhou todas as críticas e perseguições feitas a ela no ano de 81, o ameaçou dizendo que poria um investigador para descobrir o trabalho da igreja, se ele não parasse de ficar importunando a amiga.

-Olha você pode colocar quantos investigadores quiser, pois não escondemos nada de ninguém. Damos nossos testemunhos a qualquer pessoa e em qualquer lugar.

Se quiséssemos nos esconder não poderíamos jamais sair pelas cidades em campanha de evangelização, não concorda? Disse Renato em tom bravo.

-Mas você está incomodando a Rosário com suas investidas.

-Quem deve achar que está sendo incomodada é ela e não você. Além disso só vim aqui fazer um agradecimento. Aliás, ao invés de ficar me criticando porque você não vai lá na nossa igreja para nos conhecer melhor?

-Não, meu filho, eu já tenho com o que me preocupar e uma religião a seguir, não preciso de outra.

Renato para não prolongar aquela discussão que não levaria a nada, despediu-se de Rosário e foi embora.

A invasão dos motoqueiros

No dia primeiro de setembro, todos após a cerimônia de inclinação, ouviram do diretor Jair, que não saíssem para a RE, pois um grupo na cidade estava se reunido para invadir a igreja.

À tarde saíram para a RM e na praça onde há o monumento ao garimpeiro, o diretor Jair começou a ser insultado por alguns motoqueiros que gritavam "Fora reverendo Moon".

Renato e mais dois irmãos tentaram intervir, mas, o diretor pediu que eles se afastassem, para não haver maiores problemas, porém à noite aquele mesmo grupo invadiu a igreja fazendo um grande barulho com suas motos.

Queriam saber onde estava o "aparelho de lavagem cerebral".

O pastor Alcides e o diretor tinham ido à rodoviária.

Entrando na casa os motoqueiros exigiam que se desse uma palestra a eles, pois, queriam saber porque as pessoas que participavam daquele "curso" ficavam diferentes e esquisitas.

Um dos irmãos tentou explicar que não havia aparelho de lavagem cerebral algum e que os ensinamentos eram os mesmos que Jesus ensinara em sua época, só que com uma linguagem que o povo daquele tempo podia entender. (parábolas e metáforas).

-Por isso Jesus foi criticado perseguido e crucificado, justamente o que vocês estão querendo fazer agora, disse ele.

Renato interferiu dizendo que aquele não era o momento de dar uma palestra a eles.

-Se vocês quiserem podem vier amanhã pela manhã e damos uma explicação exclusiva para vocês, hoje não dá, pois, além de ser tarde, sob a pressão que vocês estão fazendo não temos condições de explicar nada.

Não concordando com aquele argumento, um deles que devia ser o líder, ordenou que quebrassem tudo.

Foi quando se ouviu a voz do vizinho gritando que a polícia estava chegando.

O suficiente para que todos debandassem em suas motos e seu barulho infernal.

Mais tarde já com o pastor e o diretor em casa, o vizinho explicou que havia blefado porque na verdade não havia polícia alguma.

Esse vizinho embora não participasse da igreja era um grande amigo do pastor.

De madrugada os motoqueiros voltaram, mas não se atreveram a entrar talvez achando que lá dentro tivesse algum policial.

Renato começou a achar que a bibliotecária estivesse envolvida.

-Primeiro ela me ameaça e logo em seguida acontece isso. É muita coincidência, pensou.

Na manhã seguinte todos saiam novamente para a RE, como se nada tivesse acontecido.

Continuaram a dar testemunho na praça, inclusive para alguns daqueles jovens que tinham invadido a igreja.

Talvez aí esteja a diferença. As pessoas se perguntam do porquê do pessoal do Moon, sofrer insultos, agressões e além de não reagir, ainda continuam com seu trabalho sem se intimidar com nada.

Se cada vez que um membro da igreja sofresse uma agressão física ou moral, resolvesse reagir ou abandonar seu propósito, ou estaria preso ou então a igreja acabaria no momento em que passou a existir.

É esse comportamento dos membros em qualquer lugar do mundo que faz com que as pessoas se tornem curiosas e resolvam conferir de perto o que está acontecendo.

Não foi diferente com os motoqueiros de Boa Vista e em pouco tempo lá estavam alguns deles participando das palestras. Menos é claro, o seu líder.

Por isso a ordem era que cada irmão da igreja na saída para a RE que cruzasse com um motoqueiro, deixava um recado para que seu líder procurasse a igreja.

-Ele não pode nos condenar sem primeiro conhecer nosso objetivo. Um verdadeiro líder é o primeiro a dar a cara a tapa, disse Renato a um dos motoqueiros durante um testemunho na praça.

Foi dessa maneira que alguns deles começaram a se aproximar. Primeiro ressabiados depois curiosos e em seguida enchendo-se de coragem participavam das palestras.

Confundindo as religiões

Um dia Renato, Lídia Dario e Tony bateram numa casa se identificando.

Um casal de idosos os recebeu e depois das apresentações já em sua sala, perguntaram o porquê do nosso líder ter ordenado aquele suicídio em massa, em busca da salvação.

A ficha de Renato demorou, mas, começou a cair, lembrando da dificuldade que todos tinham de dar testemunho onde muitos chegavam a expulsá-los da porta de suas casas.

Na verdade, eles estavam confundindo o reverendo Moon com o lunático Jim Jones que ali bem próximo em Georgetown (Guiana Inglesa), havia pedido que todos os fiéis entregassem sua vida terrena como prova de fé e rápida chegada ao mundo ideal.

Nosso líder não tem nada a ver com Jim Jones. Pelo contrário, nossa ideologia é outra e a busca pela salvação está em gerar filhos, família e a sociedade para Deus. E o suicídio não leva o homem a Deus, pelo contrário, o distancia ainda mais, porque, somente os covardes conseguem tirar a vida que Deus lhe deu.

Podem ter certeza que Jim Jones e seus fiéis foram para um lugar bem diferente do céu.

Diante daquela pequena, mas, contundente explanação, o casal mais calmo prometeu visitar a igreja.

Renato concluiu pedindo a eles que fossem testemunhas vivas da Igreja de Unificação, contando a parentes e amigos quem realmente era o reverendo Moon.

A partir de então, todo o membro da igreja que saísse para a RE, deveria se apresentar falando abertamente quem eram para que não houvesse mais transtornos.

As palestras foram aumentando infelizmente com a presença de policiais por todo o quarteirão da casa, pois apesar de alguns motoqueiros quererem apoiar a igreja, ainda assim eles se omitiam por causa de seu líder, que ainda não ousara se aproximar.

Seria medo de descobrir que a igreja estava certa e não era nenhum bicho papão, ou medo de assumir o erro diante de seus comandados?

O convite a ele continuava sendo dado.

Um testemunho que abalou

Em outro testemunho, Renato conheceu Aline, uma garota muito bonita que a princípio se interessou em conhecer a igreja.

Combinaram de ele passar em sua casa no domingo seguinte bem cedo.

Às sete horas lá estava Renato na porta de sua casa. Tinha vindo numa bicicleta que um irmão havia emprestado.

Ao bater na porta, Aline pediu que ele entrasse, pois, a porta só estava encostada.

O que viu em seguida mexeu com toda sua estrutura como homem que era.

No sofá, linda estava ela sentada. Um baby dool transparente deixava à mostra todo seu lindo corpo.

O primeiro impulso de Renato como homem, foi atirar-se em cima dela que percebendo sua angustia o provocava ainda mais.

Um verdadeiro turbilhão estava naquele momento passando por sua cabeça.

Como homem de sangue nas veias, estava prestes a cometer um erro fatal.

Por um momento se colocou na posição de Adão em relação a Eva, sabendo que se desse vazão ao seu desejo carnal, tudo aquilo que vinha conquistando até ali, iria por água abaixo, pois assim como Adão, não conseguiria esconder seu semblante e o trabalho que Deus vinha realizando através dele, também estaria perdido.

Tudo isso passou em sua mente em uma fração de segundos.

Foi o suficiente para que ele tomasse as rédeas da situação.

Afastando-se para a porta, pediu que ela se vestisse, pois estavam atrasados.

-Estou lá fora te esperando, disse ele meio que gaguejando.

-Venha cá, a palestra pode esperar um pouco. Quero ver como um discípulo de Deus reage à carne.

-Escute Aline, sei que será difícil você entender o que vou dizer, mas o propósito de nosso trabalho e nossa igreja é fazer o caminho inverso ao que fizeram Adão e Eva em relação ao sexo. Podemos sim nos relacionar sexualmente, porém, na hora e com a pessoa certa.

    Embora soubesse que estava falando demais para alguém que nem a palestra de um dia havia assistido, Renato continuou:

-Eu já tenho minha esposa e é por ela e meus filhos, que estou lutando por um mundo melhor. É com ela que terei um relacionamento sexual na época certa.

-Quer dizer que você tem sua mulher, mas, não faz sexo com ela? riu Aline.

Olha meu querido, isso está sem pé nem cabeça, eu é que não quero abdicar do que gosto por igreja nenhuma.

Aborrecido, Renato se despediu dizendo:

-Quando você resolver abdicar e achar que merece ouvir o que temos a dizer, nos procure. Você tem o endereço.

Na volta para casa, a bicicleta vinha fazendo mil zig-zags por causa da tremedeira em suas pernas.

Mentalmente analisou que havia passado pela tentação do deserto.

-Foi difícil, mas eu venci, pensou triunfante.

A volta à Manaus

No dia 6 de setembro de 1983 nove pessoas entre elas Renato, voltavam à Manaus, enquanto os irmãos que não haviam ido para Boa Vista, agora o faziam.

O diretor Jair não embarcaria com o grupo, e em seu lugar vinha o irmão Lino como coordenador.

O propósito era a RM e a meta a ser atingida era de Cr$20.000,00 por dia para cada um.

Em Manaus Renato pode rever seus filhos espirituais que agora também saiam com ele pelas ruas da cidade.

Recebera notícias de sua esposa e seus filhos. Marisa estava viajando por várias cidades de Minas em condição de RM, numa perua, em um projeto chamado M.F.T., uma espécie de mini I.O.W.C. e se sentia feliz por poder fazer parte da restauração do mundo. As crianças ficavam com dona Marina em Belo Horizonte quando Marisa saía para essas viagens.

De Boa Vista vinha a tão esperada notícia de que finalmente o líder dos motoqueiros havia dado sua mão à palmatória e agora já estava participando do seminário de sete dias e junto com os amigos apoiava a igreja.

O Bispo também resolvera parar de criticar.

Mais uma vez a teoria de Jesus Cristo estava certa quando ele dizia que se alguém batesse em seu rosto, ele daria o outro lado.

Em 23 de setembro após cumprirem a meta estabelecida, o grupo recebia de volta os irmãos que tinham ido à Boa Vista.

Apesar do pouco resultado alcançado lá, algumas pessoas optaram por ficar internas.

Rosário e René ainda não haviam se decidido, mas estavam bem encaminhados.

Renato fizera sua parte plantando a semente, caberia ao pastor, cultivá-la.

Porto Velho o novo "Eldorado"

A próxima parada agora, seria Porto Velho, capital de Rondônia e na tarde do dia 24 às 14h17, partiam da rodoviária de Manaus para o novo destino, depois da vistoria e todas as malas e claro a exemplo de Boa Vista a famosa vacina.

Às 15h30 entravam em uma balsa que os levaria ao município de Careiro ainda no Amazonas.

No caminho, Renato matava o tão sonhado desejo de ver o encontro das águas.

Como estava cheia de turistas a balsa parou para que todos tirassem fotos e pegassem as duas águas na mão para se certificar se elas realmente não se misturavam.

Depois de mais algumas travessias, em Castanho e Jutaí, as 11h00 do dia 25 chegavam a Porto Velho, atravessando o Rio Madeira chegando em seguida em frente à Igreja do pastor Willian.

Após a oração de chegada almoçaram e saíram para conhecer a cidade.

Viram o Museu da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e de trem foram ao povoado de Santo Antônio onde tiraram fotos.

Porto Velho é a capital e o maior município tanto em extensão territorial quanto em população, do Estado de Rondônia.

Com uma área de 34.068,50 km ² é maior que os Estados de Sergipe e Alagoas.

Foi oficializada em 2 de outubro de 1914, criada por desbravadores por volta de 1907, durante a construção da Estrada de Ferro.

Em plena floresta Amazônica e inserida na maior bacia hidrográfica do globo, onde os rios governam a vida dos homens, Porto Velho fica nas barrancas da margem direita do Rio Madeira, o maior afluente da margem direita do Rio Amazonas.

Sua história atual e moderna começa com a descoberta da cassiterita (minério de estanho), no velhos seringais no final dos anos 50, e de ouro do Rio Madeira, mas principalmente com a decisão do governo federal no final dos anos 70, de abrir nova fronteira agrícola no então Território Federal de Rondônia, como meio de ocupar e desenvolver aquela região segundo os princípios de segurança nacional vigentes, além de aliviar as tensões fundiárias principalmente nos Estados do Sul, por meio da transferência de grandes contingentes populacionais para o novo "Eldorado".

Quase um milhão de pessoas migrou para Rondônia, e Porto Velho evoluiu rapidamente de 90.000 para 300.000 habitantes.

Mulheres para um lado, homens para o outro

Por ser pequena, a igreja não comporta todo o pessoal do projeto e mais os irmãos que lá residem por isso o primeiro passo foi alugar uma outra casa onde somente os homens ficariam.

Num calor quase insuportável iniciaram as atividades dando ênfase à RE.

O Jornal Alto Madeira um dos mais fervorosos críticos à Igreja de Unificação em 1981 fica na principal praça de Porto Velho, por isso, o diretor Jair achou melhor que ninguém fizesse ponto ali para dar testemunho e a exemplo de Boa Vista a prioridade eram as casas.

-Falem abertamente quem somos e o que fazemos, para que não haja transtornos.

Também como em Boa Vista, muitos batiam suas portas na cara, proferindo insultos e ameaçando. No entanto a maioria além de atender sem cerimônia, ofereciam água, vendo o sofrimento do pessoal, naquele sol e calor intensos.

Um dos irmãos (Marcelo) resolveu inovar pedindo ao pastor que o deixasse levar um quadro negro, para as praças mais distantes do centro.

-Minha ideia é que nessas praças, demos uma pequena introdução, e façamos a inscrição dos interessados para as palestras ali mesmo. O que o senhor acha?

-A ideia é boa e tudo o que contribua para o bom desenvolvimento do projeto será bem-vindo. Você tem a minha autorização, só não se arrisquem na praça do jornal.

Assim, ele e Renato, munidos de quadro negro, caixas de giz e fichas de inscrição iniciavam seu trabalho numa praça escolhida a olho.

Enquanto Marcelo dava introdução, Renato se encarregava de preencher as fichas com o nome das pessoas interessadas.

Era uma introdução rápida, mas que prendia o ouvinte.

No dia seguinte eles invertiam as posições.

No decorrer dos dias os resultados iam aparecendo, com muitas pessoas tendo curiosidade ou mesmo interesse em participar das palestras.

Entrevista com o Jornal Alto Madeira

Se o resultado era bom para a igreja o mesmo não se podia dizer dos líderes religiosos e dos políticos da cidade.

Para eles isso não era nada bom, pois, já estavam se sentindo incomodados.

No dia 8 de outubro, enquanto Renato coordenava uma palestra, chegaram alguns repórteres do Alto Madeira.

Foram entrando no quintal que não tinha muro e já se dirigiam para a entrada da casa quando Renato os interpelou.

-Estamos no meio de uma palestra e prefiro que vocês façam suas perguntas diretamente a mim, disse ele.

Mesmo sabendo que o que falasse sairia distorcido no jornal, Renato foi respondendo às perguntas capciosas.

Depois pediram para tirar algumas fotos no interior da casa onde havia algumas irmãs e foram embora.

Marta uma convidada de Renato achou a palestra interessante e precisava arranjar um tempo para participar do seminário de sete dias porque trabalhava em uma loja movimentada no centro da cidade.

No dia seguinte no jornal a frase: "Líder Moon está de volta a Porto Velho, praticando sua lavagem cerebral". Ao lado da frase a foto de Renato sendo entrevistado.

Dentro do jornal a matéria completa com tudo que Renato não havia dito na entrevista e fotos das irmãs mostrando-as de uma maneira que parecessem dopadas.

(E olhem que naquela época ainda nem existia o Photo Shop).

Reunião em frente à casa do Reverendo Moon

Numa outra matéria um padre declarava em uma de suas missas que o povo tomasse cuidado.

-Devemos nos organizar para tirá-los daqui novamente, disse ele aos fiéis.

Haviam até colocado pessoas para investigar os passos dos membros da igreja, por isso a ordem era que agora não se desse mais nenhum tipo de testemunho nas praças.

-Vão para as vilas distantes do centro, não queremos e nem devemos colocar tudo a perder durante nossa estadia aqui, procurem despistar o máximo possível qualquer suspeito.

No dia 12 de outubro, um Vereador e sua esposa foram visitar o pastor William.

Eram amigos e a esposa (Ana), professora universitária na cidade, já havia inclusive participado do seminário de sete dias em Manaus.

Considerava-se um membro externo e embora não tivesse tempo por causa de suas funções na Universidade de dedicar-se a igreja, sabia muito bem o que acontecia lá dentro, ficando indignada com o jornal e principalmente com a ridícula ideia do padre de organizar o povo contra a igreja, falando agora em uma passeata em frente a ela.

Enquanto conversava, um grupo de jovens entrou no quintal.

Todos esperavam o pior quando Ana interferiu:

-Não se preocupem, são meus alunos da Universidade e não farão nada.

Levantou-se e foi falar com eles, que na verdade só queriam conhecer melhor a igreja.

-Só sabemos o que a senhora nos conta, e o que lemos no jornal Tribuna Universitária que eles publicam e que a senhora nos envia, disse um deles.

O pastor se encarregou de dar uma pequena introdução sobre o Princípio Divino afirmando que como o Novo Testamento, que foi escrito para substituir o Antigo Testamento, o Princípio Divino se colocava na posição do Novíssimo Testamento buscando colocar as coisas mais às claras, desvendando as parábolas e mistérios do Novo Testamento, por entender que os tempos eram outros e o ser humano diferente de 2000 anos atrás, tinha mais capacidade de entender as coisas.

Em uma pincelada explicou porque nos planos de Deus, a morte de Jesus não estava prevista e por isso todos buscam até hoje a salvação através das inúmeras igrejas existentes no mundo inteiro, e que o papel da Igreja de Unificação é justamente esse, unir todas elas num único pensamento e uma única busca pela salvação (Árvore da Vida).

Alguns jovens questionavam as palavras do pastor, porém sem críticas ou ofensas no vocabulário, talvez em respeito à professora que lá se encontrava, mas via-se nitidamente que eles não concordavam com uma única palavra.

Não concordavam, mas também não se posicionavam contra, por achar que cada um tinha o direito de acreditar no que melhor lhe aprouvesse.

Quando foram embora Ana comentou com o pastor que pelo menos aquele grupo não faria parte da tal passeata.

A mangueira salvadora

À noite a rádio local transmitia uma entrevista com o padre que alertava sobre o "perigo" que o reverendo Moon trazia para a sociedade, convocando mais uma vez a população para se reunirem diante da "casa do Moon", como ele havia batizado.

    A igreja como foi dito, era pequena e à entrada uma enorme mangueira escondia quase que totalmente sua frente, o que aliviava sobremaneira o calor dentro da casa.

A mangueira estava prestes a ter uma serventia bem maior do que apenas amenizar o calor.

Na tarde do dia seguinte 13 de outubro após retornarem da rua, os rapazes passaram na casa alugada para um merecido banho, e em seguida dirigiram-se para a igreja, para jantarem e orarem.

Ao se aproximarem, notaram algumas pessoas se aglomerando pelas imediações.

Logo em seguida viram também a Polícia Civil se posicionar ali por perto.

Eram 19h00 quando os primeiros baderneiros começaram a gritar "Fora Moon! Não queremos você em nossa cidade".

A chuva de pedras

Mais tarde já com a rua tomada de gente começaram a chover pedras de todos os lados.

Firme, a mangueira recebia as pedras defendendo a casa evitando danos maiores.

Os rapazes que estavam na casa saíram junto com o pastor e o diretor Jair, pelos fundos, escalando um muro baixo, e saindo no quintal de um vizinho.

Dali correram para outras ruas, desaparecendo na pouca iluminação dos postes.

Naquela tarde, as irmãs junto com Mercedes haviam ido para a casa de Ana, levando consigo todos os objetos de valor da casa.

O pastor não sabia que dimensão aquilo poderia tomar e preferiu não esperar para ver. Com as irmãs a salvo, era um problema a menos para ele resolver.

A polícia começou a dar voz de prisão a todos os que ali se encontravam fazendo com que a situação ficasse mais ou menos controlada.

Na madrugada todos voltavam para dentro da igreja, mas, ninguém conseguiu dormir.

Renato começou a pensar em Marisa, nos filhos em seus pais.

-Será que isso por que estamos passando aqui vale a pena. Todo esse sofrimento e sacrifício, o risco de perder a vida nesse lugar tão distante e estranho?

Seu pensamento agora estava nos apóstolos de Jesus que após sua morte, acabaram impiedosamente perseguidos, tendo suas casas seus templos e tudo que se relacionasse com o cristianismo, destruídos, e muitas vidas tiradas.

Apesar de tudo, esse mesmo cristianismo perseverou se expandiu e sua semente germinou.

Então com um sorriso, Renato concluiu:

-Sim, vale a pena. Também estamos plantando a semente. A semente do Novíssimo Testamento do reverendo Moon.

Pela manhã as notícias dadas na rádio informavam sobre o ocorrido, alertando aos moonies que à noite eles voltariam em maior número.

Mesmo assim, os rapazes saíram para a RE. As irmãs continuavam na casa da professora Ana e a ordem era para que permanecessem lá.

Nas casas todos ou haviam lido o jornal ou ouvido a radio por isso a maioria nem sequer abriam suas portas e outros quando o faziam era para insultar.

Mais tarde todos sem nenhum resultado positivo voltavam para a igreja apenas para pegar o resto das coisas que tinham ficando lá e levaram para a outra casa que felizmente ainda não estava associada à igreja do reverendo Moon e na visão dos vizinhos eram apenas mais um grupo de estudantes universitários, dos tantos que existiam por lá.

Para que essa relação continuasse assim, o grupo fazia um enorme malabarismo para chegar a ela dando voltas às vezes em três ou quatro quarteirões e nunca juntos, para não chamarem a atenção.

Já começava a escurecer quando voltaram para a igreja. Grupos iam surgindo de todos os lados enchendo em pouco tempo toda a frente da igreja.

Desta vez ninguém fugiu pelos fundos e o diretor Jair pediu que todos se misturassem aos baderneiros.

A turma da universidade chegou junto com a professora para dar apoio, mas o pastor pediu para que não se envolvessem:

-O projeto vai embora daqui a uns dias, mas vocês ficarão e as consequências podem não ser nada boas.

Em poucos minutos chegava o causador de toda aquela balbúrdia: O padre.

Uma linda oração proferida por uma boca hipócrita

Ana ainda tentou conversar com ele e demovê-lo daquela ideia absurda, porém, ele estava irredutível.

Para fazer média pediu calma ao seu pessoal dizendo que "Violência só atrai violência", e que as pedras que eles jogassem poderiam voltar contra eles em dobro.

Quem pudesse ler nas entrelinhas daquele falatório todo, podia entender o que ele estava insinuando: "Acabem logo com eles antes que revidem".

Depois se uniu a todos, pedindo que rezassem um Pai Nosso.

No meio deles, os adeptos do reverendo Moon podiam sentir a hipocrisia em cada sentença daquela maravilhosa oração que Jesus ensinou, e que não merecia sair de uma boca tão hipócrita como a do padre.

Até que as pessoas e até mesmo a polícia (que até aquela hora não havia chegado), não entendesse a pregação da igreja era perdoável, mas o padre que como todos os outros padres das igrejas do mundo inteiro que conheciam os dogmas da Igreja de Unificação e sabiam exatamente qual era sua proposta, perseguir e tentar humilhar os membros era incompreensível e inaceitável.

Depois da oração ele retirou-se deixando a igreja à mercê dos vândalos.

Assim teve início a noite mais dramática na vida dos membros do I.O.W.C.

Pelo menos para aqueles que como Renato não tinham sofrido o revés de 81.

Fisicamente não tinham sofrido qualquer dano, mas o fato espiritual estava abalado e era o que contava naquele momento, pois aquela situação não deixava qualquer perspectiva quanto uma possível continuidade e resultado positivo do trabalho em Porto Velho.

Quem iria querer participar de uma conferência em um local visado por baderneiros e praticamente destruída?

Dormindo com Carapanãs

Durante dois dias o grupo ficou dentro da igreja consertando telhado, móveis e vidraças, além dos estragos dos telhados vizinhos, que ficaram por conta da igreja obviamente.

No terceiro dia o diretor pediu que todos voltassem à ativa, e já que haviam ficado famosos liberou para que dessem testemunho na "Praça do Jornal".

Como era previsto, ninguém queria se arriscar a ter um envolvimento com aquele grupo estranho e sendo o resultado totalmente negativo, foi preferível ficar mesmo dentro da igreja, treinando conferência e rezando até que se completasse o tempo, pois, dias antes o diretor havia ligado para o Presidente em São Paulo explicando a situação pedindo autorização para encurtar a estadia, porém este foi taxativo:

-Mesmo que vocês fiquem apenas dentro da igreja ainda assim têm que cumprir o tempo determinado; estudem, rezem pelas pessoas que os perseguem, mas, cumpram o prazo.

Era isso que estavam fazendo agora.

As vezes saíam em dois ao anoitecer pelas ruas mal iluminadas só para esticar as canelas como se diz.

Ficavam até tarde nas praças no meio dos mosquitos (carapanã) como eles chamam lá.

De positivo mesmo somente alguns seminaristas que lá no início antes da malfadada entrevista com o jornal haviam iniciado e terminado o seminário de sete dias com alguns aceitando ajudar o pastor na sua caminhada.

Nem Marta que era a esperança de Renato, quis saber da igreja.

Muito pouco, para quem acreditava, poder realizar ali um excelente trabalho.

Finalmente o Presidente dava o aval para que saíssem da cidade.

De volta à Manaus e o famoso encontro das águas

Renato havia recebido uma carta de dona Gisa. As notícias haviam chegado à Uberaba e tanto ela como seu Carlos estavam apreensivos, assim como os pais e parentes dos outros irmãos e irmãs.

Ana e seu esposo vereador acompanharam o grupo até a rodoviária junto com o pastor e depois das despedidas ficaram aguardando o ônibus que os levaria a Manaus.

Renato aproveitou a longa espera para ligar para seu Carlos. Quando conseguiu falar, procurou acalmá-los dizendo que estava tudo bem e já estavam saindo de lá.

-Depois envio uma carta explicando tudo ok? Completou ele.

Outros irmãos aproveitaram para fazer o mesmo com os seus.

Em seguida o ônibus chegou e às 12h00 daquele 20 de outubro todos chegavam à balsa que os atravessaria até Manaus.

Almoçaram em um restaurante ali perto enquanto a balsa não chegava.

O semblante de todos estava mais tranquilo por causa da distância em que se encontravam do centro e não havia mais perigo de serem agredidos.

Por volta das 14h00 a balsa chegou e naquela uma hora de travessia, todos puderam ver mais nitidamente o encontro entre os rios Solimões e o Negro.

Já em Manaus entraram novamente no ônibus e foram para o depósito da Empresa Andorinha onde já de comum acordo com os donos iriam passar a noite.

O motivo de ficarem ali era porque estava tendo um seminário para professores universitários na igreja e não havia espaço para ficarem.

Enquanto os rapazes cuidavam da limpeza do local, as irmãs preparavam a janta.

Depois de um merecido banho em um belo jantar, foram assistir a uma partida de futebol na TV, que haviam comprado ainda em Manaus, junto com uma filmadora (felizmente nada disso fora roubado durante a invasão em Porto Velho).

Mais tarde após a oração foram dormir e pela primeira vez depois de tantos dias conseguiam ter uma noite tranquila.

No dia 21 o diretor Jair saiu para comprar as passagens para Belém e Renato pediu a ele que enviasse um telegrama para seu filho Eduardo que estava fazendo aniversário naquele dia.

Renato tentou se comunicar com seus filhos espirituais, mas não conseguiu.

Às 18h00 daquele mesmo dia, todos se dirigiram ao barco da Enasa que faria a travessia para Belém e às 19h45 o pastor Bernardo, aproveitando uma folga no seminário foi se despedir do grupo.

Renato aproveitou para deixar um bilhete para que ele entregasse aos seus filhos espirituais.

Pontualmente às 20h00 o barco zarpou.

Uma viagem fantástica pelo Rio Amazonas

Foram quatro noites e quatro dias viajando pela imensidão do rio Amazonas.

Cada um com suas redes compradas anteriormente armavam-nas em seus respectivos lugares (seriam sua cama durante toda a travessia).

Misturados ao restante dos passageiros, que traziam entre outras coisas, animais de criação e enormes malas, os membros só se lamentavam por causa do intenso cheiro de cigarro e das gracinhas que alguns dirigiam às irmãs, porém eram seres humanos e viviam as suas vidas, como já se dizia na própria igreja "Quem não conhece a lei não está sujeito a ela" e por isso estranhavam quando o grupo se reunia todas as manhãs e todas as noites no mesmo horário para rezar e cantar os hinos da igreja e sempre um curioso ou outro queria saber quem eram.

O diretor Jair havia proibido que se falasse sobre a igreja, pois estavam apenas viajando e não praticando a RE, mas permitiu que se desse os endereços das igrejas de Belém e de Manaus.

Renato e um dos irmãos se dispuseram a fazer vigília durante toda a viajem.

No dia 22 passaram por Itacoatiara, Jurity e Parintins onde o barco pegou uma carga de juta e alguns passageiros, depois passaram por Óbidos.

Já no dia 23 passaram por Santarém e em frente a cidade há o encontro entre o Amazonas e o Tapajós.

     Ali desceram em terra firme e por volta das 10h00 embarcaram novamente acompanhando a faixa do Tapajós que é mais escura e adiante vai se afunilando até que o Amazonas tome conta.

Era o segundo dia de viajem e em alguns trechos via-se as duas margens do rio, em outros apenas uma margem e em outros ainda nenhuma margem, tão extensa era sua largura.

O barco entrou por um canal estreito e foi rio adentro até chegar na cidade de Monte Alegre, para pegar mais alguma carga e passageiros, depois retornou até sair ao largo novamente.

Populações ribeirinhas vinham com suas canoas bem próximo do barco onde as pessoas jogavam alimentos e roupas acondicionadas em sacos plásticos que eles habilmente recolhiam com seus remos.

De cima do barco o diretor Jair filmava tudo.

O rosto de todos da equipe estava radiante. Podia-se ver a alegria que estavam sentindo com aquela viajem, e os problemas de Porto Velho iam aos poucos ficando para trás.

Ainda no dia 23 passaram por Prainha.

Renato continuava junto com o irmão a fazer vigília e se encarregava de acordar o restante do pessoal às 5h00 para a oração coletiva.

Depois do café os dois tentavam descansar um pouco, mas, a adrenalina daquela viagem maravilhosa não os deixava dormir e preferiam acompanhar tudo.

No dia 24 passavam por Almerim, Porto de Moz, Gurupá, Antonio Lemos e Breves.

O diretor reuniu todo o grupo falando da confiança que já tinha em algumas pessoas da equipe e a preocupação com outras, sem citar nomes.

Nesse meio tempo passavam pela baia de Curralinho e em seguida pela baia de Marajó com sua ilha ao fundo e os búfalos às suas margens.

Revendo os filhos espirituais

No dia 25 entravam na baia de Guajará chegando a Belém onde se dirigiram à Alfândega para as vistorias necessárias e as vacinas que deveriam tomar.

Ficaram até o dia 27 com o trabalho de RM para repor os gastos do projeto até ali, visto que em Porto Velho não haviam conseguido resultado algum.

Às 19h30 daquele dia já no jumbão partiam em direção à Brasília.

O pessoal havia dado um presente ao pastor Cardoso que agradeceu emocionado.

Naqueles dois dias em que lá ficaram Renato pode abraçar seus filhos espirituais e até sair com eles para a RM.

Sentia-se gratificado por isso, mas sem demonstrar orgulho, pois esse sentimento não fazia parte do dicionário da igreja.

Imperatriz - A Sibéria brasileira

Já a caminho passaram por Açailândia no Maranhão e em seguida entravam em Imperatriz onde novamente foram a casa dos pais de Flavio.

Agora sim tinham tempo de conhecer um pouco da cidade, pois, ficariam até o anoitecer.

Sem perda de tempo, tomaram um rápido café e foram para a RM.

A história política de Imperatriz é marcada por conturbações e tragédias. O município esteve sob intervenção durante 15 anos ininterruptos.

Além disso a cidade carrega sobre si o peso do descaso do governo do Estado desde o seu início, pois, por estar distante da Capital, Imperatriz sempre se viu marginalizada pelos governos maranhenses e por muito tempo foi chamada de "Sibéria Maranhense".

Em 1924 a Vila tornou-se cidade.

Atualmente, Imperatriz tem menos de 10% do seu território original e é o maior centro de abastecimento regional de prestação de serviços, influindo fortemente na economia do Norte, e, de todo o Estado do Maranhão.

Seu clima é tropical, quente e seco no verão e úmido no inverno, com temperatura máxima em julho de 33,9º e mínima em agosto de 20,6º.

Por volta de 19h00 partiam em direção a Brasília, passando novamente por Anápolis.

A nova Igreja de Brasília

A igreja de Brasília estava agora em outro local. Mais ampla com diversos dormitórios e uma grande área verde.

O motivo da nova aquisição era a necessidade em receber e acomodar as pessoas para os seminários de sete, vinte e um e quarenta dias, realizados com líderes políticos, religiosos e professores universitários.

A igreja não podia ser acusada de se omitir perante essas grandes figuras priorizando apenas os menos favorecidos.

Jesus não pregou só para o pobre, mas foi em busca dos líderes e senhores da lei também.

O que se ensinava ao pobre era o mesmo que era passado aos medalhões. Essa era a atitude da igreja.

Claro está que para os "grandes" esse ensinamento era mais calcado na realidade da situação mundial, coisa que os menos afortunados não entenderiam, mas o conteúdo bíblico era o mesmo e querer fazer diferente era como contar uma historinha infantil a um adulto e vice e versa.

Assim como a igreja de Brasília, São Paulo, Curitiba, Rio de Janeiro e outras capitais, estavam se moldando e se preparando para enfrentar grandes desafios.

Renato procurou por Lílian, mas ela havia ido com o pastor e outros recém membros internos, para São Paulo, participar do projeto MFT.

O grupo ficou até 23h00 e depois foi embora.

O diretor Jair pediu a Renato que fizesse vigília enquanto os motoristas Tiago e Maurício se revezavam no volante.

Às 3h25 entravam em Minas passando por Araguari.

Revendo Marli

Chegaram a Uberlândia e pararam na igreja para fazer a Cerimônia de Inclinação junto com o diretor Marcio e Marli que ficou feliz em rever Renato sem nenhum arranhão.

Como nas outras igrejas a de Uberlândia também ficara sabendo dos acontecimentos em Porto Velho.

De lá o grupo seguiu para Uberaba e foi para casa dos parentes de uma das irmãs onde tomaram lanche.

Enquanto isso Renato foi ver sua sogra, porém, ela não se encontrava, tinha ido a São Paulo.

Conversou com o sogro que ainda não se conformava com as idas e vindas de dona Marina para São Paulo, Belo Horizonte e Uberlândia.

-Ela não para em casa um dia sequer.

-E assim mesmo a vida de um adepto do reverendo Moon seu Jaime. Se a gente for parar para pensar no que fazer acaba não fazendo nada, respondeu Renato. Veja meu exemplo, em menos de um ano já estive por mais cidades do que a maioria dos viajantes que existem por aí.

-Vocês são uns loucos mesmo.

-Por um lado essas viagens sem um paradeiro fixo, faz com que a gente não construa nada palpável, mas por outro é interessante porque conhecemos novas culturas. Além do mais esse é o trabalho da igreja, levar a palavra de Deus através da evangelização ao maior número de pessoas possível e nos lugares mais distantes do Brasil. E não somos apenas nós da Igreja de Unificação que fazemos isto, outras igrejas, evangélicas, e católicas também enviam seus missionários para lugares distantes.

-É, mas eu preferia toda minha família aqui comigo.

Renato cortou aquela conversa dizendo que iria ver seus pais.

Dona Gisa e seu Carlos também não estavam em Uberaba, tinham ido à Santos.

Ao anoitecer todos entraram no ônibus e por volta de 21h30 estavam em frente à Sede da igreja.

Renato encontrou com dona Marina que havia ido buscar material de restauração para o pessoal de Uberaba.

Conversaram sobre os acontecimentos e o assunto claro só podia ser sobre Porto Velho, embora ela já soubesse de tudo, pois, as igrejas se comunicam através de telefonemas e relatórios enviados entre si e, também, para o reverendo Moon.

É ele quem dá a palavra final sobre todas as decisões.

Foi por isso que o grupo que em Porto Velho, ainda não tinha completado o prazo de um mês na cidade, teve que esperar mesmo correndo grandes riscos.

Havia a necessidade de que se aguardasse sua posição quanto a saírem ou continuarem o trabalho sem resultado nenhum.

Dona Marina falou também sobre o trabalho em Uberaba que estava bastante desenvolvido e que o senhor Mauricio havia se tornado um líder nas decisões, já que ela estava constantemente viajando para Belo Horizonte e São Paulo.

Marisa também estava forte em seu trabalho participando do MFT e viajando pelas cidades de Minas.

Eduardo e Vinícius estavam bem.

Eduardo agora com sete anos já entendia mais ou menos o trabalho da mãe e do pai e Vinícius ainda com dois anos, ainda não sabia o que acontecia ao seu redor, mas já estava falando direitinho, inclusive quando se referia ao pai dizia patô Renato (pastor Renato).

Pediu a dona Marina que cuidasse bem dos seus filhos espirituais em Uberaba, pois ele na medida do possível estava fazendo a sua parte, assim como Marisa.

Mudança no itinerário do I.O.W.C.

O I.O.W.C. ficou uma semana em São Paulo e depois disso foi determinado que os três grupos saíssem pelos Estados apenas para fazer a restauração material RM.

O grupo de Renato que havia ido para o Centro Oeste e Norte, tinha agora o Sul como destino. O grupo do Nordeste foi para o Norte e Centro Oeste e o do Sul para o Nordeste.

Curitiba - A Metrópole progressista

Aos 0h45 do dia 8 de novembro de 1983, partiam no Jumbão em direção à Curitiba, passando por diversas cidades até pararem em frente à igreja da pastora Ivete.

Antigo pouso dos tropeiros que levavam gado desde o Rio Grande do Sul até São Paulo e Minas Gerais, Curitiba tornou-se em três séculos uma metrópole progressista com elevado padrão de qualidade à sua população.

Sem ter atrativos naturais a cidade construiu seu próprio cartão postal e transformou-se num polo turístico.

Ópera de Arame, Pedreira Paulo Leminski, inúmeros parques, Jardim Botânico, a Universidade do Meio Ambiente toda construída em madeira e muitos outros locais agradáveis.

Seu premiado sistema de transporte copiado no Brasil e mundo a fora, com suas estações tubo, ciclovias que atravessam a cidade e os ônibus biarticulados, dão a Curitiba um ar futurista.

Encravada 934 metros acima do nível do mar, é a maior cidade serrana no Brasil e orgulho de sua gente.

Para os membros do I.O.W.C, que estavam ali no intuito da RM, com produtos que precisavam ser vendidos de porta em porta, porém, a cidade não se mostrava favorável, fazendo com que o grupo optasse por viajar para outras cidades como Paranaguá, São José dos Pinhais etc.

São José, agora totalmente diferente da cidade que Renato havia conhecido em 77. Mais moderna com muitas de suas calçadas transformadas em calçadão, um grande comércio e uma linda rodoviária, reflexo da boa administração do Governo do Estado.

Em Paranaguá por volta de 1h00 da manhã, Renato e mais três irmãos estenderam esteiras no gramado próximo à rodoviária e dormiram até os primeiros raios de sol bateram em seus rostos.

Levantaram e voltaram à rodoviária para se levarem e tomar um café.

Às 8h00 o dia já estava bastante quente, fazendo com que muitas pessoas se dirigissem à praia.

     Os moradores que os atendiam diziam que eles deviam ir para a festa do Rocio, que mais tarde foram descobrir tratar-se de Nossa Senhora do Rocio, padroeira da cidade.

A festa é muito bonita, com shows musicais, barracas coloridas que dão um toque especial à comemoração.

Ali os quatro expuseram seus quadrinhos na calçada em frente à igreja e até o final do dia, venderam tudo o que tinham levado.

Voltaram para Curitiba e dias depois partiam para Porto Alegre.

Porto Alegre - A terra sem males

Era o dia 16 de novembro de 1983.

No dia 17 por volta de 3h00 da manhã estavam na igreja do pastor Nelson.

O esquema de trabalho seria o mesmo apenas com a diferença e que não querendo cometer o mesmo erro de Curitiba, o diretor tratou de dividir o grupo em dois, deixando um na capital e cidades ao seu entorno e outro indo para o interior do Estado.

Renato ficou com o grupo da capital indo também para as cidades próximas como Esteio, Canoas além de Guaíba, cidade localizada na outra margem do Rio Guaíba.

Há pelo menos três mil anos, a região do grande lago já era habitada por caçadores nômades que deixaram seus vestígios em seis sítios ecológicos da região.

Conforme os historiadores, os indígenas tupis-guaranis chegaram à região, vindos da Amazônia em busca da mitológica "Terra Sem Males", dois mil anos atrás.

Eles exterminaram moradores locais como mais tarde seriam dizimados pelos homens brancos.

Os primeiros europeus a chegarem na região foram os beneficiários do sistema de concessão de sesmarias.

Foi assim que Jerônimo Ornellas se tornou dono de vastos campos próximos ao Guaíba em 1732.

Duas décadas depois quando os descampados do extremo sul se tornaram Meca das hordas de imigrantes, chegaram 60 casais portugueses vindos das ilhas de Açores.

A intenção era atingir a serra, mas eles acabaram erguendo cabanas cobertas de palha e permanecendo à margem do falso rio.

Por obra e graça dessa gente o povoado passou a ser conhecido por um nome de sonoridade romântica, Porto dos Casais. O romantismo, porém, limitou-se apenas ao nome.

Inexperientes e desamparados pelas autoridades brasileiras, os 340 desbravadores enfrentaram a fome e a doença.

Em 26 de março de 1772, data oficial do aniversário da cidade, a povoação foi reconhecida como uma nova freguesia e, passado um ano, seu nome mudou de São Francisco do Porto dos Casais para Nossa Senhora da Madre de Deus de Porto Alegre. Ainda em 1773 assumiu a condição de Capital, substituindo Viamão.

Nas cidades visitadas pelo I.O.W.C. a conversa era a mesma. Falta de dinheiro, resultado da galopante inflação que assolava o País.

Renato pediu ao pastor que o deixasse fazer um jejum de 3 dias para que ele continuasse forte em seu propósito e para que Deus olhasse por sua esposa e filhos já que a saudade que sentia deles era uma coisa que igreja nenhuma podia impedir.

Como já foi explicado anteriormente, existem 3 tipos de jejum: Pessoal, Familiar e Coletivo.

Sendo o propósito de Renato, familiar e individual o correto é que fizesse um jejum de 3 dias, porém, como o objetivo do projeto I.O.W.C. era a RM, o pastor achou melhor que ele não se aprofundasse em um jejum longo, permitindo que ele fizesse um jejum de 40 horas.

Após o trabalho nas cidades e, também, na bela Capital onde o grupo pode conhecer vários bairros bonitos e bem planejados com suas ruas arborizadas com pés de macieira, no dia 17 de dezembro novamente punham o pé na estrada agora com destino à Santa Catarina.

Florianópolis - O nome que os "Manezinhos da Ilha" detestam

Passaram primeiro por Criciúma onde às 5h00 da manhã todos em uma praça no centro começaram a preparar o material de restauração, os famosos quadrinhos colados em Eucatex com gravuras diversas.

Ficaram na cidade até 18h00 viajando em seguida para "Floripa" como é chamada por seus habitantes a Capital Florianópolis, nome aliás dado em "homenagem" ao Marechal Floriano Peixoto que em 25 de abril de 1894 mandou trucidar os filhos da cidade, entre mais de 179 personalidades políticas, estudantis e expoentes da intelectualidade embora o mesmo tentasse se isentar de culpa via defesa, imputando-a a Moreira César que era violento e sanguinário por natureza.

"Espera-se até hoje que a sensibilidade da nossa classe política, a que está afeta a responsabilidade legal de denominar nossos logradouros e cidades, resgate esta vexatória homenagem, sepultando e substituindo definitivamente o atual nome da capital catarinense".

A medida impõe-se não apenas para ratificar o erro histórico e resgatar o orgulho ferido, mas porque os homenageados deveriam ser os que tiveram suas vidas imoladas em defesa da liberdade e da autonomia, e não quem ordenou seus assassinatos.

A cidade é uma linda ilha com a melhor qualidade de vida do Brasil.

Colonizada por açorianos, é marcante a arquitetura de suas casas do período colonial. O povo acolhedor possui um sotaque bastante peculiar e são conhecidos como "Manezinhos da Ilha".

Para os propósitos do I.O.W.C., porém "Floripa" é uma cidade pequena mesmo porque os próprios membros da igreja passam semanalmente pelos mesmos lugares e com todo o tipo de material, desde lanchinho tipo Wafer, quadrinhos em Eucatex até quadros em metalogravura (aqueles cujas figuras tem um tom dourado ou prateado).

Por isso mesmo o diretor Jair dividiu a equipe em grupos e aqueles que no Rio Grande do Sul saíram para o interior, aqui ficariam na capital enquanto que o grupo do qual Renato fazia parte iria para o interior.

RM pelas cidades de Santa Catarina

Começaram por Itajaí cidade portuária de Santa Catarina, indo ao anoitecer para a cidade de Blumenau. Uma cidade linda com um grande histórico de tragédias advindas das fortes chuvas ocorridas no ano anterior.

O povo é muito hospitaleiro, e conversando com o Secretário de Turismo, Renato acabou conhecendo um pouco da cidade.

Blumenau chama a atenção pela beleza, pela prosperidade, qualidade de vida, limpeza e alegria.

Sua origem essencialmente germânica é encontrada por todos os lados seja na arquitetura típica onde as casas mantêm viva a memória de seus antepassados, seja na comida á base de carne de porco e frango.

O apego bastante forte ao trabalho e ao progresso fez com que grandes empresas surgissem na região, tendo seus produtos de cama, mesa, banho, malhas e cristais, comercializados nos quatro cantos do mundo.

A tradição germânica unida ao coração brasileiro faz do blumenauense um povo que sabe amar a vida como ninguém.

A Oktoberfest, a segunda maior festa do Chopp do mundo, recebe visitantes de todo o Brasil e do exterior.

O grupo passou também por Gaspar, Brusque e Joinville.

Nesta última, a população é composta em sua maioria de europeus, e, como em Blumenau e outras cidades citadas acima o povo é extremamente educado e comportado em sua maneira de vestir e de falar.

As moças com seus trajes elegantes fazem achar que realmente se está em outro país.

No dia 24 de dezembro todos voltavam à Florianópolis e no dia 25 faziam a Cerimônia de Inclinação.

Renato voltou seu pensamento para um ano antes quando ainda estava em Uberaba com a família, os sogros e todas as pessoas que conheceram a Igreja e a aceitaram.

Quanta coisa aconteceu depois disso.

Agora estava ali, longe, porém, feliz por sentir-se útil aos propósitos da Igreja na tentativa de construir um mundo melhor para as gerações futuras.

Naquele dia todos foram para a Praia da Armação onde ficaram até o anoitecer.

Depois retornaram e se prepararam para viajar.

Perdendo o rumo de casa

No caminho em direção ao Paraná passaram por cidades pequenas como Rio do Sul, Taió e outras cidades ainda menores, que por assim ser não traziam o resultado esperado em relação a RM, por isso o diretor Jair optou para que o grupo se concentrasse nessa ação a partir do Paraná, que ali na divisa com Santa Catarina tinha algumas cidades maiores.

A ideia era que também eles rumassem em direção a São Paulo para que tivessem tempo de chegar no dia 31 à Sede Central.

Iniciaram a viagem com destino a Ponta Grossa com o relógio marcando 23h55 do dia 27.

Inadvertidamente, porém, em um trevo em Florianópolis Tiago (motorista do Jumbão) acabou tomando a direção errada e tanto ele quanto Renato que estava lhe fazendo companhia durante a viagem (vigília), só foram se dar conta disso quando viram uma placa indicando a cidade de Tubarão, cidade em direção ao Rio Grande do Sul.

Sem acreditar no que estava acontecendo, Tiago parou em um posto apenas para se certificar do óbvio. Realmente estavam na direção errada.

Ainda teve que ouvir o riso zombeteiro do frentista.

Foram quase 160 km desperdiçados e isso fez com que os planos fossem mudados e Ponta Grossa saísse da rota iniciando a viagem com destino ao interior do Estado próximo ao Paraná passando por Porto União (SC) e União da Vitória (PR).

Já em União da Vitória Renato ligou para Belo Horizonte para falar com Marisa e os filhos e lhes desejar uma passagem de ano cheia de paz.

Marisa comunicou que seu Carlos havia ido ao Jornal da Manhã, periódico de Uberaba para acusar o reverendo Moon de ter sequestrado seu filho.

Renato estranhou o fato, pois, seu pai nunca havia se intrometido em suas ações e até estava aceitando seu trabalho depois da visita de Reinaldo e a sobrinha a Uberlândia.

Ligou para ele não para reclamar e sim para dizer que estava tudo bem e que ele e dona Gisa não se preocupassem. Desejou a eles um feliz ano novo.

Do outro lado da linha seu Carlos emocionado perguntou-lhe se iria com a família para Uberaba na virada do ano e então Renato entendeu o porquê de sua atitude.

Era tradição que o Natal, seus filhos passassem com quem eles quisessem, porém, o Ano Novo, Renato, Reinaldo e suas famílias tinham de estar juntos com ele.

Reinaldo devido ao trabalho na Baixada Santista há muito não fazia isso e Renato já caminhava para o segundo ano longe dele.

Numa atitude impensada prevendo que ficaria mais um ano sem os filhos, correu para o jornal na esperança de quem alguém soubesse do paradeiro de Renato.

Renato então respondeu que mesmo querendo estar em sua companhia, não poderia, pois, se encontrava distante, mas, que em pensamento estaria com eles.

Falou também com a mãe que lamentava sua ausência.

Naquele mesmo dia viajavam para Rio Negro por uma estrada muito ruim.

Incrível como cidades lindas tanto de Santa Catarina quanto Paraná pudessem ter estradas tão malconservadas naquela parte.

Rio Negro faz divisa com Mafra em Santa Catarina e as cidades são divididas por uma ponte sobre o rio do mesmo nome.

O grupo todo fez questão de tirar fotos com um pé em Santa Catarina e o outro no Paraná. Em seguida trabalharam nas duas cidades.

Passando por Registro e Iguape

Na noite do dia 30 rumaram com destino a São Paulo passando por Registro.

Prepararam o material e o diretor dividiu o grupo em dois, mandando o grupo em que se encontrava Renato, para Iguape.

Era a primeira vez que ele conhecida a cidade da qual ouvira falar por causa da Festa de Bom Jesus de Iguape realizada no dia 6 de agosto e que reúne milhares de turistas e devotos.

Mais tarde todos se reuniram e agora sim, tinham o destino da Sede Central sem paradas pelo caminho, mesmo porque não tinham tempo para tal.

Chegavam defronte à Igreja às 17h00 do dia 31 encontrando-a apinhada de gente com irmãos de todas as partes do Brasil entre elas os filhos espirituais do Projeto I.O.W.C.

A noite já com todos reunidos iniciou-se a Cerimônia de Inclinação onde em um sermão o Presidente falou do trabalho do I.O.W.C. agradecendo a Deus pela evolução dos membros durante a trajetória.

Falou também da tristeza de Deus ao ver que poucos são os que realmente conhecem o significado de um Natal e uma passagem de ano e que apesar das frases decoradas poucos são os que desejam de coração um Feliz Natal e um Ano Novo de Paz.

Preocupados apenas com o que vão ter na mesa para a ceia e na troca de presentes, fazem dessa data um verdadeiro comércio.

O dia 1° de janeiro foi reservado apenas para que todos se divertissem sem se preocupar com RM, RE, e no sítio no Riacho Grande todos puderam comemorar o ano que se iniciava.

Não haveria mais as longas viagens e o trabalho do I.O.W.C. seria modificado.

Os três ônibus agora serviriam para outros propósitos como o M.F.T. algo como o I.O.W.C. em menor escala.

O trabalho de Igreja no Lar e treinamento de Hapi-Ki-Do

Segundo o líder a providência de Deus para os três grupos agora, seria de aperfeiçoamento para as palestras de 7 dias e o trabalho de Igreja no Lar, trazendo com a experiência adquirida durante as viagens o maior número de pessoas para os seminários realizados no próprio sítio.

Também realizariam um treinamento de Hapi-Ki-Do, uma luta marcial que traduzindo, significa: Força, Espírito, União e Caminho.

Além disso, continuariam com a RM.

Em um relatório enviado pela Sede Central enviado pelo Presidente, o líder da Igreja no Brasil reverendo Kim dava conta de que o trabalho do I.O.W.C. havia sido gratificante com muitas pessoas assumindo a condição de membros internos e outras tantas como externas, além de simpatizantes de peso como médicos e professores universitários.

Com o dinheiro arrecadado pelo Projeto a Igreja conseguia comprar a tão sonhada casa no bairro do Ipiranga.

Com relatório tão positivo, todos os participantes do projeto esqueciam de vez os inúmeros revezes pelos quais haviam passado.

A boa e a má notícia

Era o dia 2 de janeiro de 1984 e o líder da Igreja chamou Renato e mais dois irmãos, comunicando-os que se preparassem porque em breve receberiam a benção.

Renato se emocionou com a notícia, pois, todo o seu trabalho e também o trabalho de sua esposa estava sendo recompensado mais rápido do que podiam imaginar.

Agora poderiam estar novamente juntos no amor verdadeiro de Deus, junto com seus filhos, e dos filhos que certamente ainda teriam.

Marisa com certeza também estava vibrando com a notícia.

Dias depois Renato foi interrompido em seu treinamento de Hapi-Ki-Do, por um estranho recado:

-O Presidente pede que você vá imediatamente à Sede Central, informou o irmão portador do recado.

Renato tomou um banho rápido e entrou no carro junto com o irmão.

No caminho ia pensando qual a notícia o Presidente daria a ele.

"Será que ele já vai me pedir para providenciar o passaporte para receber a benção".

Pouco depois estava na Igreja, diante do Presidente.

-Sente-se Renato, pois, a notícia que tenho para lhe dar não é nada agradável.

Renato engoliu em seco.

-Sua esposa não pertence mais a Igreja. Ela foi embora para a casa da família de um dos irmãos de Belo Horizonte, os dois abandonaram a Igreja.

Aquele talvez tenha sido o maior soco no estomago que Renato já recebera.

Maior que o da garota de Garça, e maior até que no dia em que foi desbancado do emprego do tio de Marisa.

Gaguejando, sem chão e sem entender exatamente o que acabara de ouvir sua primeira reação foi perguntar pelos filhos.

-Eles continuam na Igreja com sua sogra, mas, provavelmente ela irá buscá-los.

O coração de Renato parecia querer explodir e a vontade de chorar ficou presa na garganta quase sufocando.

-Acalme-se, esse sofrimento não vale a pena. Deus sabe o que faz, talvez não seja ela o melhor para a sua felicidade. Lembre-se que o reverendo Moon, sabe de todos sentimentos de seus membros e com certeza saberá qual a pessoa certa para você.

Diante de tudo aquilo, só restou a Renato voltar para o sítio. Preferiu ir de ônibus mesmo, pois, queria ficar só com seus pensamentos.

Ainda não havia engolido realmente aquela notícia e rezava para que tivesse sido um engano, um erro de informação.

Não era possível que depois de terem passado por tantos obstáculos com o objetivo de salvar o casamento, Marisa estivesse jogando tudo para o alto.

Já no sítio teria mais uma má notícia, aliás, uma péssima notícia.

O filho do reverendo Moon acabara de falecer vítima de um acidente de carro.

Renato sentiu-se mesquinho. Seu problema nem sequer se comparava ao sentimento de dor que estava no coração de um pai.

Não conseguiu chorar embora um grande aperto tomasse conta de seu peito.

Só foi desabafar no final da oração feita ao meio dia dedicada ao seu filho.

Os irmãos que estavam na sala se afastaram deixando-o só entendendo sua situação.

Bem mais tarde já aliviado, ligou para BH com algum fio de esperança de que aquilo realmente fosse um engano.

Sem engano, do outro lado da linha dona Marina confirmava o fato.

No dia 4 de janeiro todos retomavam os treinamentos de Hapi-Ki-Do e Renato procurou relaxar deixando os problemas um pouco de lado.

Ficou decidido que o treinamento seria das 6h00 ao meio dia e depois do almoço todos iriam para áreas determinadas pelo presidente, num trabalho de anticomunismo, distribuindo o Jornal Tribuna Universitária e procurando falar o mais abertamente possível às pessoas sobre os perigos do comunismo no Brasil.

As noites ficariam reservadas ao treinamento de conferência.

Fazendo vigília

Na esperança de que Marisa voltasse atrás e tentando contribuir para que isso acontecesse, Renato ofereceu uma cota de sacrifício.

Fortes rumores davam conta de que devido ao sucesso conseguido com a Igreja no Lar, trazendo inúmeras famílias para a igreja, aqueles "inconformados" estavam se reunindo para invadir e destruir o sítio.

Renato pediu autorização para que a partir daquela noite e todas as noites seguintes, fizesse vigília, durante um mês.

Um dos diretores administrativos do sítio consentiu desde que ele o fizesse em companhia de outro irmão.

-Tudo bem, eu concordo, mas o revezamento só será entre os irmãos, eu continuarei até completar os trinta dias.

Acordo firmado, Renato passava as noites no meio da escuridão, rodeado de mata espessa, andando por toda a extensão do sítio. Com ele o irmão que estivesse no plantão.

O local era propício a uma emboscada que graças a Deus nunca aconteceria.

Às 5h00 acordava todos e depois de um breve cochilo, levantava por volta de 7h00 para iniciar o dia.

Depois do café saia para a RM por cidades próximas. São Bernardo, Ribeirão Pires, Mauá, Santo André e São Caetano cidades que por serem próximas permitiam que ele retornasse para acompanhar os estudos e se preparar para a próxima vigília.

Revendo Reinaldo e a família

Numa dessas saídas acabou encontrando Reinaldo no Centro de Ribeirão Pires, e aceitou o convite para almoçar com ele.

Reviu Lia e os sobrinhos que a tanto não via.

Passou o dia todo em sua casa, jogando bola, e jogando conversa fora. Fazia tempo que não batia um bom papo com o irmão.

Reinaldo não acreditava que em tão curto espaço de tempo, o irmão tivesse estado em tantos lugares do País e que havia passado por poucas e boas principalmente em Porto Velho.

-Eu sabia de alguma coisa porque o pai me contava, mas não com esses detalhes, disse ele enquanto almoçavam.

Lia ficara boquiaberta com aquela história.

-Vocês são um bando de loucos, brincou ela.

-Somos sim, mas é uma loucura em busca de um mundo melhor. Valeu a pena cada minuto que passamos, retribuiu Renato com um sorriso intimamente triunfante.

O clima na casa estava tão agradável que quando Reinaldo perguntou sobre Marisa, Renato preferiu omitir a situação.

Cedo ou tarde ele saberia.

Por volta de 17h00 despediu-se de todos e reafirmou o convite feito ainda em Uberlândia para que eles fizessem o seminário de sete dias.

-Vai haver um seminário no início do mês, eu volto a entrar em contato.

Por causa da vigília e a RM, Renato acabou deixando o treinamento de Hapi-Ki-Do

Contato com os filhos

Segundo o presidente, sua preocupação a partir dos acontecimentos envolvendo Marisa, seria outra.

Conversando com uma das advogadas da igreja, esta, o aconselhou a ir o quanto antes a Belo Horizonte, para definir sua situação, pois, havia a suspeita de que Marisa poderia buscar seus filhos.

Assim o presidente permitiu que ele fizesse a RM em prol de sua viagem.

-Você vai á Decolar e apanha o material necessário para a RM, depois que fizer um bom dinheiro você paga a loja e começa a comprar a vista com o lucro que obtiver nas vendas, com isso vai fazendo um caixa para você também.

Isso com certeza irá te ajudar nas situações que ainda estão por vir em sua vida.

Decolar era uma loja que a igreja mantinha e que fornecia materiais diversos para os membros na prática da RM.

Com certeza o presidente estava se referindo a uma possível saída de Renato como missionário em alguma cidade.

Renato passou a trabalhar para si e já no primeiro dia em Santo André conseguiu o dinheiro para pagar o que devia na loja, sobrando um pouco para novas compras.

Assim começou a aprender a administrar seu próprio negócio e embora ainda não soubesse isso o ajudaria em sua futura caminhada.

Graças à experiência adquirida em Uberaba e durante a trajetória no I.O.W.C. estava se saindo muito bem.

Já estava guardando o dinheiro da viagem.

No dia 29 de janeiro de 84 a pastora de BH veio à São Paulo com dona Marina e trazia com ela Eduardo e Vinícius.

Sua vinda bem como a dos demais pastores se dava em razão de uma convocação para um sermão com o líder da Igreja na Coréia do Sul.

Porta voz do reverendo Moon, ele trazia importantes mudanças já a partir daquele ano.

Após o sermão houve uma festa de confraternização e Renato aproveitou para conversar com dona Marina.

Queria saber o que realmente havia acontecido com sua filha e se não havia uma maneira de consertar aquilo.

-Sem chance filho. (ela o chamava assim por que era sua mãe espiritual, afinal fora ela que lá no ano de 77 lhe fizera o convite para conhecer a igreja).

Não há outra solução, a não ser a separação.

-Estou me preparando para ir o mais breve possível a BH. Quero resolver isso de uma vez por todas.

-Seus filhos vieram com a pastora e estão na casa de minha cunhada, disse ela. Amanhã você poderá vê-los.

-Pelo menos isso, disse ele suspirando e com o coração acelerado. Já fazia algum tempo que tinha se separado dos meninos e estava ansioso para vê-los.

A pastora se aproximou dos dois e disse que aproveitando que estava em São Paulo, levaria as crianças ao dentista da família e que Renato poderia encontrá-los lá.

Por volta das 8h00 de posse do endereço foi ao consultório dentário.

Uma alegria imensa tomou conta dele. A sua frente estavam seus pequeninos.

Não conseguiu conter as lágrimas e correu abraçá-los.

-Como vocês cresceram meninos disse. Eduardo já estava com sete anos e Vinicius faria quatro em fevereiro.

Pediu permissão ao presidente para que pudesse passar o dia com eles, no que foi prontamente atendido.

Saiu com eles e dona Marina para passarem a tarde no Museu Ipiranga onde estenderam uma toalha no jardim e saborearam algumas guloseimas que ela havia levado.

Deu-se conta de que teria de levá-los à Sede Central onde a pastora os esperava, e voltar para o sítio para fazer a vigília.

Na Sede, despediu-se deles já com saudade. Naquela noite mesmo eles voltariam para BH.

Após completar os trinta dias de vigília dormindo menos de três horas por dia, longe de se sentir enfraquecido e cansado, Renato estava mais forte do que nunca.

Como nos jejuns, quando o corpo se acostuma a não receber alimento, assim também acontece com as vigílias. 

Já com uma boa quantia guardada para a viagem e para manter-se durante sua estada em Belo Horizonte, Renato partia em 1º de fevereiro de 84.