PARTE SEIS

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Um emprego melhor

André, um amigo da loja que havia se demitido para gerenciar uma concessionária, convidou-o para trabalhar com ele no almoxarifado onde além do serviço normal do setor, ficaria responsável pela elaboração de mapas de produtividade dos funcionários.

O salário seria quase triplicado e seu patrão não tinha condições de cobri-lo, optando por liberá-lo para tristeza de Karen que via seu amigo se afastar.

Já no dia seguinte se apresentou aos donos da concessionária e iniciou seu trabalho.

André morava com a esposa em um dos poucos prédios existentes na cidade. Tinham vindo do Rio de Janeiro, por uma transferência dela que trabalhava em um Banco.

André já vinha por indicação de um amigo da cidade, empregado na loja onde Renato trabalhava, e sua aproximação com ele, devia-se ao fato de que sendo do Rio de Janeiro, e ele de Santos tinham afinidade por serem ambos de cidades litorâneas com modos de falar e agir parecidos.

Um dia ao saírem da concessionária, André o convidou para tomar uma cerveja em sua casa, pois, tinha umas ideias para melhorar o desempenho dos funcionários e queria ouvir sua opinião.

Outra namorada

Ao chegarem ao prédio Renato se deparou com uma garota linda que sorriu para ele.

Ao entrarem no apartamento Renato perguntou quem era a garota.

-É a Joana. Trabalha para o senhor Flavio e a esposa no apartamento aqui da frente. Sua família é da roça e ela mora aqui com o casal.

Renato havia prometido não se envolver mais, porém, dentro dele mesmo com tudo dando certo em sua vida, ainda faltava alguma coisa. Não era homem de ficar muito tempo sem o carinho de uma mulher.

Na terceira visita resolveu se aproximar dela.

Assim, descobriu que seus pais moravam em um sítio de café em uma cidadezinha chamada Bom Jesus do Galho afastada a alguns quilômetros dali e que precisando estudar e trabalhar, acabou conseguindo aquele emprego, onde podia passar a semana toda, indo para a casa somente no domingo. Estava com dezoito anos.

Renato contou também um pouco de sua vida. Gostava de deixar claro a todas as mulheres com quem se envolvia que tinha um filho e era separado.

Não demorou uma semana para começarem a namorar.

-Tú não sossega teu facho mesmo hein Renato, brincou dona Gisa.

Joana se mostrava uma garota simples e inexperiente em matéria de sexo, além de virgem por isso Renato respeitando essa sua condição procurava não se aprofundar em seus carinhos.

Não sabia o que poderia surgir daquele namoro, e não queria prejudicá-la.

O casal tinha uma grande confiança nele a ponto de deixá-lo sozinho com ela no apartamento sempre que saiam para as noitadas no clube da cidade.

Quando se encontravam sozinhos, ela ligava o aparelho de som e colocava músicas suaves para ouvirem, servindo uma bebida que o patrão tinha em seu barzinho. Depois, sentava-se no sofá ao seu lado e namoravam, sem segundas intenções.

Sentia-se bem com ela, pois lhe trazia uma paz no tumulto em que tinha se transformado sua vida naqueles últimos anos.

Conheceu seus pais, onde um dia a convite de ambos, foi com sua família, participar da festa de aniversário de um dos seus irmãos.

Seus pais se encantaram com o local e com a atenção dada a eles a outros convidados.

Agora dona Gisa e seu Carlos também estavam tranquilos, por causa de sua paz de espírito.

Tudo estava indo bem em sua vida, tinha um bom emprego (coisa rara em uma cidade pequena) e uma garota linda e simples.

Já falavam em se casar e Renato ia começar a mexer com a papelada para conseguir sua separação definitiva.

A reconciliação e uma difícil decisão

Porém... mais uma vez o destino colocaria suas garras em cima dele.

Numa manhã, estava ele e seu Carlos se preparando para trabalhar quando alguém bate palmas no portão.

Ao atender, um senhor diz a ele que tem uma pessoa no seu taxi que deseja falar com Renato.

-Sou eu, mas quem quer falar comigo a essa hora da manhã.

Estranhando, Renato dirige-se ao carro.

Seu coração gela, quando de dentro dele sai Marisa.

-O que você está fazendo aqui? Pergunta sem acreditar no que está vendo.

-Preciso conversar com você, posso dispensar o motorista.

-Hein? Ah, sim, claro. Venha, vamos entrar, responde Renato aturdido e sem muita certeza.

Quando entram em casa, seu Carlos e dona Gisa ficam boquiabertos e sem ação.

É seu Carlos quem quebra o silêncio, convidando-a para sentar-se e tomar café.

-Que bom estou precisando mesmo, responde Marisa, sem conter o nervosismo.

-Renato, nós precisamos conversar.

-Tá, mas essa conversa vai ter que esperar porque já estou de saída para o trabalho.

Dona Gisa já com a pulga atrás da orelha, puxou Renato para o quarto.

-Será que ela veio buscar meu neto, pergunta aflita.

-Não sei mãe, mas não se preocupe. Isso não vai acontecer. Fica com ela aí que na hora do almoço eu vou ver o que ela tem a dizer, está bem?

Na hora do almoço, Renato preferiu ligar para que ela descesse e o encontrasse na loja.

Queria que a conversa fosse entre eles apenas, pois já sabia mais ou menos qual seria o assunto, e, não queria preocupar os pais.

Foram a um restaurante próximo e enquanto almoçavam ele perguntou:

-Muito bem, Marisa o que você tem a me dizer de tão importante que a fez sair de São Paulo, largando sua igreja para vir aqui?

-Pois é, eu não pertenço mais à igreja e estou aqui para te perguntar se você me dá uma segunda chance.

-Você só pode estar brincando, depois de um ano vem me procurar e propor uma reconciliação, como se eu estivesse esperando por isso, e não tivesse feito minha carruagem andar? Não, eu não posso te aceitar, pois já reformulei toda a minha vida, inclusive estou namorando sério e ia entrar em contato com você, para iniciarmos o processo de separação.

-Então eu não tenho nenhuma chance?

-Claro que não, o melhor a fazer é voltar para a casa dos teus pais.

-Não posso voltar para lá, não depois do que disse ao meu pai, por ele não ter aceito a igreja na época. Vou para qualquer lugar menos para a casa dele.

Marisa voltou para casa e Renato para o trabalho.

Naquela noite deixou que ela dormisse no quarto com Eduardo e foi para o sofá.

No dia seguinte combinou com ela que se encontrassem na loja á tarde para comprar sua passagem de volta.

No caminho para o trabalho, contou ao pai sobre a conversa que tiveram.

-Pai, o senhor acha que eu devo jogar tudo para o alto e aceitá-la de volta?

-Ah filho, esse assunto apenas você e seu coração podem responder. Nem eu nem sua mãe podemos dar palpite, pois se dissermos que sim, você deve dar uma chance a ela, e as coisas não saírem de acordo, vamos nos sentir culpados.

Por outro lado, se dissermos não você pode achar que deveria ter tentado. Lembre-se apenas que no meio de tudo isso está o Eduardo.

Passou o dia inteirinho pensando no que fazer.

Aceitar implicaria em abdicar da chance de ser feliz novamente com outra pessoa no caso sua namorada Joana.

Não aceitar, significaria mandá-la sabe Deus para onde.

Como o pai havia dito, no meio de todo esse dilema, estava seu filho.

Á tarde Marisa foi encontrá-lo.

Estava triste, pois já havia se despedido do filho.

Já havia passado na rodoviária e comprado a passagem, vindo mesmo só para despedir-se dele.

Renato acompanhou-a até à rodoviária e no meio do caminho pediu sua passagem.

Para surpresa dela, rasgou-a ao meio.

-Mas, o que você está fazendo? Perguntou incrédula.

-Nem eu sei o que estou fazendo, mas você me pediu uma chance e eu estou te dando. Seu filho precisa da mãe ao seu lado.

Marisa jogou sua mala no chão e quis abraçá-lo, mas Renato se esquivou.

-Seu filho precisa de você, não eu. Respondeu secamente. Mas você terá que provar que merece minha confiança.

Sabia que estava sendo rude com ela, mas era assim que as coisas iriam funcionar.

Levou-a para casa, e comunicou sua decisão aos pais.

Naquela noite, foi para a casa da namorada, comunicando sua decisão.

Mas você vai morar com ela no mesmo teto? Perguntou meio abalada.

-Sim, mas não se preocupe, vou fazer isso apenas pelo meu filho. Não há a menor chance de voltarmos como marido e mulher

-Brevemente pedirei o divórcio e aí nós podemos casar.

-Bom, você é quem sabe, mas tome cuidado, respondeu abraçando-o com a estranha sensação e que o estava perdendo.

Infelizmente, a partir dali seu relacionamento com Joana já não seria mais o mesmo.

Sempre questionando sua fidelidade, chegou a colocá-lo na parede.

-Ou é ela ou eu.

Joana estava com a razão. Qual mulher gostaria de ver seu namorado, dividindo o mesmo teto com a ex-mulher?

Assim, mesmo a contragosto decidiram que o melhor seria se separarem, pois acima de tudo estava o bem-estar de Eduardo.

-Não serei eu a criar um ambiente contrário ao crescimento dele, disse ela chorando. Só te peço que nunca me apresente a ela. Não terei prazer nenhum em conhecê-la.

Com um aperto no coração, Renato saía para sempre de sua vida.

(Se pudéssemos saber nosso destino, jamais Renato trocaria um amor puro e simples, por uma incógnita, como se verá mais adiante).

Eduardo, acostumado com a avó, chamava-a de mãe, e Marisa de tia.

Dona Gisa sentia-se constrangida, e quando isso acontecia, ela imediatamente apontava para Marisa dizendo que ela era sua mãe.

Mas não tinha jeito e Marisa teria de se conformar com isso até que ele crescesse e começasse a entender melhor.

Renato continuava a dormir no sofá e por diversas vezes, Marisa, procurava se aproximar com segundas intenções, sendo sempre evitada por ele.

Tanto ele quanto os pais, viviam à sombra da dúvida de que ela na verdade havia se aproximado para pegar Eduardo e levá-lo para os pais em São Paulo voltando em seguida para a igreja.

Tinha de haver uma maneira de colocá-la à prova.

A chance surgiu algumas semanas depois quando Marisa disse estar com saudade dos pais.

-Será que eu posso levar o Eduardo comigo?

Consentir seria uma decisão de risco, mas essa era a hora certa para que ele dissipasse de uma vez por todas suas preocupações.

      Quando seu Carlos e dona Gisa, souberam de seu pedido e da decisão de Renato, entraram em pânico e não queriam que ela fosse de maneira nenhuma.

Aproveitando que Marisa havia saído para buscar pão, Renato conversou com os pais.

-Olhem. Eu sei que é uma decisão arriscada, mas é a oportunidade que temos para que as coisas voltem ao normal. Temos de passar por isso se quisermos viver em paz e sem medo.

Mesmo contrariados, acabaram aceitando por entender que Renato tinha razão.

No dia da viagem, Renato comunicou que a queria de volta com o filho em uma semana.

Ela nem desconfiava que estava passando por um teste.

A espera angustiante

Os dias que se seguiram foram da mais completa tristeza, sem a correria de Eduardo pela casa, acompanhando curioso o "bio", como ele chamava as formigas que passavam carregando suas folhinhas.

Os três quase nem se falavam, com medo de que o assunto viesse à tona e a agonia estava estampada em seus rostos.

Os amigos de seu Carlos comentavam sobre a coragem de Renato naquele teste de paciência, e até o velho e ranzinza Alfredo, mandou seu elogio em forma de pitaco, dizendo que ele finalmente estava fazendo algo que prestasse.

Gostar de sua filha definitivamente não prestou para ele.

As palavras dos amigos, longe de animarem seu Carlos, contribuíam para que ele se entristecesse ainda mais.

Dona Gisa, voltava a sentir as suas famosas dores de cabeça, e só vivia chorando pelos cantos da casa.

No quarto dia, seu Carlos resolveu quebrar o silêncio.

-Filho, você não acha que se precipitou?

-Não sei pai. Mas eu tinha de fazer isso, senão nunca poderia ter uma vida normal com ela novamente. Ela tem mais três dias para voltar, até lá não podemos tomar atitude nenhuma. Se ela não vier no dia marcado, podem ter certeza que vou buscar meu filho onde ele estiver.

Os três dias restantes foram de uma expectativa terrível. Mais ainda no último dia. As horas não passavam.

Um alívio no meio de tanta expectativa e a volta à normalidade

No dia marcado, pediu permissão ao patrão para ir à rodoviária.

-Vá meu amigo, e traga boas notícias, estarei torcendo por você.

O ônibus estacionou e cada pessoa que descia, era um aperto em seu coração.

De repente lá estava ela, com a figura miudinha de Eduardo segurando sua mão.

-Graças a Deus, disse baixinho Renato, sentindo que um enorme peso, acabava de sair de suas costas.

Abraçou e beijou o filho, e pela primeira vez desde que ela havia chegado, abraçou-a fortemente.

-Obrigado, disse.

-Obrigado por quê? Perguntou ela.

-Nada, não é nada, venham, vamos passar no meu serviço. Quero que alguém te veja.

Quando estavam diante de seu patrão, este cochichou:

-Hoje você não precisa mais trabalhar, vá para casa dar a boa nova aos seus pais.

Passaram no IBC, mas seu Carlos já tinha ido para casa.

Quando entraram em casa, Eduardo correu para abraçar os avós que não se continham de alegria.

-Gente, o que é toda essa festa? Primeiro foi Renato que me deu um abraço de urso, agora são vocês que estão até chorando.

-Não é nada. Só posso te dizer que agora sim, te consideramos novamente nossa nora. Respondeu seu Carlos.

Naquela noite, para sua surpresa, Renato foi para o quarto com ela e o filho.

-O que aconteceu para você ter mudado tanto assim seu comportamento em relação a mim?

-Lembra quando eu te disse que só poderíamos estar bem, se você me provasse que era digna de minha confiança? Aí está! Você provou.

Contou de seus temores em relação a sua ida a São Paulo, e que a tinha colocado em teste.

Nos dias que se seguiram, seu Carlos conseguiu um emprego para ela numa empresa terceirizada que prestava serviços nos escritórios do IBC.

Tempos depois, se mudavam para um sobrado com três quartos. Estava na hora de Eduardo ter seu próprio canto.

Um convite irrecusável

Era o final de 80 e mais uma vez o dedo implacável do destino iria ditar qual o futuro de Renato, agora na figura de seu sogro, que estava morando em Osasco.

Marisa lia um trecho da carta que havia recebido.

"Estou montando uma oficina mecânica aqui no bairro, e gostaria que Renato viesse trabalhar comigo. Como sou aposentado por invalidez, não posso abrir a firma em meu nome. Trabalho não vai faltar e ter algo em seu nome sempre foi seu sonho".

Marisa ficou radiante com a possibilidade de poder voltar para São Paulo, mas para seu Carlos e dona Gisa não havia motivo para alegria, pois mais uma vez seu filho estaria indo embora, e pior, levando Eduardo, e mais um bebê que já estava a caminho.

Pesando os prós e os contras, Renato conversando com os pais comentou que essa seria uma boa oportunidade de ser dono de seu próprio negócio.

Os pais acabaram concordando, pois sabiam que tinha razão.

No dia da viagem, dona Gisa chorava.

Dava pena ter que deixá-los, depois de tudo que haviam feito por ele, mas era no futuro de Eduardo principalmente, que Renato estava pensando.

Sem contar que Caratinga não oferecia grandes oportunidades de vida.

Já havia pedido demissão da concessionária e André ficara muito chateado com sua decisão.

-Agora que estávamos formando um grande time, você vai embora?

-Sinto muito meu amigo, mas trabalhar por conta própria é o desejo de todo mundo.

Sem argumentos, André o abraçou e desejou boa sorte, o mesmo fazendo seu patrão.

-Já sabe hein, se algo der errado estamos te esperando, disse ele.

Dona Luiza e Karen também estavam tristes com sua partida.

-Vocês podem ter certeza de que nunca vou esquecer sua solidariedade quando aqui chegamos.

-E eu nunca vou esquecer o que você fez pela minha filha.

Desejou toda a felicidade do mundo a elas e foi embora. Sentia-se feliz por poder ter sido um esteio na vida de Karen e torcia para que ela encontrasse um grande amor.

Ao chegarem a São Paulo, Eduardo estranhou todas aquelas luzes e carros juntos e seus pequenos olhos piscavam fascinados.

Chegaram à casa dos sogros por volta de 19h00, cansados e com fome.

Depois dos beijos e abraços, a prioridade era Eduardo, que havia acordado e precisava ser trocado.

Por volta de 23h00, quando as crianças já haviam ido dormir. Os sogros e o casal ficaram conversando sobre as novidades. Dona Marina continuava frequentando a Igreja.

-Já estou com a oficina montada. Só precisamos procurar um contador para abrirmos a firma, disse o sogro. Minha ideia, porém, é ir mais para o centro da cidade, onde o movimento é maior.

Na manhã seguinte, sogro e genro iam para a oficina onde haviam dois tornos mecânicos, uma máquina de solda, furadeira industrial, além de outros equipamentos e ferramentas diversas.

Os dias que se seguiram foram de poucos e pequenos serviços. Realmente precisavam de um local mais movimentado.

Finalmente contratavam um contador e a firma foi aberta em seu nome.

Tinha grandes planos para a oficina e embora tivesse uma certa noção de tornearia mecânica, por conta de um curso que fizera no Senai, sua intenção era a de ser uma espécie de relações públicas da oficina.

Para isso providenciaram cartões de visitas, e claro, Notas Fiscais, para que tudo fosse legalizado.

A morte de um ícone do rock'n'roll

Naqueles dias, uma tragédia abalaria o mundo da música.

Era o dia 8 de uma tarde quente de dezembro. Para qualquer fã dos Beatles, esse dia é uma data que traz péssimas lembranças, pois marca o assassinato de John Lennon em frente ao edifício Dakota, ao lado da mulher a quem tanto amava e na sua adorada New York.

Foi o dia do adeus a um homem que em seu repertório pregava a paz "All we are saying, is give peace a chance" (tudo que estamos dizendo é. dê uma chance a paz).

Um homem que se transforma do artista para o ativista social e se torna um perigo para o governo de Nixon que via como única saída sua deportação para resolver o problema.

Lennon e Yoko envolvem-se com John Sinclair, preso em 1969 por posse de maconha, e por dar dois cigarros a um agente do Departamento de Narcotráfico que estava disfarçado, sendo sentenciado a dez anos de prisão.

Sinclair era líder do White Party (grupo militante antirracista-contra cultural) de socialistas brancos com o objetivo de ajudar os Panteras Negras no Movimento dos Direitos Civis, liderado pelo Pastor Batista Martin Luther King que defendia a obtenção da igualdade racial por meios pacíficos.

John homenageia Sinclair com uma música (John Sinclair), gravada no álbum Sometime In New York City.

Yoko ao contrário da imagem feita pela imprensa e pelos fãs que viam nela o pivô da separação do quarteto, surge como fator agregador e importante nas decisões políticas do músico, com seus protestos pacíficos "Bed Peace", "Hair Peace".

Quando os Beatles se desfizeram, John teve mais chances de se mostrar contrário ao mundo bélico que o cercava, escrevendo músicas de protesto e criando amizades com polêmicos como Jerry Rubin, Bobby Seale e o próprio John Sinclair.

O governo tenta deportar John por posse de drogas e por causa do visto de permanência do músico no País, que estava vencido, mas, Leon Wilds, advogado de imigração o defende, e o processo se arrasta até que John finalmente consegue seu Green Card.

Nixon se reelege, renúncia e John continua com sua vida normal e agora está feliz pois se reconciliou com sua amada e curte seu filho Sean Lennon.

Ele sai junto com Yoko para irem ao estúdio encarar mais uma sessão de gravações.

O disco "Double Fantasy" havia sido lançado internacionalmente e as músicas "Starting Over" e "Woman" já se destacavam.

Ainda teria tempo para dar um autógrafo a Mark David Chapman, aparentemente um fã comum.

Não era. Chapman estava disposto a entrelaçar definitivamente sua vida à do ídolo.

Com uma certa dose de loucura, sangue frio e paciência, aguardou a volta de John para o edifício.

Já era noite quando o casal voltava para casa. Na calçada, Chapman dispara cinco vezes, atingindo Lennon.

O mestre de cerimônias de uma época, o ativista anárquico que queria lutar atrás de uma barricada de flores, estava morto vitimado pela violência que sempre condenara e contra a qual dedicou muito de seu trabalho e energia.

Chapman não fugiu. Calmamente esperou a polícia chegar enquanto lia "O Apanhador no Campo de Centeio".

O sonho de que algum dia o quarteto de Liverpool pudesse se reunir novamente, estava acabado.

Naquele dia, Renato junto com fãs do mundo inteiro chorou.

Sua vida tinha sido pontilhada principalmente pelas músicas dos Beatles e para ele, os ícones da década de 60 foram eles o Santos F.C. e Roberto Carlos.

Não havia como falar de Beatles sem se lembrar do Santos, Roberto Carlos e a Jovem Guarda.

Mas a vida tinha de continuar com ou sem Lennon.

Em menos de um mês, já havia mudado para o Rochedale, um bairro de Osasco mais próximo do centro e com um grande comércio.

De posse dos cartões de visita, passou a visitar as indústrias de Osasco e São Paulo.

Haviam contratado um empregado.

Acabou indo parar na empresa que o havia rejeitado quando saíra de Santos.

O gerente o reconheceu e ficou feliz por ele ter evoluído na vida e agora ter seu próprio negócio.

Renato explicou o que a sua oficina fazia conseguindo um ótimo contrato.

Quando voltou, não se continha de alegria e mostrou ao sogro e ao empregado o que havia conseguido.

-Bom agora não há mais necessidade de procurar outras firmas. Esse contrato vai nos tomar bastante tempo.

-Provavelmente teremos de comprar outro torno para que eu possa ajudar, completou Renato.

-Certo, mas vamos com calma, por enquanto os dois que temos são suficientes.

Uma crise do tamanho do Brasil e o nascimento do segundo filho

Porém o ano de 81 vinha com uma série de problemas econômicos no País.

Desemprego em massa, indústrias indo à falência, um caos generalizado.

A oficina estava mais ou menos segura, mas Renato sabia que mais dia menos dia, iriam sentir os efeitos da crise, pois a indústria com a qual haviam fechado o contrato, já havia reduzido consideravelmente o número de seus empregados e os serviços que mandavam eram escassos.

       Entra o mês de fevereiro e no dia 17 nasce no Hospital Pérola Bighton em São Paulo o segundo filho, Vinícius.

Renato havia mudado com a família para uma casa próxima da oficina.

Foi uma alegria quando Vinícius nasceu e mesmo com a crise já assolando a família, seu Jaime e Renato fizeram questão de dar uma grande festa para comemorar o acontecimento.

Semanas depois infelizmente, Vinícius cairia doente tendo de ser internado às pressas.

Os médicos não sabiam dizer a causa de sua doença e o menino, já nem tinha mais local em seu corpo para que pudesse ser aplicado soro.

Marisa, não conseguia mais dormir um dia sequer, e quando o fazia era aos sobressaltos, aguardando um triste telefonema.

Todos os dias, Renato e ela iam ao hospital, e quando se aproximavam do berço onde Vinícius estava o pobrezinho levantava as mãos com dificuldade como se pedisse: "Tirem-me daqui, por favor".

Os médicos chegaram a dar o caso como perdido, e um deles aproximando-se de Renato e Marisa comentou:

-Tudo o que a medicina podia fazer foi feito. Se vocês acreditam em algo fora dela, não tenham vergonha e se apeguem a isso.

Mesmo estando tanto tempo longe de qualquer tipo de religião, Renato fez intimamente uma promessa. Se Marisa o fez também ele não ficou sabendo, pois ela ainda vinha sobre o efeito do que aprendera na igreja do Rev. Moon.

Dias depois, Renato recebia uma ligação do hospital.

O coração ficou apertado, e ele já pensava no pior, mas uma espécie de voz dentro de si dizia: "Confia, tudo vai dar certo".

Do outro lado da linha a voz do médico soava como um lenitivo ao seu sofrimento.

-Tenho boas notícias, descobrimos o que estava causando a doença de seu filho, e já estamos combatendo. Em menos de doze horas ele já é outra criança.

Renato abraçou o sogro e o empregado e correu para casa para dar a boa notícia à Marisa.

Chorando de alegria, foram juntos com os sogros para o hospital.

O médico puxou o casal a um canto e disse:

-Não sei que promessa vocês fizeram, mas deu certo.

-Podemos levar o menino?

-Não, hoje ele ainda fica aqui, mas amanhã à tarde podem vir buscá-lo.

Na tarde seguinte, Vinícius finalmente estava em casa.

Teria ainda uma série de exames para fazer e medicamentos a tomar.

Aos poucos, Vinícius se recuperava e já era uma criança saudável.

Portas fechadas para as microempresas

A crise chegava enfim à oficina. Já não entrava dinheiro nem para manter os tornos em funcionamento e o primeiro a sentir esse efeito foi claro, o empregado.

Com o pouco dinheiro que ainda restava, seu Jaime resolveu montar uma máquina esquisita ao qual ele chamava de "depenadora de frango".

-Vi essas máquinas em uma revista que trazia até como fazer. Já que não temos encomendas de serviço, vamos tentar a sorte com ela.

Depois de montada, ele fez um teste, com um frango que havia comprado.

Mergulhado em água fervente, suas penas eram facilmente removidas, por pinos fixados num rolo que girava velozmente.

Quem o manuseasse só teria que tomar cuidado com as mãos, para que não esbarrassem nos pinos.

Renato admirava a força de vontade do sogro de vencer os revezes da vida.

No dia seguinte saiu para vender a tal máquina.

Com o dinheiro conseguido, comprou material para construir duas novas máquinas e assim as coisas iam sendo contornadas.

Mas, como tudo que surge como novidade, acaba se espalhando e assim em pouco tempo, fabriquetas de depenadora de frango, surgiam em cada esquina, fazendo com que a oficina de seu Jaime fosse apenas mais uma no meio de tantas.

Voltavam a estaca zero e o sogro já estava pedindo dinheiro emprestado à esposa, que tinha em sociedade com um irmão, um minimercado, para pagar o aluguel da oficina e mais o aluguel da casa de Renato, pois nem salário podia mais dar a ele.

Renato não estava gostando nada daquela situação, principalmente pelo fato de seu sogro estar pedindo dinheiro emprestado.

-Nós vamos acabar afundando cada vez mais. O melhor a fazer é admitir que estamos falidos e passar o ponto com todo o equipamento.

-Ah, ela é minha mulher, não vai ficar me cobrando nada.

-Não vai? Esqueceu que ela é apenas sócia de seu cunhado? Eu vou é tratar de arrumar um emprego antes que o barco afunde.

Seu Jaime ainda aguentou mais um mês, mas seguindo o conselho de Renato, colocou um anúncio no jornal.

Dois dias depois apareceu um interessado. Sem ao menos esperar por outras ofertas, fechou negócio.

Da oficina, só ficou com a máquina de solda e algumas ferramentas.

Depois de trocado o cheque, deu uma parte a Renato, que imediatamente pagou seu aluguel que já estava vencido.

Encerrava-se ali, o sonho te ter algo só seu.

Conseguiu um emprego como ajudante geral, mas, o salário era tão irrisório que mal dava para as despesas.

Seu Jaime o chamara de volta para morar com ele, mas Renato não aceitou.

Estava muito aborrecido com tudo aquilo, embora o sogro não fosse culpado, mas não queria cair na mesmice.

Se fosse para voltar para a casa de alguém, que fosse a de seus pais.

A ida para Uberaba no Triângulo Mineiro

Estava entrando em desespero, pois até o leite das crianças estava faltando, chegando mesmo a ir ao Lixão onde o Ceasa descarregava tudo o que não conseguia despachar para os mercados e acabavam se deteriorando e disputando com centenas de pessoas, conseguia levar para casa frutas e legumes já passados do tempo.

Nem os pais e nem os sogros souberam disso. Não queria preocupa-los,

Escreveu uma carta para os pais contando tudo, e dias depois recebia a resposta.

-Filho! Estamos de mudança para Uberaba lá no Triangulo Mineiro, porque vocês não vão para lá? Estamos com saudade de vocês e queremos conhecer nosso netinho. Devemos chegar dentro de um mês.

Na carta vinha o novo endereço.

Conseguiu contornar a situação, naquele mês, honrando suas dívidas.

A sogra sempre ajudava com alguma coisa, para que os netos não passassem necessidade mandando leite em pó, e o básico para a mesa do casal.

Sentia-se nessa obrigação, pois, embora não tivessem culpa da crise brasileira, foram eles que o fizeram sair de Caratinga para tentar a sorte.

Próximo de viajarem pediu ao sogro que se desfizesse do que tinha em sua casa. O que não era muita coisa.

Agora quem não estava contente era Marisa, pois novamente teria de deixar os pais, mas prometera que seguiria Renato onde quer que ele fosse.

No final do mês, viajavam para Uberaba, chegando por volta de 10h00.

Marisa levava Vinícius no colo, e ia agarrada à mão de Eduardo, enquanto Renato carregava duas pesadas malas.

Com o endereço na mão, entraram em um ônibus com destino ao bairro Amoroso Costa.

Uberaba é um município que fica na região do Triangulo Mineiro.

Segundo alguns autores, o topônimo "Uberaba", nome de um rio do município, origina-se do termo tupi "Y-bA povoação fundada em 1809, pelo sargento-mor comandante da Companhia de Ordenanças do Distrito do Julgado do Desemboque da Capitania de Goiás, Antonio Eustáquio da Silva e Oliveira. O Julgado do Desemboque correspondia ao atual Triangulo Mineiro menos a região de Araxá que foi elevada a julgado em 1811, desmembrada do Julgado do Desemboque.

A primeira casa de Uberaba, construída pelo sargento-mor Antonio Eustáquio, localizava-se na atual esquina da Praça Rui Barbosa com a Rua Artur Machado, do lado esquerdo de quem desce a rua Artur Machado.

Uberaba surgiu pela migração de geralistas, como eram chamados os habitantes da Minas Gerais na época do Brasil Colônia, os quais deixaram as já esgotadas regiões produtoras de ouro, porém fracas para a agricultura, da Capitania de Minas e de Goiás (Desemboque), em busca de terras férteis para se estabelecerem como agricultores e pecuaristas.

Em 22 de fevereiro 1836, pela lei número 28, Uberaba foi elevada à categoria de município, a Vila de Uberaba, desmembrando-se de Araxá.

Em 7 de janeiro de 1837, é instalada a Câmara Municipal, tomando posse os primeiros vereadores, tendo o capitão Domingos como seu primeiro presidente. Esta lei número 28 também extinguiu o julgado do Desemboque e o anexou ao município de Araxá.

Dentre alguns dos uberabenses ilustres está Chico Xavier.

       Por coincidência, ao chegarem defronte ao endereço, um caminhão estava descarregando a mudança de seu Carlos.

Seus pais ao mesmo tempo em que ficavam felizes, sentiram-se surpresos.

Não os estavam esperando por aqueles dias.

-Quase que vocês dão com a cara na porta, brincou seu Carlos.

Enquanto os móveis eram descarregados, dona Gisa, e Marisa se apressaram em levar as crianças para dentro, pois elas já estavam chorando de fome, e cansadas.

A casa era grande e pertencia ao IBC. Com 3 quartos, sala e cozinha, tinha um enorme quintal com diversas árvores frutíferas, como amoreira, cajueiro, laranjeira e outras.

A casa idêntica ao lado, era ocupada pelo encarregado do armazém, senhor Humberto, e o escritório e o armazém ficavam ao lado.

Seu Carlos e Renato aproveitaram para ir falar com o encarregado, conhecendo sua esposa e filhos.

Haviam trazido um berço que pertencia a Eduardo e que Renato havia deixado em Caratinga. Agora serviria para Vinícius.

Renato e Marisa dividiriam um colchão de solteiro, e Eduardo ficaria com um outro colchão.

-Depois compramos colchões e camas para todos, disse seu Carlos.

Ficaram pouco tempo na casa dos pais, pois queriam ter seu próprio canto.

Como Renato não conseguia emprego, Marisa fazia biscoitos recheados e ele vendia de porta em porta.

Com isso conseguiram alugar uma casinha, em um conjunto residencial, e alguns meses depois recebiam uma proposta de Humberto, encarregado do IBC, que precisava de alguém para tomar conta de sua casa que ficava em um bairro na área industrial de Uberaba, quase na saída da cidade.

Não pagariam aluguel e ele só queria mesmo era que tomassem conta da casa, para evitar que vândalos a destruíssem.

Poucos dias depois de já estarem instalados na nova casa, Renato conseguia um emprego como auxiliar de almoxarife em uma fábrica de curtume.

Agora tinha uma casa, um emprego e uma família numa cidade linda e gostosa de se morar.

Mais uma reviravolta

Para Marisa, porém, as coisas não estavam nada bem. Começava a sentir o peso de ter de cuidar de uma casa, marido e dois filhos. Somando isso e mais a vontade que tinha de trabalhar, e a saudade dos pais, começou a entrar em depressão.

Discutia com Renato por qualquer motivo, e várias vezes teve de recorrer à psicólogos, por entender que o problema estava nela.

Quando fazia isso, sentia-se mais leve, mais calma, e por uns dias permanecia assim, até que nova crise surgisse.

Aí ela ficava pior ainda do que antes.

A situação estava tão crítica que por diversas vezes cogitou-se em nova separação.

Renato já estava entrando em desespero, e faltava pouco para que entrasse também em depressão.

Precisa manter o casamento e ajudá-la, mas o que fazer.

Teve uma ideia que o abalou só de pensar.

O Evangelizador do reverendo Moon - II Parte

"E se nós voltássemos para a Igreja" pensou.

Sabia que mesmo com a separação carnal, (um dos dogmas da igreja), o que se primava eram os valores da família.

Na época em que lá esteve não conseguia entender justamente esse dogma, mas mesmo longe dela, sempre se pegava pensando naqueles ensinamentos.

"A separação é por tempo determinado, para que se possa fazer o caminho inverso de Adão e Eva".

Sempre ouvira isso nos sermões e cerimônias embora não atinasse ou não aceitasse aquilo.

Levou aquela ideia para Marisa, que naqueles dias estava mais calma depois de uma sessão com sua psicóloga.

-Você acha que vai dar certo? Perguntou-lhe.

-Se vai dar certo eu não sei, mas precisamos de ajuda, e não temos a quem recorrer. Podemos tentar. Se não der certo, saímos novamente.

Hostilidades e depredações

A perseguição à Igreja de Unificação, e a tudo que se relacionasse ao reverendo Moon, começou aqui no Brasil, precisamente no dia 2 de agosto de 1981 no primeiro de uma série de programas de televisão apresentados no Fantástico da TV Globo, sendo o programa conduzido de maneira a incriminar a igreja.

Imediatamente os membros começaram a receber telefonemas de pessoas que ameaçavam destruir as sedes da igreja em todo o Brasil.

Em 9 de agosto novamente o Fantástico apresentava um programa sobre a igreja, de forma hostil e com estórias de efeito dramático, causando profundo impacto emocional sobre a população brasileira.

No dia seguinte ao programa, começaram as violências contra os centros da igreja.

Em Belém do Pará jovens estudantes apedrejam o prédio da igreja, situada na Av. Braz de Aguiar, deixando o pastor e seus auxiliares, trancados por várias horas. Mais tarde os policiais chegaram e prenderam o pastor, deixando os agressores livres.

Em João Pessoa foi registrada violência também na Igreja da Rua Camilo de Holanda.

Em São Luiz, Maranhão, o chefe do DOPS fechou a igreja e proibiu os membros de voltarem ao centro, o mesmo ocorrendo em Recife.

Em Macapá, Amapá, o líder da igreja foi preso e ficou detido durante 21 dias, acusado de vadiagem.

Muitos artigos hostis começaram a ser publicados em todos os principais jornais do País como o Globo, Jornal do Brasil, O Dia, bem como em programas de rádio.

Em 16 de agosto foi ao ar o terceiro programa no Fantástico, extremamente agressivo à igreja, e depois disso a violência aumentou.

Os alvos agora eram as igrejas da Capital de São Paulo, Boa Vista, Brasília, Vitória, Cuiabá, Florianópolis, Curitiba, e todas as cidades que tivessem um núcleo da Igreja de Unificação, inclusive Uberaba.

Foi em meio a todos esses problemas e perseguições que Renato e Marisa resolveram voltar e tentar salvar seu casamento.

As críticas à igreja que começaram em 1981 ainda repercutiam no país e a igreja de Uberaba com certeza não havia ficado impune.

Procuraram no jornal local e lá encontraram o artigo: "Líder da seita Moon foge da cidade depois de ter sido acusado de lavagem cerebral, vítima das perseguições de munícipes e líderes religiosos".

Para Renato e Marisa, havia um exagero naquela matéria primeiro porque quem quer que fosse o missionário, este não era o líder da igreja, segundo que por mais crítica que fosse a situação, ele jamais fugiria, a não ser no caso de uma chamada da Sede Central (o que realmente aconteceu não só com ele, mas com todos os missionários e pastores no Brasil inteiro, como iriam descobrir mais tarde).

O missionário que lá estivera era já um velho conhecido deles, quando passaram pela primeira vez pela igreja.

Como ele já não se encontrava mais na cidade, Renato resolveu ligar para a sogra em Osasco, para que ela se informasse na Sede Central, se havia alguém responsável em outra cidade próxima.

Dias depois ela retornava a ligação dizendo que havia um missionário na cidade de Uberlândia, cidade distante 100 quilômetros de Uberaba, passando o número de seu telefone.

Um missionário de Uberlândia

Renato ligou para ele, falando de sua vontade de retornar à igreja.

Márcio (nome do missionário) ficou feliz com a notícia, dizendo que em todo o Triângulo Mineiro, somente ele e Paulo, (um membro interno), faziam parte da igreja, prometendo visitá-los.

Marcaram um encontro na casa de Renato e dias depois lá estava ele.

Trazia livros, e quadros em sua bagagem. Os livros eram para o casal e os quadros ele vinha vender na cidade.

Conversaram e Marcio informou que para retornarem à igreja era necessário que fizessem um novo seminário de sete dias porque muita coisa havia mudado desde que eles lá estiveram.

Seminário de sete dias em São Paulo

Falando com dona Marina em Osasco, combinaram de no dia em que houvesse o seminário eles iriam para lá com as crianças e as deixariam com ela.

Assim, dias depois viajavam e deixavam os meninos com dona Marina.

Seu Jaime mesmo contente por ter os netos em casa novamente, chamou a atenção de Renato.

-Vocês já vão se enfiar novamente naquela igreja? Eu não acredito.

Renato quis explicar o real motivo daquela decisão, mas calou-se. O sogro não ia entender.

No dia seguinte bem cedo, lá estavam eles, na porta da igreja.

Passaram-se os sete dias e eles voltavam para Uberaba.

A Igreja no Lar e o primeiro contato com as famílias

Conversaram com Marcio e expuseram tudo o que haviam aprendido, falando sobre um trabalho de Igreja no Lar, ou Lar Igreja que consistia em trabalhar as pessoas da comunidade, ouvindo seus problemas e tentando dar as soluções dentro do que ensinava a igreja.

Para isso, teriam que estar sempre nas casas dessas pessoas e o melhor modo era passar em suas portas diariamente.

Mas como fazer isso, sem ter um motivo concreto.

Marcio deu a ideia de que eles vendessem ovos nas casas.

-São fáceis de serem vendidos, e vocês estarão constantemente passando nas mesmas casas.

Da teoria à prática foi questão de apenas acertarem os detalhes.

Com um mapa da cidade, optaram por escolher um bairro.

Depois, foram comprar caixas de ovos, em uma granja próxima, onde os conseguiam por preço mais barato.

A ideia não era o lucro, e sim o contato com as famílias, por isso comprando mais barato, podiam também vender mais barato.

Esse trabalho ficou a cargo de Renato, pois Marisa tinha que cuidar das crianças.

Pediu demissão do curtume, e pôs mãos à obra.

Realmente a venda dos ovos era a maneira mais fácil de ele estar permanentemente em contato com o morador, porque quando ele terminava de fechar as ruas do bairro escolhido, automaticamente tinha de voltar à primeira rua, pois, os ovos com certeza, já tinham sido consumidos naquelas casas.

Assim, ele foi tomando contato com as pessoas, falando de seu trabalho, e o da igreja a qual ele estava representando.

Começou a ter conhecimento dos problemas das famílias e dentro do que aprendera, procurava (como um psicólogo), dar sugestões para um melhor relacionamento familiar.

Para que Marisa também tivesse contato com elas, revezavam os dias, e em pouco tempo ambos já eram conhecidos de todos.

A confiança era tanta que muitos, falavam de coisas íntimas que não revelavam para mais ninguém. (problemas de alcoolismo, traição, enfim, tudo o que aflige as pessoas em seu dia a dia).

Já era hora de falar um pouco mais sobre o que a igreja pregava, convidando-as para participarem de palestras de um dia que eles dariam em casa.

Renato tinha feito de um dos quartos, uma sala de reuniões, com quadro negro, e diversas cadeiras.

Quando teve um número razoável de pessoas, ligou para Márcio para que ele viesse dar a palestra.

Assim, os dias passavam, e mais e mais pessoas se interessavam por ovos, e pelas palestras.

Marisa não dava conta de fazer almoço para tantas pessoas. (elas tinham que ficar o dia todo para completarem todo o ensinamento de um dia, que a conferência exigia). Precisava urgentemente de alguém para ajudá-la e Marcio, já não tinha dias disponíveis em sua agenda para tantas palestras, pois tinha que dividi-las com Uberlândia.

Lá, também, um grande número de interessados, queria conhecer mais profundamente os ensinamentos da igreja e ele só contava com Paulo para ajudá-lo.

Renato precisava aprender com urgência a ser um bom palestrante.

A ida dos sogros para Uberaba

Por obra da mão de Deus, tempos depois, seu Jaime ligava para eles, comunicando à vontade e irem morar em Uberaba e pedia que eles procurassem uma casa urgentemente.

Dona Marina, mais taxativa, explicou o real motivo:

Seu mercado fora assaltado e os ladrões foram reconhecidos por seu filho, Mike, que teria sido ameaçado caso fosse à polícia.

Com o medo rondando eles preferiam ir embora dali o mais rápido possível.

Osasco estava se tornando uma cidade muito violenta, para os padrões da época.

Em pouco tempo, Renato conseguia uma bela e grande casa para eles.

Dona Marina já havia passado a sua parte da sociedade para o irmão que se recusava a largar o mercado, e com parte do dinheiro, seu Jaime foi para Uberaba, onde fechava contrato com a imobiliária, deixando pago um mês de aluguel, retornando em seguida para buscar a família e os móveis.

Dias depois, já estavam na casa. Junto com eles vinha dona Cida, mãe de dona Marina.

Sem perder tempo, Marisa, contou, sobre como estava o trabalho de Igreja no Lar, e falou das dificuldades que estavam passando para dar conta de tantos convidados.

-Eu vou ajudar vocês, quando os convidados vierem. O almoço fica por nossa conta, disse ela.

Renato nunca deixou de visitar seus pais, mas daí a pedir que sua mãe os ajudasse fazendo o almoço para os convidados, seria o cúmulo, mesmo porque, ela nunca participara de nada referente à igreja, e não iria entender, sem contar com seu Carlos que era avesso a qualquer coisa relacionada com qualquer igreja que fosse.

Por isso a vinda da sogra foi uma mão na roda, e assim, se as pessoas não eram fisgadas pelos ensinamentos dados durante a palestra, dona Marina os fisgava pelo estômago, com as comidas deliciosas que fazia.

Cada vez mais as pessoas se interessavam por aquele estranho ensinamento.

Acostumados às pregações de pastores e homilias da igreja católica, que não se aprofundavam tanto nos mistérios da Bíblia a não ser em algum curso bíblico específico, sentiam-se vazias e aquela igreja tinha a coragem de vir a público dizer que a morte de Jesus Cristo não estava nos planos de Deus e que só aconteceu porque João Batista falhou ao não o reconhecer como o verdadeiro Messias, mandando os dois discípulos perguntarem se ele era mesmo o esperado (Mateus 11-2,3).

Eram afirmações que apesar de contundentes, as deixavam mais completas e rapidamente aceitavam fazer o seminário de sete dias para melhor se esclarecerem.

Márcio costumava dizer depois que terminava essa parte àqueles que duvidavam daquela afirmação:

-Porque vocês acham que João Batista teve a pedido de Salomé, sua cabeça entregue em uma bandeja? Quando as pessoas falham em sua missão, Deus vai trabalhar com outras, deixando-as de lado, pois tem pressa em fazer com que seus filhos voltem para Si. Com João Batista foi pior, pois, houve toda aquela preparação no deserto, para que ele finalmente pudesse receber o Messias. Mas ele não acreditou e não aceitou o enviado, por isso seu fim foi trágico.

A casa de Renato já se tornava pequena para acomodar tantas pessoas que vinham fazer o seminário de um dia aos domingos.

O velho e bom Jaime já estava vendo a hora em que dona Marina, usasse sua enorme sala para esse fim.

-Só me falta agora esse pessoal invadir minha privacidade. Resmungou ele no ouvido de Renato.

Apesar de ranzinza, Renato sabia que seu sogro tinha um coração enorme e sempre acabava concordando com as decisões da esposa.

Seus temores foram concretizados e assim em um domingo, ao invés de irem para a casa de Renato, as pessoas foram para sua casa.

Havia umas vinte pessoas para assistir à palestra.

Os primeiros filhos espirituais

A cada dia Renato se convencia de que precisava treinar e treinar muito, como dar uma palestra de um dia, pois precisava liberar Marcio para que ele também pudesse cuidar de sua igreja em Uberlândia.

Revezava com Marisa, no trabalho de Igreja no Lar, e quando ficava em casa, sua missão era treinar.

Tinha como ouvintes seus filhos que obviamente por causa da idade ainda não entendiam nada.

Outra vítima de Renato era dona Cida que colocava seus ouvidos à sua disposição quando ele resolvia ir à casa da sogra, treinar.

Assim em pouco tempo, ele já dominava a primeira parte da palestra que abordava temas como: O Princípio da Criação, a natureza de Deus, seu caráter interno e forma externa, a Energia Primária Universal (EPU), a motivação de Deus para a criação do mundo, o mundo espiritual e o mundo físico, o sofrimento de Deus com a Queda do Homem (desobediência ao mandamento), e principalmente o porquê de Deus sendo onisciente e onipresente, não interferir para que o Homem não caísse em tentação assunto esse que era constantemente colocado em discussão pelos convidados.

A segunda parte muito mais complexa ficava ainda por conta de Marcio que quando estava livre lá em sua cidade, vinha complementá-la.

As coisas mais ou menos se dividiam entre os dois e davam certo.

A sociedade uberabense já comentava que o reverendo Moon estava novamente na cidade e o bispo já havia ido à televisão alertar o povo para que tomasse cuidado.

O Fogo Selvagem

Paralelamente ao trabalho de Igreja no Lar, Renato e Marisa resolveram trabalhar com o Hospital do Pênfigo.

Aqui um resumo da história do Hospital:

Dona Aparecida Conceição Ferreira, conhecida como Dona Cida, se projetou nacionalmente pela fundação do "Hospital do Fogo Selvagem", especializado no tratamento dos portadores do "Pênfigo Foliáceo" uma doença cujos sintomas se assemelham a labaredas que percorrem o corpo e deixam na pele verdadeiras marcas de queimadura. Dona Cida começou seu trabalho no ano de 1957, quando trabalhava como enfermeira no Isolamento da Santa Casa de Uberaba.

Como o tratamento do Pênfigo era difícil e dispendioso, o hospital acabou por suprimi-lo.

A abnegada servidora de Jesus não titubeou: levou os doentes para a sua própria casa. Pedindo esmolas nas vias públicas e recorrendo aos meios de comunicação, sobretudo com a ajuda dos jornalistas Moacir Jorge e Saulo Gomes, este, através da extinta TV Tupi, e contando com o irrestrito apoio de Chico Xavier, acabou por erguer o grande complexo hospitalar destinado ao tratamento da insidiosa enfermidade. Depois, com a alteração dos estatutos surgiu o "Lar da Caridade", que em determinado momento chegou a acolher trezentos enfermos e desamparados.

O trabalho de Renato e Marisa consistia em arrecadarem nas casas, saquinhos de leite, que reciclados no hospital, serviam como lençóis e roupas para os doentes.

Quando faziam isso procuravam frisar que era em nome da Igreja de Unificação.

Com isso as críticas do bispo eram balanceadas com os elogios da população que as ignorava comentando que se alguém se preocupava com o bem-estar de doentes, não podia ser tão ruim assim.

No final de 82, Márcio veio de Uberlândia com Paulo para participar do "Dia dos Filhos".

Durante o dia eles junto com Renato e Marisa, visitaram as famílias que já haviam participado do seminário de sete dias em Belo Horizonte, convidando-as para a Cerimônia de Inclinação na casa de dona Marina.

Aqueles que tinham ouvido somente a palestra de um dia, ainda não podiam participar e para eles Marcio deu um pequeno sermão, falando sobre passagens bíblicas e pedindo que não se impressionassem com as críticas e que se sentissem orgulhosos dos elogios que a Igreja estava recebendo.

À noite a família e os convidados (todos de branco) iniciavam a Cerimônia orando pelo mundo, pelo sucesso da igreja e pela saúde de seu líder reverendo Moon.

Depois Renato iniciou um sermão frisando sobre as críticas.

-Já estamos começando a incomodar aqueles que se dizem os donos da verdade. O ano que se inicia não será nada fácil, assim como não foi fácil a vida dos discípulos e apóstolos de Jesus que mesmo diante de tantas perseguições, persistiram na fé.